sexta-feira, 25 de abril de 2014

27 abril 2014 – 2º Domingo da Páscoa – (Jo 20, 19-31)

“Nós vimos o Senhor!”
Evangelho: (Jo 20, 19-31)
(...) estando trancadas as portas do lugar onde estavam os discípulos, por medo dos judeus, Jesus chegou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos se alegraram ao ver o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. (...) Tomé, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor”. Mas ele respondeu: “Se eu não vir nas mãos os sinais dos cravos, e não puser o dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não acreditarei”. Oito dias depois, os discípulos estavam outra vez no mesmo lugar, e Tomé com eles. Jesus entrou com as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Depois disse a Tomé: “Põe aqui o dedo e olha minhas mãos, estende a mão e põe no meu lado, e não sejas incrédulo mas homem de fé”. Tomé respondeu-lhe: “Meu Senhor e meu Deus”. Jesus lhe disse: “Porque me viste, acreditaste. Felizes os que não viram e creram”(...).
COMENTÁRIO
A liturgia de hoje nos fala do encontro de Jesus com seus apóstolos no cenáculo. Longe do Mestre, os discípulos estavam cabisbaixos e totalmente desencorajados. Com suas portas trancadas, assustados, num clima de medo e insegurança. O texto de hoje, de uma maneira forte, nos fala sobre a fé na ressurreição de Jesus.
Essa verdade está tão longe do nosso entendimento humano que acaba trazendo dúvidas. No entanto, a dúvida pode ser proveitosa e salutar. Como Jesus disse, demoramos muito para entender, por isso a dúvida não deve ser motivo de vergonha, mas sim de preocupação. Precisamos estar atentos para não andarmos na contra mão do mundo.
Se milhares acreditam e nós não acreditamos, significa que devemos procurar respostas para nossas dúvidas. Quem sabe ler mais, estudar e orar mais. É melhor correr atrás da verdade, do que simplesmente ignorar o que dizem ou fazer de conta que acreditamos.
A dúvida não é uma doença incurável, ela é, até mesmo, importante quando nos obriga a sair a procura da verdade. Foi o que aconteceu com o apóstolo Tomé. Muitas vezes a nossa vida é marcada pela dúvida, pelo sofrimento e pela incerteza.
Assim também estavam os apóstolos. Logo após a morte de Jesus, eles se sentiam desprotegidos e ameaçados pelos chefes dos judeus. Por isso, ficaram trancados no cenáculo e cheios de medo.
Provavelmente, diante de qualquer ruído, seus corações disparavam. O batimento cardíaco aumentava, assim como, o desejo de sumir dali. Essas são as reações naturais ao sentir-se medo. A falta de fé traz insegurança. Mas, finalmente a angústia termina quando Jesus volta trazendo-lhes a paz, o conforto e a alegria.
É reconfortante sentir a presença de Jesus. Quando Ele chega, tudo se transforma. O medo e a tristeza dão lugar à segurança, à alegria e à paz. Por duas vezes Jesus saúda os discípulos, desejando-lhes a paz. Paz, um dom precioso de Deus, tão necessário em nossa sociedade ameaçada pela violência e pela incerteza.
Jesus é a Paz! Ele nos dá a sua paz e, dá também a missão de comunicar a esperança da ressurreição. Como seus seguidores nós precisamos testemunhar sua ressurreição, sua proposta de vida e seu Projeto de Salvação. O discípulo precisa sentir emoção e o coração acelerar. O batimento cardíaco tem que aumentar ao testemunhar o amor.
O testemunho do cristão só convence, quando feito com fé e alegria. Fé não é uma simples afirmação de verdades abstratas e teóricas, mas sim, o testemunho de uma vida vivida em profundidade. Tem que ser uma alegria que não ignora os sofrimentos, mas que está carregada de sinais concretos de vivência cristã. Viver o evangelho é viver a alegria da fé.
Tomé não acreditou no testemunho da sua comunidade. Quis ver para crer. No entanto, a comunidade continuou persistente e afirmando essa verdade. Repetia sempre e em altos brados que o Mestre estava vivo.
O mérito de Tomé está no fato dele jamais ter se afastado de sua comunidade e de não sair pelas esquinas à procura da verdade. E foi dentro dessa comunidade que Jesus se revelou a Tomé.
A comunidade ativa deve testemunhar a Boa Notícia, tem que gritar a Boa Nova. O mundo precisa conhecer a verdade. Jesus Cristo é a Verdade! A comunidade tem que ser missionária, pois é nela que recebemos, que aprimoramos e que aprofundamos a nossa fé. A comunidade unida é o maior testemunho da presença viva de Jesus.
Veja só que boa notícia para levarmos às nossas comunidades: Jesus, a Verdadeira Paz, caminha conosco. Por isso, jamais se sentirá inseguro, assustado e perdido quem de fato acreditar e seguir os seus passos.

