terça-feira, 28 de maio de 2013

O sentido da celebração - Origem da solenidade

1. O sentido da celebração 

Na quinta-feira, após a solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra devotamente a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, festa comumente chamada de Corpus Christi. A motivação litúrgica para tal festa é, indubitavelmente, o louvor merecido à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Desde o princípio de sua história, a Igreja devota à Eucaristia um zelo especial, pois reconhece neste sinal sacramental o próprio Jesus, que continua presente, vivo e atuante em meio às comunidades cristãs. Celebrar Corpus Christi significa fazer memória solene da entrega que Jesus fez de sua própria carne e sangue, para a vida da Igreja, e comprometer-nos com a missão de levar esta Boa Nova para todas as pessoas.

Poderíamos perguntar se na Quinta-Feira Santa a Igreja já não faz esta memória da Eucaristia. Claro que sim! Mas na solenidade de Corpus Christi estão presentes outros fatores que justificam sua existência no calendário litúrgico anual. Em primeiro lugar, no tríduo pascal não é possível uma celebração festiva e alegre da Eucaristia. Em segundo lugar, a festa de Corpus Christi quer ser uma manifestação pública de fé na Eucaristia. Por isso o costume geral de fazer a procissão pelas ruas da cidade. Enfim, na solenidade de Corpus Christi, além da dimensão litúrgica, está presente o dado afetivo da devoção eucarística. O Povo de Deus encontra nesta data a possibilidade de manifestar seus sentimentos diante do Cristo que caminha no meio do Povo.

2. Origem da solenidade

Na origem da festa de Corpus Christi estão presentes dados de diversas significações. Na Idade Média, o costume que invadiu a liturgia católica de celebrar a missa com as costas voltadas para o povo, foi criando certo mistério em torno da Ceia Eucarística. Todos queriam saber o que acontecia no altar, entre o padre e a hóstia. Para evitar interpretações de ordem mágica e sobrenatural da liturgia, a Igreja foi introduzindo o costume de elevar as partículas consagradas para que os fiéis pudessem olhá-la. Este gesto foi testemunhado pela primeira vez em Paris, no ano de 1200.

Entretanto, foram as visões de uma freira agostiniana, chamada Juliana, que historicamente deram início ao movimento de valorização da exposição do Santíssimo Sacramento. Em 1209, na diocese de Liége, na Bélgica, essa religiosa começa ter visões eucarísticas, que se vão suceder por um período de quase trinta anos. Nas suas visões ela via um disco lunar com uma grande mancha negra no centro. Esta lacuna foi entendida como a ausência de uma festa que celebrasse festivamente o sacramento da Eucaristia.

3. Nasce a festa do Corpus Christi

Quando as idéias de Juliana chegaram ao bispo, ele acabou por acatá-las, e em 1246, na sua diocese, celebra-se pela primeira vez uma festa do Corpo de Cristo. Seja coincidência ou providência, o bispo de Juliana vem a tornar-se o Papa Urbano IV, que estende a festa de Corpus Christi para toda Igreja, no ano de 1264. 

Mas a difusão desta festa litúrgica só será completa no pontificado de Clemente V, que reafirma sua significação no Concilio de Viena (1311-1313). Alguns anos depois, em 1317, o Papa João XXII confirma o costume de fazer uma procissão, pelas vias da cidade, com o Corpo Eucarístico de Jesus, costume testemunhado desde 1274 em algumas dioceses da Alemanha.

O Concílio de Trento (1545-1563) vai insistir na exposição pública da Eucaristia, tornando obrigatória a procissão pelas ruas da cidade. Este gesto, além de manifestar publicamente a fé no Cristo Eucarístico, era uma forma de lutar contra a tese protestante, que negava a presença real de Cristo na hóstia consagrada.

Atualmente a Igreja conserva a festa de Corpus Christi como momento litúrgico e devocional do Povo de Deus. O Código de Direito Canônico confirma a validade das exposições publicas da Eucaristia e diz que ·principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, haja procissão pelas vias públicas· (cân. 944).

4. A celebração do Corpo de Cristo

Santo Tomás de Aquino, o chamado doutor angélico, destacava três aspectos teológicos centrais do sacramento da Eucaristia. Primeiro, a Eucaristia faz o memorial de Jesus Cristo, que passou no meio dos homens fazendo o bem (passado). Depois, a Eucaristia celebra a unidade fundamental entre Cristo com sua Igreja e com todos os homens de boa vontade (presente). Enfim, a Eucaristia prefigura nossa união definitiva e plena com Cristo, no Reino dos Céus (futuro).

A Igreja, ao celebrar este mistério, revive estas três dimensões do sacramento. Por isso envolve com muita solenidade a festa do Corpo de Cristo. Não raro, o dia de Corpus Christi é um dia de liturgia solene e participada por um número considerável de fiéis (sobretudo nos lugares onde este dia é feriado). As leituras evangélicas deste dia lembram-nos a promessa da Eucaristia como Pão do Céu (Jo 6, 51-59 - ano A), a última Ceia e a instituição da Eucaristia (Mc 14, 12-16.22-26 - ano B) e a multiplicação dos pães para os famintos (Lc 9,11b-17 - ano C).

