terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Mudança de Ano

O último domingo de 2013, na liturgia católica, é dedicado à instituição familiar. A família é indicada como base fundamental para a sociedade. Até dizemos que “se a família vai mal, não será diferente com a sociedade”. Perdendo os valores familiares, caímos numa situação crônica de vulnerabilidade e insegurança.

Conservar valores significa ser feliz por amar o Senhor e andar em seus caminhos. É o que aconteceu com a Família de Nazaré, Jesus, Maria e José, apresentados como “família modelo”. Ali identificamos valores que são desprezados nos dias de hoje. Citando alguns dizemos da obediência, do respeito, da fidelidade aos compromissos assumidos e a defesa da vida até às ultimas consequências.

Estamos terminando 2013 com créditos positivos em muitas áreas da atualidade. Na esfera do mundo católico deparamos com a renúncia do Papa Bento XVI e a eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio. Com Francisco, simples, humilde e corajoso, as expectativas da humanidade se refazem dentro de um clima de grandes expectativas de um mundo melhor e feliz.

O ano que termina foi marcado também por muitas práticas de violência, de desrespeito à vida humana, de muitos assassinatos, inúmeros acidentes fatais no trânsito etc. Foi ano de “mensalões” sendo colocados na cadeia, de gastos exorbitantes em estádios de futebol e em estradas tendo em vista a Copa do Mundo e as Olimpíadas. 

O Brasil deveria ser encarado como uma grande família, com um povo de sentimentos cristãos e que teve a marca de fé desde sua origem. Tem uma riqueza de diversidade, de cultura, de história, mas com incapacidade para harmonizar todas as diferenças nos diversos setores da sociedade. Ressaltamos o belo progresso tecnológico, mas incapaz ainda de atender às necessidades das pessoas mais sofridas.

Agora é olhar para o próximo ano e projetar situações novas, realidades apoiadas nos sentimentos de bondade, humildade, paciência e perdão, entendidos como características próprias da vida familiar. A marca principal de 2014 deverá ser a esperança, a certeza da possibilidade de uma sociedade cada vez melhor e de vida digna para todos.

Por: DOM PAULO MENDES PEIXOTO 
ARCEBISPO DE UBERABA - MG
www.bispado.org.br

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Cultivar a alegria diante das limitações

A Palavra meditada, hoje, está em Salmos 89, 16-19.

16. Feliz o povo que sabe te aclamar: ele caminhará, ó Javé, à luz da tua face.
17. Teu nome é o seu prazer a cada dia, e tua justiça é o seu orgulho.
18. Sim, tu és a honra e a força dele, e com teu favor levantas nossa fronte.
19. Porque Javé é o nosso escudo, nosso rei é o Santo de Israel


Jesus veio para trazer o reino de Deus sobre a Terra; assim, Ele reina no nosso coração. Se nós queremos um mundo diferente, o Senhor precisa reinar na nossa vida, pois é muito difícil festejar em um mundo com tanta violência. Mas aquele que está em reverência diante da face de Deus, que está em amor e em acolhimento, sabe fazer festa e é feliz, porque a faz em nome do Senhor.

A pessoa que caminha em Deus tem a sua alegria n'Ele e a sua vitória vem pela manifestação da glória do Altíssimo. A justiça é sempre uma vitória que vem pelo amor; nunca deveríamos entendê-la como um mal a quem fez mal. A justiça de Deus tem a ver com a pessoa que foi lesada, pois Ele cura as chagas deixadas no nosso coração, e essa justiça vai acontecer na nossa vida!

Muitas vezes, Deus nos fecha uma porta e abre outra, mas ficamos olhando a porta fechada, pensando por onde devemos passar, sendo que essa porta já está aberta.

Deus não quer e não pode fazer o mal, então é por causa d'Ele que nos alegramos sempre e pela Sua justiça que encontramos a glória. Entendemos que a felicidade não está em saber festejar, mas em tornar a nossa vida feliz, quando temos o cuidado de não excluir o único que pode nos dar alegria em todos os momentos: Deus. Há pessoas que podem mudar o nosso dia, seja por um telefonema, por uma manifestação de amor, de carinho, e torna nosso dia muito melhor. Quando Deus está presente na nossa vida, ela se torna uma festa!