Será que os outros me impedem de ser feliz?

Às vezes, não sabemos amar direito. 


Há alguns dias, ouvi uma dolorosa frase de uma mulher ao seu marido: "Eu já não preciso que você me faça feliz, só quero que você me permita sê-lo". De repente, em nossa vida, percebemos que queremos ser felizes. Lutamos por isso, fazemos projetos, planejamos nossa vida procurando o caminho para alcançar a felicidade. Buscamos que nos amem e que nossos sonhos se realizem. E acabamos exigindo da vida algo que ela não pode nos dar. 



Então, quando não conseguimos ser felizes, ficamos tristes. É por isso que, ao amar alguém, achamos que essa pessoa tem o dever de nos fazer felizes. Achamos que este é o único jeito, porque sozinhos não conseguimos. Exigimos que o outro nos faça felizes. Porém, mais tarde, quando o outro também não consegue nos fazer felizes, quando seu amor não nos sacia, vivemos insatisfeitos e nos sentimos tristes. 



E é nesse momento que podemos chegar a dizer coisas como a que aquela mulher disse ao seu esposo. Queremos que nos deixem em paz para poder ser felizes. Porque percebemos que não amamos direito e não conseguimos fazer feliz a pessoa a quem amamos. 



Mas querer que os outros nos deixem em paz para ser felizes não é o caminho. 



Defraudados, decepcionados com a vida, queremos que nos deixem serfelizes, que não nos atrapalhem. Só que este não é o verdadeiro amor. Porque um amor assim perde o seu fogo e nos torna egoístas, egocêntricos, pensando só no que nos falta. 



O verdadeiro amor não nos deixa em paz. Pelo contrário, ele carrega nossa vida, nos cura e nos salva. É o amor de Jesus. Esse amor sadio, esseamor que liberta e enaltece, é o amor que realmente quer nos fazerfelizes. Não somos felizes quando os outros nos deixam tranquilos, e sim quando buscamos fazê-los felizes, entregando o melhor de nós por eles. Porque o amor que entregamos transborda e nos enche de felicidade. 



No fundo do coração, desejamos um amor que sustente nossa vida, que nos ajude a carregar a nossa cruz. Olhemos para o amor de Jesus, um amor mais forte que o nosso, que não fica tropeçando como o nosso. Queremos receber esse amor de Jesus que nos sustenta, que nos torna plenos. 



Busquemos amar e entregar-nos sabendo que Deus olha com misericórdia e com carinho imenso para cada movimento nosso, cada tentativa, cada busca. Sejamos generosos no amor, confiantes. Deus vai cuidar do nosso coração. Ele só nos pede que amemos e confiemos. Confiar radicalmente, amar radicalmente. Completamente.



Padre Carlos Padilla

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Entenda o significado do beijo na Cruz na Sexta-feira Santa


Em todo o ano, existe somente um dia em que não se celebra a Santa Missa: a Sexta-Feira Santa. Ao invés da Missa temos uma celebração que se chama Funções da Sexta-feira da Paixão, que tem origem em uma tradição muito antiga da Igreja que já ocorria nos primeiros séculos, especialmente depois da inauguração da Basílica do Santo Sepulcro e do reencontro da Santa Cruz por parte de Santa Helena (ano 335 d.C.).