5. A devoção popular

Porém, precisamos destacar que muito mais do que uma festa litúrgica, a Solenidade de Corpus Christi assume um caráter devocional popular. O momento ápice da festa é certamente a procissão pelas ruas da cidade, momento em que os fiéis podem pedir as bênçãos de Jesus Eucarístico para suas casas e famílias. O costume de enfeitar as ruas com tapetes de serragem, flores e outros materiais, formando um mosaico multicor, ainda é muito comum em vários lugares. Algumas cidades tornam-se atração turística neste dia, devido à beleza e expressividade de seus tapetes. Ainda é possível encontrar cristãos que enfeitam suas casas com altares ornamentados para saudar o Santíssimo, que passa por aquela rua.

A procissão de Corpus Christi conheceu seu apogeu no período barroco. O estilo da procissão adotado no Brasil veio de Portugal, e carrega um estilo popular muito característico. Geralmente a festa termina com uma concentração em algum ambiente público, onde é dada a solene bênção do Santíssimo. Nos ambientes urbanos, apesar das dificuldades estruturais, as comunidades continuam expressando sua fé Eucarística, adaptando ao contexto urbano a visibilidade pública da Eucaristia. O importante é valorizar este momento afetivo da vida dos fiéis.

Evaldo César de Souza, C.Ss.R
Fonte:
 http://www.redemptor.com.br

segunda-feira, 27 de maio de 2013

ADORAÇÃO EUCARÍSTICA – ANO DA FÉ

Papa Francisco convoca a Igreja do mundo inteiro para adorar Jesus Sacramentado no Domingo, 2 de junho, por ocasião do Ano da Fé. 
O Papa Francisco, por ocasião do Ano da Fé, convocou toda a Igreja para um gesto único: que na tarde de domingo, 2 de junho, na mesma hora, todos os católicos do mundo inteiro, nos unamos num gesto unânime de comunhão com o Senhor, e também de comunhão com o Vigário de Cristo, com todo o Colégio Episcopal e com toda a Igreja espalhada por toda a terra, em uma hora de adoração ao Santíssimo Sacramento.
Neste gesto de unidade com toda a Igreja e em profunda adoração a Jesus Eucarístico, único Rei e Senhor, nossa Diocese de Santo André estará de joelhos dobrados, em atitude orante.
As 97 Paróquias de nossa Diocese, com suas 262 Comunidades, Casas Religiosas, Capelas Particulares, Oratórios, Grupos, todos estão convocados para esse momento forte de oração e comunhão com a Igreja.
Juntamente com o Santo Padre, queremos adorar, louvar e agradecer a Jesus presente no Seu Sacramento de Amor, a Eucaristia.
Dia 2 de junho próximo, 17h em Roma, 12 horas no Brasil, o Papa conduzirá uma hora de adoração ao Santíssimo Sacramento na Basílica de São Pedro. Estamos com ele!
Em breve enviaremos o roteiro para a Adoração.
Diocese de Santo André
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano

sexta-feira, 24 de maio de 2013

26 maio 2013 – Santíssima Trindade


Evangelho: (Jo 16, 12-15)
Muitas coisas ainda tenho para dizer-vos, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas do que ouvir, e vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará. Tudo que o Pai tem é meu. É por isso que eu disse: receberá do que é meu e vos anunciará.
COMENTÁRIO
Hoje a Igreja comemora uma grande festa, que nos enche de alegria. Comemoramos hoje a unidade. Celebramos a Festa da Santíssima Trindade: Deus, que é Pai, que é Filho, e que é Espírito Santo.
O dia de hoje nos recorda aquele primeiro catecismo, de perguntas e respostas, do tempo de catequese. Lembra-nos daquela pergunta que a catequista nos fazia: “O Pai é Deus? O Filho é Deus? O Espírito Santo é Deus?”
A resposta era dada de forma cantada. Mal acabava de perguntar e respondíamos com toda força -Siiim! -e novamente a catequista perguntava - então são três deuses? - Nãão! - gritávamos - são três pessoas distintas, mas um só Deus.
As três pessoas da Santíssima Trindade são um só Deus, porque todas três têm uma só e a mesma natureza divina. Não é fácil entender essa verdade que está muito acima da nossa inteligência. Porém, muito mais importante do que tentar entender, é aceitar e amar a Trindade Divina.
Para tentar explicar o mistério da Santíssima Trindade, alguns catequistas a comparam a um bolo. Os três ingredientes básicos; a farinha, o ovo e o fermento têm características diferentes, porém juntos, formam uma mistura homogênea.
É impossível separá-los e um complementa o outro. Talvez esse exemplo ajude, mas crer na Santíssima Trindade não é uma questão de culinária, de matemática e nem de lógica, é uma questão de fé.
Jesus, o Filho, fala que tem ainda muitas coisas para dizer aos discípulos, e que eles não seriam capazes de entender, pois ainda não haviam recebido o Espírito Santo. Diz também que, tudo que Deus Pai possui é seu, e que o Espírito da Verdade os ensinará a entenderem tudo isso.
Temos aqui a presença da Santíssima Trindade. Um só Deus em três pessoas. Deus que é Pai, que é Filho e que é Espírito Santo. Um mistério profundo, inexplicável. A razão não consegue entendê-lo, mas a fé, esta sim, pode aceitá-lo; porque a fé é um dom de Deus.
Ao Pai, se atribui de modo especial a obra da criação; ao Filho é atribuída a redenção da humanidade; e ao Espírito Santo, a renovação da vida. O Espírito Santo é o amor que une o Pai ao Filho. As três Pessoas divinas estão presentes em tudo. É consolador sabermos que Deus não é egoísta, nem solitário. É um Deus comunidade de amor, é família, são três pessoas unidas no amor.
Assim também somos nós. Quando vivemos a união e o amor fraterno, a partilha e a solidariedade. Quando realmente vivemos tudo isso na família, no ambiente de trabalho, na comunidade, seja onde for, estamos dando testemunho da presença do Deus Trindade.
Portanto, tudo o que fizermos na vida, vamos fazê-lo em nome da Ssma Trindade. Sempre que fazemos o sinal da cruz, é o nosso Deus, uno e trino que estamos invocando. Vamos sempre fazer o sinal do cristão com muita convicção. Fazer o sinal da cruz em público, ao passar em frente a uma igreja na rua ou no ônibus, é uma forma de evangelizar, é uma demonstração de fé e coragem.
Vamos nos aproximar do Deus Trino e como Maria santíssima, viver em nós a plenitude da presença das três pessoas. Maria, humildemente, deixou o coração se sobrepor à razão. Acreditou e aceitou o pedido do seu Pai, desposou o Espírito Santo e tornou-se a mãe do Filho. Veja que boa notícia: O batismo fez de nós Templos de Deus e morada da Santíssima Trindade.
Com muita alegria vamos encerrar este nosso momento de fé, dando glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre, amém!!!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O barulho das palavras