Não importa onde estivermos, pois se Deus estiver conosco, tudo pode se converter em uma festa. Mas existem ocasiões festivas, nas quais as pessoas tornam a situação em momentos de tristeza, pois não sabem festejar.

Saber fazer da vida uma festa é um dom de Deus. Sofrimento vem sozinho, não precisa ser chamado. Somos pessoas feridas por coisas que não cuidamos, não valorizamos, e acabamos machucando os outros, porque era valorizado e cuidado pela outra pessoa. Querendo ou não, estamos sempre tocando nas feridas uns dos outros. Então, temos de que pedir a Deus a graça de gerar alegria. Assim como a semente se multiplica, temos de multiplicar essa graça em nossa vida e na dos outros, pois ela precisa ser plantada.

Em um mundo onde o mal vem sem ser chamado, precisamos aprender a gerar alegria. Às vezes, salvar uma pessoa da tristeza é tão fácil!

Todos nós temos alguma coisa na nossa vida que temos de aceitar; e quando vivemos na alegria, ela é a força para superarmos essa dificuldade. A vida de uma pessoa que conta com seus amigos é mais leve. Aquele que tem o coração aberto e nutri, no seu coração, uma alegria, cultiva a paz por meio do amor e das boas ações.

Qual o segredo da felicidade? É reconhecer o que Deus faz por nós nas pequenas coisas todos os dias. É uma delícia participar da alegria de alguém, isso é fazer festa, e é isso que o Senhor quer para nós.

Márcio Mendes
Membro da Comunidade Canção Nova

sábado, 21 de dezembro de 2013

4º Domingo do Advento - A

"Céus, deixai cair o orvalho; nuvens, chovei o justo; abra-se a terra e brote o Salvador!" (cf. Is. 45,8).


Meus queridos amigos,

Chegamos ao último domingo do Advento. Advento que é tempo propício de vigilância. Assim, este domingo é o domingo do Emanuel, o "Deus conosco". Já cantamos na antífona da entrada: "Céus, fazei descer o orvalho e faz brotar da terra a salvação, o Salvador". (cf. Is 45,8). Jesus, gerado pelo orvalho do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, é a realização plena do sinal da presença de Deus que o profeta Isaías anunciou ao rei Acaz, setecentos anos antes: o nascimento de um filho da jovem princesa – da "virgem", como diz a tradução grega do Antigo Testamento, como também o Evangelho. Quem assume o nascimento de Jesus como Pai de Família é o carpinteiro José, da casa de Davi: por causa dele, Jesus nasce como filho de Davi. Mas a mensagem do anjo deixa claro que Jesus é "obra do Espírito Santo"(cf. Mt 1,20). Filiação dupla de Jesus que é mencionada na segunda leitura de Romanos: humanamente falando – segundo a carne – Jesus é filho de Davi, mas quanto à ação divina – segundo o Espírito – Ele é filho de Deus, como se pode constatar sua glorificação depois de ressuscitado dentre os mortos.

Estimados irmãos,

O centro da liturgia de hoje é o encontro do humano com o divino, ou do divino com o humano, em Jesus Cristo, o nosso Redentor. O Evangelho de hoje nos conta a encarnação do Filho de Deus no seio de Maria de Nazaré, por obra e graça do Espírito Santo. Enquanto o evangelista Lucas se demora em descrever a anunciação, Mateus vai direto à gravidez misteriosa de Maria. E põe na curta leitura desse domingo o resumo de todo o seu Evangelho. Mateus aponta a finalidade de seu Evangelho: mostrar que Jesus de Nazaré é o Messias prometido, o Filho de Deus vivo, que libertará o povo dos pecados.

Refletimos hoje o sonho de Mateus. Mateus usa o gênero literário do sonho. Mateus usa de um gênero literário para transmitir um ensinamento que Maria concebeu a Jesus sem a interferência de nenhum homem, mas com a graça de Deus, por obra do Espírito Santo. Jesus, verdadeiro homem, porque nasceu de uma mulher, mas verdadeiramente Deus, porque Filho de Deus por um milagre inexplicável aos olhos humanos.