Esta celebração é dividida em três partes: a primeira é a leitura da Sagrada Escritura e a oração universal feita por todas as pessoas de todos os tempos; a segunda é a adoração da Santa Cruz e a terceira é a Comunhão Eucarística, juntas formam o memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor. Memorial não é apenas relembrar ou fazer memória dos fatos, é realmente celebrar agora, buscando fazer presente, atual, tudo aquilo que Deus realizou em outros tempos. Mergulhamos no tempo para nos encontrarmos com a graça de Deus no momento que operou a salvação e, ao retornarmos deste mergulho, a trazemos em nós.

Os cristãos peregrinos dos primeiros séculos a Jerusalém nos descrevem, através de seus diários que, em um certo momento desta celebração, a relíquia da Santa Cruz era exposta para adoração diante do Santo Sepulcro. Os cristãos, um a um, passavam diante dela reverenciando e beijando-a. Este momento é chamado deAdoração à Santa Cruz, que significa adorar a Jesus que foi pregado na cruz através do toque concreto que faziam naquele madeiro onde Jesus foi estendido e que foi banhado com seu sangue.

Em nosso mundo de hoje, falar da Adoração à Santa Cruz pode gerar confusão de significado, mas o que nós fazemos é venerar a Cruz e, enquanto a veneramos, temos nosso coração e nossa mente que ultrapassa aquele madeiro, ultrapassa o crufixo, ultrapassa mesmo o local onde estamos, até encontrar-se com Nosso Senhor pregado naquela cruz, dando a vida para nos salvar. Quando beijamos a cruz, não a beijamos por si mesma, a beijamos como quem beija o próprio rosto de Jesus, é a gratidão por tudo que Nosso Senhor realizou através da cruz. O mesmo gesto o padre realiza no início de cada Missa ao beijar o Altar. É um beijo que não pára ali, é beijar a face de Jesus. Por isso, não se adora o objeto. O objeto é um símbolo, ao reverênciá-lo mergulhamos em seu significado mais profundo, o fato que foi através da Cruz que fomos salvos.

Nós cristãos temos a consciência que Jesus não é apenas um personagem da história ou alguém enclausurado no passado acessível através da história somente. "Jesus está vivo!" Era o que gritava Pedro na manhã de Pentecostes e esse era o primeiro anúncio da Igreja. Jesus está vivo e atuante em nosso meio, a morte não O prendeu. A alegria de sabermos que, para além da dolorosa e pesada cruz colocada sobre os ombros de Jesus, arrastada por Ele em Jerusalém, na qual foi crucificado, que se torna o simbolo de sua presença e do amor de Deus, existe Vida, existe Ressurreição. Nossa vida pode se confundir com a cruz de Jesus em muitos momentos, mas diante dela temos a certeza que não estamos sós, que Jesus caminha conosco em nossa via sacra pessoal e, para além da dor, existe a salvação.

Ao beijar a Santa Cruz, podemos ter a plena certeza: Jesus não é simplesmente um mestre de como viver bem esta vida, como muitos se propõem, mas o Deus vivo e operante em nosso meio.
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sexta-feira, 11 de abril de 2014

13 abril 2014 – Domingo de Ramos – (Mt 21, 1-11)

“Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”
Evangelho: (Mt 21, 1-11)
(...)Jesus enviou dois discípulos, e lhes disse: “Ide ao povoado que está em frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada e, com ela, um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os para mim. Se vos disserem alguma coisa, respondei: ‘O Senhor precisa deles e logo os devolverá’”.(...) Os discípulos trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou em cima. Numerosa multidão estendia suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores e os espalhavam pelo chão. A multidão que ia na frente e os que seguiam atrás gritavam: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito quem vem em nome do Senhor, hosana nas alturas”. E, quando entrou em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou e perguntava: “Quem é este?” E a multidão respondia: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia”.
COMENTÁRIO
O Domingo de Ramos nos introduz na Semana da Paixão do Senhor. A Liturgia de hoje nos oferece dois evangelhos de Mateus; um para a bênção dos ramos (Mt 21,1-11) e outro para a Liturgia da Palavra (Mt 26,14-27.66). Para nossa meditação, vamos nos ater ao evangelho da bênção dos ramos que relata a entrada triunfal de Jesus em Belém.
Uma grande multidão se apresenta empunhando ramos de palmeira e de oliveira. Gritam hosanas e aclamam: “Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Filho de Davi!” Quando Jesus entrou em Jerusalém, a cidade ficou agitada e todos perguntavam: “Quem é este homem?” 
Jesus, ao contrário dos reis que andavam em carros de guerra, em imponentes cavalos entra em Jerusalém montado num jumentinho. Jesus é um Rei manso, humilde e pacífico. Mas, ao mesmo tempo, esse Rei é também forte e firme.
Jesus faz justiça devolvendo vida aos excluídos, humildes e necessitados. E o povo o reconhece como seu Rei, seu Salvador. Por isso, estende seus ramos e seus mantos à sua passagem.
Enquanto o povo gritava “Hosana!” - “Salva-nos!” os poderosos ficaram preocupados e agitados. A presença de Jesus é uma ameaça para aqueles que vivem às custas do suor do povo. A simples presença de Jesus já é motivo para sonharmos com a liberdade. Onde Jesus está presente, a opressão está ausente. 
As atividades libertadoras realizadas por aquele chamado de: o profeta Jesus de Nazaré da Galileia desafiam o poder opressor. A vinda do Rei-pobre exige opção, exige uma definição, ou o recusamos ou o aceitamos, não existe meio termo. Esse é o grande desafio. Ficar com o verdadeiro ou com o falso. Ficar com o antigo ou aceitar a Nova Aliança.
Jesus se molda ao nosso modo de ser. É como um sapato confortável e, ao mesmo tempo, é também como aquela pedrinha incômoda que aparece não sabemos de onde. Para estar com ele é preciso abrir mão do poder e assumir o serviço. É dificílima essa decisão, por isso ainda hoje essa dúvida nos incomoda.
Não é fácil aceitar a proposta do Salvador. Todos aguardavam um rei vingador e rodeado de soldados para exterminar os inimigos do povo. A decepção é geral, o Rei se apresenta exigente, sem armas e com propostas de mudanças.
Mudanças radicais que se trouxermos para os dias de hoje significam abrir mão dos grandes lucros e pensar mais seriamente nos desempregados, nos aposentados, nos idosos e menores abandonados. O Rei exige preocupação com os índios, com os enfermos, e com os preços abusivos dos remédios e impostos.
Todas essas mudanças exigem muito de cada um de nós. Exigem desprendimento e renúncia. Exigem humildade, solidariedade e amor ao próximo. Exigem adesão e muito cuidado para não repetirmos a mesma cena daquela época.
Aderir ao Cristo significa mudar e cuidar para não assumirmos a mesma postura daqueles a quem criticamos, e chamamos de assassinos. É bom lembrar que os mesmos que exaltaram Jesus, também o condenaram.
Mudar significa gritar a Boa Nova da presença de Deus entre nós. É recusar ou aceitá-lo. Quem não muda e não assume o seu compromisso batismal é como aquele que hoje estende o seu manto e grita “Hosana! Hosana!” e que alguns dias depois, lá está, no meio da multidão e gritando: “Crucifica-o! Crucifica-o!”

Semana Santa

O Domingo de Ramos marca o início da Semana Santa, que termina no Domingo da Páscoa. A partir daí começa um novo Ciclo na dinâmica de vida dos cristãos. A fé em Deus tem sustentação na realidade da Ressurreição de Jesus Cristo. Isto significa que Deus age na história e convoca a todos para defender a vida da natureza, especialmente a dignidade da pessoa humana.

Na Semana Santa Jesus Cristo é contemplado como Aquele que enfrenta a perseguição, a condenação, a paixão e a morte. É um despojamento da condição divina, tomando forma humana para elevar o ser humano à dignidade e possibilidade de encontro com o Senhor da vida. Os ramos são a exaltação daquele que entrega a vida no caminho da paixão e da cruz.

Há momentos em que as pessoas passam por períodos de prostração e desespero, sem ânimo para agir, necessitando de um processo de construção da esperança perdida. Elas devem contar com a manifestação amiga e solidária de Deus. Mas é necessário assumir a Semana Santa como momento de manifestação de fé e confiança naquele que é capaz de reconstruir a verdadeira vida.