Dizem que quando Deus quer falar, não precisa do barulho das palavras, fala nos acontecimentos, no silêncio da natureza, fala como quer e do jeito que quer. Mas será que quando o Todo-poderoso quer falar estamos dispostos a ouvi-Lo? Eis a questão. Parece que, nos dias atuais, nossos ouvidos estão sempre ocupados. Escolhemos o que queremos ouvir, colocamos o fone e esquecemos o mundo à nossa volta. Como o Senhor costuma falar de um jeito sempre novo, fica difícil conseguirmos identificar Sua voz. Talvez nem paremos para pensar sobre isso, mas o fato é que a vida segue um ritmo tão acelerado que já não temos tempo para ouvir: nem uns aos outros nem a Deus.
Escutar é uma bela arte, saber falar também... Acredito que, se estamos buscando um crescimento espiritual, precisamos dar passos neste sentido, porque só conseguimos ouvir a voz de Deus se nossos ouvidos estiverem treinados em ouvir as pessoas. Você sabe o que se passa com a pessoa que está ao seu lado, seja no trabalho, em casa ou na escola? Costuma perguntar como foi o dia daqueles que convivem com você? É fácil perceber que há pouco interesse em ouvir o outro, talvez porque para fazê-lo é preciso esvaziar-se de si mesmo, e este é um desafio que, apesar de construtivo, nem sempre é apreciado.
Hoje dizer "faça silêncio", talvez não seja a solução se quisermos crescer como pessoa, pois existem vários tipos de silêncio e nem todos são produtivos. Há silêncios, por exemplo, que são tidos como sábios. Outros, como necessários e outros ainda como indiferença. Portanto, antes de "resolver silênciar, precisamos ter a motivação certa. Já que, muitas vezes, a maior caridade não é simplesmente calar, mas sim ouvir e acolher a quem precisa falar.
É assustador, mas real, há muitas pessoas morrendo porque não conseguem ninguém que as escute. Ocupados com aquilo que escolhemos ouvir, vamos nos deixando embalar pela música que nos toca e não pelas situações que nos cercam.
Outro dia fiquei admirada com o que presenciei. Estava em um consultório médico e chegaram dois jovens, um rapaz e uma moça, não sei se eram irmãos ou amigos, não creio que seriam um casal, apesar de terem chegado juntos. Já sentados, trocaram algumas palavras e, em alguns minutos, cada um colocou o fone nos ouvidos e o silêncio reinou. Passei um bom tempo ainda no lugar e não os ouvi trocar uma palavra sequer. Coisa estranha, não é? Por que será que o som que sai do fone é mais interessante do que a vida de quem está ao nosso lado? Por que será que os meios que vêm para comunicar acabam nos roubando a comunicação? Penso que é hora de darmos mais atenção à forma como temos lidado com essa realidade e valorizarmos mais o diálogo.
Tanto as palavras como o silêncio têm sua força, negativa ou positiva; é grande sabedoria saber usá-los, mas é preciso usá-los. As palavras fazem parte da nossa essência, comunicar é preciso! Com palavras nos aproximamos ou nos afastamos do outro, apaziguamos ou ferimos. Damos ou tiramos a vida. Marcamos nossas escolhas com palavras e falar com a vida, com paixão, com os olhos, com os gestos, com a alma e com amor é transmitir esperança a quem nos ouve. Porém, na hora de escutar as pessoas, o barulho das palavras não ajuda nada. E aí entra o importante papel do silêncio.
Escutar significa receber alguém dentro de nós, em nosso coração e isso quase sempre se dá no silêncio. Por isso, é preciso ouvir a pessoa ! Não o que dizem da pessoa ou o que imaginamos a seu respeito, mas escutar a própria pessoa. Dar tempo para a pessoa falar. Parar o que estamos fazendo e olhar para a pessoa com a atenção que ela merece. É mais do que simplesmente ouvir palavras, é acolher a pessoa do jeito que ela está, com suas dores ou alegrias. É exigente, mas benéfico, pois quando escuto o outro, aprendo com ele, cresço com suas experiências e evito muitos erros.
Já observou que nossos problemas, muitas vezes, tomam proporções maiores do que as reais, justamente porque não escutamos as pessoas? Fiquemos atentos e procuremos dar mais atenção àqueles que nos cercam. Silenciar, sim, o silêncio tem um valor incalculável, mas que nosso silêncio não seja de indiferença e sim de acolhimento.
Penso que saber ouvir e saber falar é antes uma questão de respeito e amor à própria vida. Praticar essa arte é um dom.
Se enquanto você estiver lendo este texto, perceber que o barulho das palavras o tem impedido de ser melhor, tenha a coragem de recomeçar, silenciando. Por outro lado, se perceber que seu silêncio não tem produzido vida, saia dele o quanto antes e vá ao encontro do outro, levando uma palavra de esperança. Em todo caso, viva bem o hoje; apaixone-se pela vida. Partilhe suas lutas e conquistas. Faça pausas para escutar os outros e, pela força da comunicação, dê mais qualidade aos seus dias e seja feliz.

