terça-feira, 8 de novembro de 2011

PIPOCAS DA VIDA...

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser 
milho para sempre. Assim acontece com a gente. 
As grandes transformações acontecem quando 
passamos pelo fogo. 

Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida 
inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza 
assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu 
jeito de ser é o melhor jeito de ser. 

Mas, de repente, vem o fogo. 
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que 
nunca imaginamos: a dor. 

Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um 
filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. 

Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, 
depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. 

Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! 
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a 
possibilidade da grande transformação também. 

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, 
lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora 
chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada 
em si mesma, ela não pode imaginar um destino 
diferente para si. Não pode imaginar a transformação 
que está sendo preparada para ela. A pipoca não 
imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso 
prévio, pelo poder do fogo a grande transformação 
acontece: BUM! 

E ela aparece como uma outra coisa completamente 
diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado. 
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca 
que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas 
que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. 
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa 
do que o jeito delas serem. 

A presunção e o medo são a dura casca do milho 
que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, 
já que ficarão duras a vida inteira. Não vão se 
transformar na flor branca, macia e nutritiva. 

Não vão dar alegria para ninguém. 


Extraído do livro O amor que acende a lua, de Rubem Alves.

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