É importante não se sentir desprotegido e desamparado por Deus. Assim sendo, é possível caminhar de cabeça erguida e com capacidade de superar todo tipo de incompreensão, de injúrias e de agressões. A Palavra Bíblica deve ser o alicerce para quem nela busca seu amparo e força para agir com coragem e muita confiança.

Viver a Semana Santa supõe entrar no clima que ela vem propor. Aí Jesus aparece como o Servo sofredor, abandonado pelos amigos mais próximos, e enfrenta os ultrajes sem perder de vista a fidelidade ao projeto divino, concretizado em sua missão. Foi traído e vendido como escravo, negado e condenado a morrer na cruz.

O caminho percorrido por Jesus denuncia todo tipo de poder envolvido com injustiça e voltado apenas para interesses pessoais ou de algum grupo particular. Isto significa que muitas pessoas são lesadas e injustiçadas por poderes escusos e ser temor de Deus.

Por: DOM PAULO MENDES PEIXOTO 
ARCEBISPO DE UBERABA - MG
 

sábado, 5 de abril de 2014

06 abril 2014 – 5º Domingo da Quaresma – (Jo 11, 1-45)

”Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá!”
Evangelho: (Jo 11, 1-45)
(...)Marta e Maria mandaram chamar Jesus, pois seu irmão Lázaro estava doente(...)Quando soube, Jesus disse: “Esta doença não causará a morte mas se destina à glória de Deus: por ela o Filho de Deus será glorificado”(...) [Quando Jesus chegou a Betânia Lázaro já havia morrido]. (...) Tomado de profunda emoção, Jesus se dirigiu ao sepulcro e ordenou: “Tirai a pedra”. Marta, irmã do morto, disse: “Senhor, já está cheirando mal, pois já são quatro dias que está aí”. Jesus respondeu: “Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?” Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me atendeste. Eu sei que sempre me atendes, mas digo isto por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que tu me enviaste”. Depois dessas palavras, gritou bem forte: “Lázaro, vem para fora”! O morto saiu com os pés e as mãos atados com faixas e o rosto envolto num sudário. Jesus ordenou: “Desatai-o e deixai-o andar”. Muitos judeus, que tinham ido visitar Maria e visto o que Jesus fizera, acreditaram nele.
COMENTÁRIO
A liturgia de hoje nos apresenta a ressurreição de Lázaro. Este fato nos leva a refletir sobre a vida, esse dom precioso que recebemos de Deus. Este evangelho também nos lembra de que estamos aqui só de passagem.
Ninguém ficará aqui na terra por toda eternidade. A qualquer momento esta nossa vida pode ser interrompida. Pode ser daqui a dez anos, dez meses, dez minutos ou até mesmo, daqui a dez segundos. A morte nos espreita em todos os momentos.
Precisamos ser realistas, não adianta querer tapar o sol com peneira, a verdade é esta: em todo mundo, neste exato momento, milhares estão fechando seus olhos e deixando esta vida. São pobres, ricos, parentes, amigos, conhecidos, velhos, crianças, jovens...
A morte não escolhe sexo, nem idade e parece que sempre nos pega de surpresa. Nós ainda não nos acostumamos com ela. Na verdade, jamais nos acostumaremos com a morte porque fomos feitos para a vida, nascemos para a Vida Plena.
Este texto de João mostra-nos o lado profundamente humano de Jesus. Para restituir a vida ao amigo Lázaro, Ele enfrenta o perigo da morte, pois os judeus o estavam procurando para matá-lo. Os próprios discípulos perceberam o risco que existia e se propuseram a acompanhá-lo, para morrerem juntos.
O evangelho de hoje lembra também a nossa fragilidade, o imenso poder de Deus e a força do amor. Mostra que o amor é mais forte do que a morte. Só por amor, Jesus enfrenta a morte e volta à Judéia, vai para Betânia e arrisca sua própria vida.
Mais uma vez Jesus se expõe e se coloca em favor da vida, mesmo sabendo que isso pode custar-lhe a própria vida. Nos dias de hoje ainda acontecem coisas semelhantes. Entre tantos mártires, me lembro da Irmã Dorothy, perseguida e assassinada por alguns daqueles que fazem da morte sua profissão. Querem matar Jesus e seus seguidores. Querem apagar todas as provas do poder do Salvador.
Apesar de tantas mortes, muitos são ressuscitados. Graças ao empenho de muitos cristãos, diariamente, a vida é devolvida para milhares de pessoas enterradas no pecado e cheirando mal na podridão dos vícios e das drogas. No entanto, os inimigos de Jesus tentam esconder essas verdades. Não querem permitir que o número de seguidores de Jesus cresça, exatamente como fizeram na época de Lázaro.   
As Palavras de Jesus devem encorajar-nos a gritar bem alto seu nome. Quem crê em Jesus, mesmo que morra, viverá. A morte física é inevitável, mas não é o fim. Na verdade, é o começo da verdadeira vida. A grande certeza que Deus nos deixou é que a morte desta vida é a porta que nos introduz à vida eterna.
Todos somos chamados a promover, defender e agir em favor do grande dom de Deus chamado vida! Vamos lutar contra as várias formas de atentados contra a vida; o aborto, a eutanásia, a fome, a falta de moradia e terra. Vamos nos unir contra o “mal cheiroso” preconceito que mata moradores de rua, negros, mulheres e índios.
Vamos acompanhar de perto os passos de Jesus e assumir a postura corajosa de Tomé dizendo: “Senhor nós também vamos juntos para, se preciso for, até morrer por essa causa!” O importante é que esta certeza nos acompanha e fortalece: os amigos de Jesus jamais morrerão!