Dijanira Silva
Dijanira Silva, Dijanira Silva, missionária da Comunidade Canção Nova, atualmente reside a missão de São Paulo. Apresentadora da Rádio CN América SP.
www.cancaonova.com

quinta-feira, 16 de maio de 2013

19 maio 2013 – Pentecostes


Evangelho: (Jo 20, 19-23)
Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, estando trancadas as portas do lugar onde estavam os discípulos, por medo dos judeus, Jesus chegou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos se alegraram ao ver o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. Após essas palavras, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem não perdoardes os pecados não serão perdoados”.
COMENTÁRIO
Hoje celebramos Pentecostes. Completam-se cinqüenta dias da Páscoa da Ressurreição de Jesus. Quase dois meses depois que Jesus se foi, nós encontramos seus discípulos trancados no cenáculo, por medo dos judeus. 
Apesar do evangelista não mencionar neste Evangelho, nós sabemos que no cenáculo também estavam algumas mulheres, inclusive Maria a Mãe de Jesus. Outro fato que deve ser ressaltado, é que eles se encontravam em oração. Parece que a intenção de João é mostrar o poder da oração na vida do cristão, principalmente nos momentos difíceis.
João faz questão de dizer que o medo estava presente entre eles. Não sabiam o que poderia lhes acontecer se fossem descobertos pelos judeus. A única certeza que tinham é que jamais iriam assumir publicamente que eram cristãos.
No entanto, Jesus chega como quem não quer nada, entra sem fazer alarde, coloca-se no meio deles e diz: “A paz esteja com vocês”! Pronto... bastou isso. Mudou o clima do ambiente, a alegria é geral. Os discípulos ficaram alegres ao verem o Senhor.
Jesus trouxe consigo o Espírito Santo e o entregou aos apóstolos. O medo e a insegurança foram jogados pela janela. O temor que paralisava suas pernas, simplesmente desapareceu.
Isso chama-se paz. Paz é liberdade, é coragem, é a busca permanente da vida plena. Paz é doação, é a luta por justiça e dignidade. Paz, um nome tão pequeno, mas que guarda dentro de si todas as Palavras de Jesus. 
Paz é o resumo de tudo. Na palavra paz está contido todo evangelho, por isso Jesus nos deseja a paz. Apesar de não serem sinônimos, é impossível separar a paz do amor. Paz é conseqüência do amor, e o amor é o caminho que leva à paz.
Jesus, o próprio Amor entra, deseja-lhes a paz e faz algumas recomendações. Manda que continuem a sua missão. Missão de denunciar e distribuir. Missão de evangelizar, de lutar por justiça e contra a opressão. Realmente, não é nada fácil essa missão, eles teriam que dar continuidade a luta que levou Jesus à morte. Mas, como enfrentar a multidão que eliminou Jesus?
Onde encontrar coragem para encarar o inimigo, a sociedade violenta e dividida? Onde encontrar coragem para enfrentar o mundo? O medo era enorme, mas ao receberem o Espírito Santo, transformam-se totalmente. Abrem as portas, escancaram as janelas, nada temem, tudo enfrentam. Falam em público com destemor e sabedoria.
Assim é a obra do Espírito Santo. Ela faz maravilhas nos seguidores de Jesus. Opera transformações radicais naqueles que se entregam aos seus cuidados. Age em nossa vida e em nosso dia-a-dia. O Espírito se faz presente através dos seus sete dons.
A festa de Pentecostes nos leva a concluir que o Espírito Santo dá vida e dinamismo à comunidade cristã. Sob a ação do Espírito todos falam a mesma língua, os irmãos se entendem e se unem em torno do mesmo Pai. A covardia é substituída pela coragem na pregação do evangelho, a tristeza dá lugar à alegria, e as atividades são alicerçadas no amor e na paz de Jesus.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Audiência: Invocar o Espírito Santo, para que nos guie rumo à Verdade.

Cidade do Vaticano (RV) – A Praça S. Pedro ficou lotada na manhã desta quarta-feira para a Audiência Geral com o Papa Francisco.

Depois de saudar a multidão através do papamóvel, recebendo e retribuindo o afeto dos fiéis, o Pontífice dedicou sua catequese sobre a ação que o Espírito Santo realiza ao guiar a Igreja e cada um de nós rumo à Verdade.

Para o Papa, vivemos numa época em que há muito ceticismo em relação à verdade, citando as inúmeras vezes em que Bento XVI falou do relativismo, ou seja, da tendência de considerar que não existe nada de definitivo. Então vem a pergunta: existe realmente “a” verdade? Que é “a” verdade? Podemos conhecê-la e encontrá-la? 

A resposta é Jesus: a Verdade que, na plenitude dos tempos, “se fez carne”, e veio habitar no meio de nós para que a conhecêssemos. A verdade não è uma posse, è o encontro com uma Pessoa. Esta certeza, porém, nos leva a outra pergunta: mas que nos faz reconhecer que Jesus é “a” Palavra de verdade, o Filho unigênito de Deus Pai? É justamente o Espírito Santo, o dom de Cristo Ressuscitado, que nos faz reconhecer a Verdade. Jesus o define o “Paraclito”, isto é, “aquele que nos vem ao encontro, que está ao nosso lado para nos amparar neste caminho de conhecimento.

A ação do Espírito Santo na nossa vida é nos recordar e imprimir nos nossos corações de fiéis as palavras que disse Jesus, para que se tornem em nós princípio de avaliação nas escolhas e de guia nas ações cotidianas. É do íntimo de nós mesmos que nasce mas nossas ações: é o coração que deve se converter a Deus, e o Espírito Santo o transforma se nos abrirmos a Ele. 
Através do Espírito Santo, o Pai e o Filho habitam em nós: nós vivemos em Deus e de Deus. E Francisco questionou mais uma vez: mas a nossa vida é permeada por Deus? Quantas coisas coloco antes Dele?

“Queridos irmãos e irmãs, neste Ano da Fé, somos convidados, seguindo o exemplo de docilidade de Nossa Senhora, a nos deixar inundar pela luz do Espírito Santo, predispondo-nos à Sua ação, buscando conhecer mais a Cristo e as verdades da fé: meditando a Sagrada Escritura, estudando o Catecismo e aproximando-se com mais frequência dos sacramentos. Mas ao mesmo tempo, devemos questionar quais passos estamos fazendo para que a fé oriente toda a nossa existência. Não se é cristão em alguns momentos ou em algumas circunstância. Somos cristãos a todo momento! Invoquemos com mais frequência o Espírito Santo, para que nos guie no caminho dos discípulos de Cristo.”

Francisco perguntou à multidão: "Quem de vocês reza diariamente para o Espírito Santo? Acho que são poucos, poucos. Mas temos que fazê-lo, para que nos abra o coração para Jesus".

No final da catequese em italiano, o Papa saudou os diversos grupos presentes na Praça e concedeu sua bênção. Francisco anunciou que visitará, em setembro, o Santuário de Nossa Senhora da Candelária em Cagliari, na ilha da Sardenha, que inspirou o nome de sua cidade natal, Buenos Aires.
(BF)


http://pt.radiovaticana.va

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: 'O que Deus exige de nós?'





Começou neste domingo (12) em todo o Brasil a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC) que será realizada até o dia 19 de maio.

Com o tema ‘O que Deus exige de nós?’, a proposta é discutir o valor da unidade na diversidade e meditar sobre o que Deus exige da comunidade cristã, no âmbito religioso e também sobre os direitos humanos e assuntos relacionados. O cartaz da SOUC 2013 apresenta os dalits na Índia, são pessoas que vivem à margem da sociedade e sofrem discriminação em seu país.

Em entrevista ao portal A12.com a secretária geral do CONIC, pastora Romi Márcia Bencke falou sobre a preparação, objetivos e tema da semana.

A pastora destacou que a data tem sido celebrada há 30 anos no Brasil e que isso representa um testemunho concreto na busca da unidade entre todos os cristãos e manifestou o desejo para a edição de 2013.

“Desejamos que ao longo desta Semana, as diferentes comunidades cristãs se reúnam e celebrem juntas. Que possam vivenciar esta experiência, aparentemente tão simples, mas tão profética. Sabemos que em alguns lugares podem existir diferenças e resistências para o encontro entre pessoas de diferentes denominações. Ore pela unidade dos (as) cristãos (ãs) em sua comunidade. Desejamos que a chama de pentecostes flameje em favor da unidade cristã”.