sexta-feira, 4 de abril de 2014

«A oração muda-nos o coração», diz papa Francisco

«Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa?»
A pergunta em forma de oração que Moisés dirige a Deus, narrada no livro bíblico do Êxodo, que esta quinta-feira é proclamada nas missas, constituiu a base da homilia da missa a que o papa Francisco presidiu no Vaticano.
«Esta oração é uma verdadeira luta com Deus. Uma luta do chefe do povo para salvar o seu povo, que é o povo de Deus. E Moisés fala livremente diante do Senhor e ensina-nos como rezar, sem medo, livremente, também com insistência», afirmou o papa, citado pela Rádio Vaticano.
Moisés foi «corajoso», e no fim, como conta o livro do Êxodo, Deus «desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo»: «Mas quem mudou aqui? Foi o Senhor que mudou? Creio que não», vincou Francisco.
«Quem mudou foi Moisés, porque Moisés acreditava que o Senhor tinha feito isto, acreditava que o Senhor quereria destruir o povo», mas quando procura argumentos para «convencer Deus» a fazer outra escolha, recorre à história do povo hebreu, que está cheia de exemplos da «misericórdia» divina.
Rezar, sublinhou Francisco, altera todas as perspetivas: «A oração muda-nos o coração. Faz-nos compreender melhor como é o nosso Deus. Mas para isso é importante falar com o Senhor, não com palavras vazias», mas «falar com a realidade».
«“Olha, Senhor, eu tenho este problema, na família, com o meu filho, com isto, com aquilo… O que é que se pode fazer? Olha que não me podes deixar assim!” Esta é a oração. Mas esta oração leva tanto tempo… Sim, leva tempo», apontou o papa.
Francisco realçou a necessidade de a oração ser próxima de Deus: «A Bíblia diz que Moisés falava ao Senhor face a face, como a um amigo. Assim deve ser a oração: livre, insistente, com argumentos».
A oração, assinalou, deve chegar ao ponto de “lembrar” a Deus a sua palavra: «“Tu prometeste-me isto, e não o fizeste…”, assim, como se fala com um amigo. Abrir o coração a esta oração.
«Moisés desceu do monte revigorado», e com «a força que a oração lhe deu, retoma o seu trabalho de conduzir o povo para a Terra prometida. Porque a oração revigora. O Senhor dê a todos nós a graça, porque rezar é uma graça», referiu.
A homilia terminou com uma prece: «Peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a rezar, assim, como rezou Moisés, a negociar com Deus, com liberdade de espírito, com coragem. E o Espírito Santo, que está sempre presente na nossa oração, nos conduza por esta estrada».

Rui Jorge Martins
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