Redação Portal A12

quinta-feira, 9 de maio de 2013

FLASH MOB DIOCESE DE SANTO ANDRÉ


Flash Mob realizado dia 27 de abril de 2013, na Praça da Basílica Menor Nossa Senhora da Boa Viagem, Matriz de São Bernardo do Campo.
Aproximadamente 250 jovens dançaram a canção Nova Geração (No Peito eu Levo uma Cruz) do Pe. Zezinho.
A dança foi apenas um gesto e um ato simbólico afim de mostrar a Força do Jovem unido em nome de Jesus Cristo e com sua Fé...
O gesto da nossa Juventude mudou por alguns segundos a vida cotidiana daqueles que passavam por ali. 
Diante de uma cidade horrorizada com tanta violência, dançar, unir-se, cantar e levar adiante as palavras de Jesus Cristo conforta e dá esperança aos que tem sede de Justiça.
Vós sois o Sal da Terra! Vós sois a Luz do Mundo!
Ainda podemos ser mais! Venha participar também!!!

Dia 25 de Maio às 14h teremos outro Flash Mob no calçadão da Oliveira Lima em Santo André.


http://www.facebook.com/setorjuventudesa
www.setorjuventudesa.com.br



12 maio 2013 – Ascensão do Senhor


Evangelho: (Lc 24, 46-53)
Jesus disse: “Assim estava escrito que o Cristo haveria de sofrer e ao terceiro dia ressuscitar dos mortos e, começando por Jerusalém, em seu nome seria pregada a todas as nações a conversão para o perdão dos pecados. Vós sois testemunhas disso. Eu vos mandarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto”. Levou-os em seguida até perto de Betânia. Ali, levantou as mãos e os abençoou. Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi levado ao céu. E eles, depois de se prostrarem diante dele, voltaram para Jerusalém com grande alegria. Permaneciam no Templo, louvando a Deus.
COMENTÁRIO
Hoje comemoramos a Ascensão do Senhor, por isso, como verdadeiros cristãos, devemos estar alegres e com os corações preparados para receber o Espírito Santo.
O evangelho de hoje nos fala da alegria dos apóstolos ao verem o Mestre subindo para a Glória Celeste. Fala também da vinda do Prometido de Deus, o Espírito Santificador, que haveria de descer sobre os filhos de Deus.
Jesus deixa esta ordem aos discípulos: "Não saiam da cidade, até que sejam revestidos da força do alto". Assim como o Pai prometeu, agora é Jesus quem promete aos apóstolos que o Espírito virá.
Em nome do Cristo Ressuscitado, o apóstolo deve anunciar e testemunhar a conversão e o perdão dos pecados. Com isso Jesus quer indicar quais serão os frutos da sua morte e ressurreição. Quem acreditar e fizer penitência dos pecados, receberá o perdão.
Apesar da urgente necessidade de sair e pregar a Palavra de Deus, os discípulos não poderiam iniciar esse trabalho sem um bom preparo. Por isso Jesus insiste para que esperem na cidade. Lá receberão o Espírito e, com Ele, o conhecimento e a coragem para desenvolverem a difícil tarefa de apresentar Jesus ao mundo.
Jesus levantou as mãos e os abençoou. Com esse gesto Jesus pede ao Pai Eterno a proteção para os seus discípulos. Os judeus costumavam rezar com os braços estendidos. Moisés também se manteve em oração, com os braços erguidos, enquanto seu povo lutava contra os amalequitas. (Ex 17, 11-13)
Enquanto abençoava seus discípulos, Jesus afastou-se deles e subiu para o céu. É importante ressaltar que Jesus não foi levado ao céu por anjos ou através de qualquer outro meio, Jesus subiu ao céu por sua própria vontade e poder.
Essa é a grande diferença entre a Ascensão do Senhor e a Assunção de Nossa Senhora. Maria Assunta ao céu é um dogma de fé, portanto, nós cremos que Nossa Senhora foi elevada ao céu em corpo e alma, porém, não por suas próprias forças, mas sim através de anjos enviados de Deus.
Maria trouxe ao mundo ensinamentos e graças, através de sua vida, especialmente com exemplos de humildade, pureza, sacrifício e íntima união com seu Filho Jesus. O corpo da filha preferida que o Pai preparou para ser a esposa do Espírito Santo e Mãe do seu Filho, tinha que ser preservado, por isso Maria foi elevada ao céu e glorificada em corpo e alma.
Jesus que esteve entre nós, que entregou sua vida para nos salvar, agora volta glorioso para o Pai. No entanto, Jesus não quer ficar sozinho. Ele mesmo nos disse que iria antes para nos preparar um lugar e aguarda ansiosamente a minha, a sua, a nossa presença no Reino Celeste.
Jesus já cumpriu a sua parte, o terreno já está preparado, só falta agora a nossa parte... falta semear. Semear significa anunciar a conversão e o perdão dos pecados, apresentar Jesus a todas as nações começando pela nossa “Jerusalém” que é o nosso lar, nossa família, nossa comunidade, até atingir o mundo inteiro.
O Espírito Santo já nos foi dado, e com Ele o discernimento e o entendimento. Quem entende a mensagem de Jesus, é alegre, irradia felicidade e fé. Sabe que está amparado ao ver confirmada sua esperança de vida eterna.
Um lugar no céu está garantido para quem seguir os passos de Jesus. Mas não nos esqueçamos que o caminho da ascensão é o calvário. Quem segue Jesus, está sujeito ao martírio, porém, é preciso anunciar e viver o evangelho. Compartilhar da Paixão de Jesus, para então, receber o prêmio maior... a glória da Ressurreição.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

#Relíquias


Muitas vezes ao adentrarmos em um templo católico, em altares lindos e preciosos relicários que contêm dentro deles uma relíquia, mas o que basicamente é uma relíquia? As relíquias são objetos que pertenceram a um santo, recordações da sua vida, algo que dele nos resta. São o sinal da sua presença na história e enquadram-se na lógica da encarnação. São realidades que nos recordam o que nele operou a obra da graça.

Quando tocamos o corpo de um santo, tocamos o templo do Espírito Santo; quando tocamos um objeto que lhe pertenceu, tocamos o monumento da presença da graça e da misericórdia de Deus, na vida dessa pessoa. 

Desde os primeiros tempos da era cristã, se veneram as relíquias daqueles que mais se identificaram com Cristo, sobretudo, dos que deram cruentamente por ele a sua vida. Mas podem as relíquias ser veneradas? Sim, as relíquias podem ser veneradas, pois sua veneração “é uma necessidade natural do ser humano, para testemunhar o respeito e a devoção por pessoas veneráveis. As relíquias dos santos são corretamente veneradas quando é louvada a ação de Deus nessas pessoas que se entregaram totalmente á Ele.” [CIC 1674] 

Ao venerarmos uma relíquia devemos sempre nos lembrar que a pessoa só chegou ao estado de santidade pois buscou sempre mais ser amigo de Deus, e é Dele que nos provêm toda a santidade. 

Ao terminar este texto que tal ler algumas passagens bíblicas sobre o poder das relíquias sagradas na história do Povo de Deus? Elas encontram-se em:

2Rs 13,20-21
At 19,11-12

Na foto relíquias da "Vera Cruz" na Igreja da Santa Cruz em Roma


sexta-feira, 3 de maio de 2013

05 maio 2013 – 6º Domingo da Páscoa

Evangelho: (Jo 14, 23-29)
Jesus disse: “Se alguém me ama, guarda minha palavra; meu Pai o amará, viremos a ele e nele faremos morada. Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou. Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse.
Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz. Eu vo-la dou não como o mundo a dá. Não fiqueis perturbados nem tenhais medo. Ouvistes que eu vos disse: eu vou, mas volto para vós. Se me amásseis, certamente haveríeis de alegrar-vos. Porque eu vou para junto do Pai, e o Pai é maior do que eu. Disse-vos agora estas coisas antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem.
COMENTÁRIO
Um grande abraço para você que vive a Palavra de Deus. Você que é Templo do Espírito Santo e que faz do seu coração Morada da Santíssima Trindade. É tão bonita esta forma de cumprimentar as pessoas e, é uma pena não nos sentirmos dignos desta saudação. Não costumamos levar a sério tudo isso que dissemos.
Parece um amontoado de palavras bonitas e nada mais, no entanto, foi o próprio Jesus quem disse essas verdades. Dá a impressão que essas palavras não foram dirigidas para nós e que essa mensagem é endereçada somente aos sacerdotes, religiosos e religiosas.
Todos somos dignos, foi para isso que Deus enviou seu próprio Filho, para restituir a vida e devolver a dignidade. Deus, em toda sua plenitude, quer estar próximo dos seus filhos, quer habitar em cada um dos corações.
Este Evangelho é continuação do domingo passado, Jesus está no cenáculo, preparando o coração dos seus discípulos para a sua partida. Trata-se de uma despedida, e como todas as despedidas, esse momento é carregado de emoção. Os discípulos amam o Mestre e não querem nem pensar em separação.
"Se vocês me amassem, ficariam alegres com a minha partida para junto do Pai". Por essa frase dá para perceber como pensamos e agimos de forma totalmente contrária a Deus. Quem ama de verdade, se satisfaz com a felicidade do outro. Renuncia até mesmo ao convívio e a proximidade.
Amor sacrifício, amor renúncia, um amor que para ser vivido plenamente, chega a trazer dissabores. Não dá para entender e, muito menos para aceitar um amor assim. O amor que pensamos conhecer só traz satisfação e alegria, nunca traz contrariedades. É o chamado amor unilateral, nunca é dividido.
O amor se complementa na doação. Quanto mais distribuímos, mais recebemos. Os matemáticos que se deixarem levar pela lógica, dificilmente entenderão esta verdade: “A matemática divina ensina que o amor é uma coisa que se multiplica, quando a dividimos”.
O amor deve ser a principal ocupação do cristão e seu único objetivo nesta vida. Quem vive o amor, está vivendo a Palavra de Deus. Esse é o Novo Mandamento, o verdadeiro discípulo testemunha o amor de Deus, através do seu amor ao próximo.
O Espírito Consolador vai estar permanentemente nos lembrado, cobrando atitudes corajosas para mudar e excluir tudo que oprime e divide. Lembrará também que seremos julgados de acordo com o bom uso que fizermos dos nossos dotes, virtudes e dons, em favor dos necessitados.
O cristão é o mensageiro da paz. Essa mesma Paz que Jesus, não só desejou como realmente deu, aos seus discípulos. Uma paz verdadeira, que nasce na união e se fortifica através da procura constante da verdade, da justiça e da partilha. Quem procura amor encontra Paz, porque a Paz é fruto do Amor.
“Quem me ama guarda minhas Palavras e, Eu e o Pai faremos nele a nossa morada”. Viu como é fácil? Basta amar para ser um Templo Vivo de Deus! Jesus diz para não se intimidar nem se perturbar, entretanto lembra também que ninguém pode dizer que ama a Deus que não vê se não ama o irmão, tão próximo e tão necessitado.
Eis aqui mais um bom motivo para vivermos a caridade: Jesus termina dizendo que vai ao Pai, mas voltará...




quinta-feira, 2 de maio de 2013

A Igreja de Francisco

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)



Como costumo fazer quando estou em casa, na manhã do dia 18 de março folhei os jornais de Dourados, a cidade onde resido. Num deles, encontrei dois artigos sobre o Papa Francisco, assinados por pessoas que considero amigas de longa data. Referindo-se aos primeiros dias do pontífice, um articulista dizia: «Sem dúvida, ele deverá cativar as pessoas com muita facilidade, o que vai ser muito bom para a Igreja, que precisa amenizar a carranca e guardar a solenidade para dentro dos templos!».
Preciso reconhecer que, mais do que a simpatia transmitida pelo novo papa, o que ficou gravado no meu coração foi a “carranca” da Igreja. Certamente, como tantos outros cristãos, o autor ficou tocado pela graça de Deus que irrompe nos ambientes onde Francisco aparece. No domingo em que ele escreveu o artigo, o papa, no final da missa que rezou na igreja de Santana, colocou-se à porta e se entreteve com os fiéis que haviam participado da celebração. Foi uma festa. As pessoas repetiam comovidas: «O papa me abraçou! Ele sorriu para mim!».
Confesso que, se a “carranca” da Igreja corresponde à realidade, devo reconhecer que estávamos realmente precisando de um papa que nos lembrasse uma das principais razões que levou João XXII a pensar no Concílio Vaticano II, como ele mesmo explicou no dia de sua inauguração, 11 de outubro de 1962: «A Igreja Católica quer ser mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos que dela se separaram».
Quando eu era criança – antes do Concílio – a “linha dura” prevalecia em toda a parte, inclusive nos seminários onde se preparavam os sacerdotes. A metodologia empregada para “educar” e “convencer” não dispensava a palmatória. Formados sob uma disciplina férrea, havia padres que acabavam por adotar o mesmo estilo no trato com o povo que lhes cabia dirigir. Enérgicos e autoritários, mais do que amados, eram temidos e mantidos à distância. Contudo, pela solidez de seus princípios morais e espirituais, a maior parte deles muito contribuiu para o desenvolvimento das comunidades. Mas, não se pode negar, também contribuiu para a “carranca” da Igreja...
O Concílio terminou no dia 8 de dezembro de 1965, quando se iniciava uma profunda revolução cultural na história da humanidade, uma autêntica mudança de época. Em toda a parte, explodiram revoltas populares exigindo democracia, igualdade e justiça. Na Europa, a juventude deu o grito de largada, que se alastrou por inúmeros países. Na África, o processo de descolonização caminhou a passos de gigante. Na América Latina, nasceram as Comunidades Eclesiais de Base e a Teologia da Libertação. Em contato direto com o sofrimento do povo, espoliado pelo poder econômico, não poucos padres e religiosos optaram por ideologias que lhes pareciam mais eficazes do que a “prudência” da Igreja na solução dos problemas sociais. Infelizmente, o radicalismo iracundo de alguns deles também colaborou para a “carranca” da Igreja.
“Tese, antítese e síntese” parece ser o processo normal do amadurecimento cultural e social da humanidade. É o que percebo também na Igreja. Depois de uma época em que alguns agentes de pastoral privilegiavam a salvação da alma, surgiu um período em que a Igreja parecia transformar-se numa “piedosa ONG” – como disse o Papa Francisco aos cardeais no dia 14 de março, logo após a eleição – destinada a resolver os problemas do povo. Graças a Deus, de uns anos para cá voltamos a descobrir a síntese proposta pelo Evangelho: «Se um irmão não tem o que vestir ou comer, e você lhe diz: “Vá em paz, se aqueça e coma bastante”, sem lhe dar o necessário, que adianta isso? Sem obras, a fé está morta!» (Tg 2,15-17).
O articulista de Dourados pede que reservemos a «solenidade para dentro dos templos». De minha parte, penso que também ali convenha sermos simples e fraternos. Um exemplo concreto: anos atrás, quando uma criança traquinava na igreja, havia padres que bradavam: «Essa criança não tem mãe?». Há poucos dias, durante a missa, um pequerrucho galgou o presbitério, aproximou-se do altar e puxou a túnica do padre. Este o abraçou e lhe perguntou: «O que você quer ser quando grande?». «Padre!», foi a resposta do menino. Se Deus continua falando pela boca das crianças (Mt 21,16), a Igreja do Papa Francisco já começou...