Quando Maria concebeu Jesus, por obra do Espírito Santo, ainda não estava casada com José. Era apenas noiva. Mas na Galiléia, o noivado, que podia durar um ano inteiro, tinha valor, diríamos, jurídico, e ambos se deviam absoluta fidelidade. Se uma noiva aparecesse grávida de outro homem, o noivo podia repudiá-la, isto é, não tinha mais obrigações para com ela. José, não compreendendo ainda o que se passava e não querendo expor Maria a um escândalo público e a execração do povo, pensou em abandoná-la. Deus se serviu da dúvida honesta para lhe revelar o fato maravilhoso, a verdadeira encarnação de Jesus. E Mateus, narrando a dúvida de José, acentuou que o filho que nascerá é o Filho de Deus.

Irmãos e Irmãs,

José escolheu para o filho o nome de Jesus. Jesus que é o Salvador. Jesus que "salvará o povo". Jesus que significa:"Deus é a salvação". Jesus, o Nazareno, tinha uma missão específica que era salvar ao povo de seus pecados(cf. Mt, 1,21). Jesus veio para libertar o homem do pecado, para que o homem retorne à comunhão com Deus. O nome Jesus carrega a marca forte de uma missão: JESUS SERÁ O SALVADOR DOS HOMENS.

José ao colocar o nome de Jesus em seu filho adotivo adota a criança que não nascera dele. E sendo José da família de Davi, ao adotar o menino, o inseriu na linhagem de Davi, como haviam predito o antigo testamento. Jesus, da estirpe de Davi, o Emanuel, que é o Deus Conosco.

Mas cabe uma reflexão para nos preparamos bem para o Natal do Salvador: que pecado é esse que Jesus veio arrancar de entre os homens? Todo e qualquer pecado. O pecado tem muitos nomes e quase sempre anda em bando. O pecado é a raiz e a fonte de toda a opressão, injustiça e discriminação. Jesus veio libertar-nos, mostrando com seus ensinamentos e, sobretudo, com sua vida, que é possível viver fraternalmente no amor e na unidade, na sinceridade e na benquerença, na ajuda mútua e no perdão dos pecados e das fraquezas, na pureza de coração e na sobriedade, na piedade filial e na simplicidade.

Meus irmãos,

A oração final da Santa Missa nos fala da mensagem de Deus para nós: a mensagem do anjo é a primeira manifestação da obra de Deus que vai desde a anunciação até a ressurreição. Maria aparece aqui como a jovem escolhida por Deus, qual esposa do rei. A virgindade de Maria significa sua disponibilidade para a obra de Deus nela: virgindade fecunda, prenhe de salvação. Nela brota o fruto que, em pessoa, é o sinal de que Deus está conosco.

O mistério de Jesus ter nascido sem que Maria deixasse de ser virgem significa que Jesus, em última instância, não é mera obra humana, mas antes de tudo um presente de Deus à humanidade. Seu nascimento é sinal de que Deus está conosco para nos salvar. Seu nome, Jesus, significa "Deus salva"; é o equivalente a Emanuel.

Estimados amigos,

O gesto de amor dos cristãos, perdoando e amando sempre, durante o Advento, que pede uma mudança radical de atitude rumo a santidade, nos pede que abramos nosso coração para a alegria do Santo Natal. Assim Jesus continua nascendo de Maria para nos salvar. Amém!

sábado, 14 de dezembro de 2013

15 dezembro 2013 – 3º Domingo do Advento – (Mt 11, 2-11)

“No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que João”
Evangelho: (Mt 11, 2-11)
No cárcere João ouviu falar das obras de Cristo e lhe enviou seus discípulos para lhe perguntarem: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” Jesus lhes respondeu: “Ide anunciar a João o que ouvis e vedes: os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (...) Quando eles foram embora, Jesus começou a falar de João ao povo: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? (...) Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que um profeta. Este é de quem está escrito: Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. Eu vos garanto que dentre os nascidos de mulher ninguém é maior do que João Batista. Mas o menor no reino dos céus é maior do que ele”.
COMENTÁRIO
Neste evangelho nos encontramos com João Batista preso por ordem de Herodes Antipas, filho daquele Herodes que mandou matar as crianças de Belém. Herodes Antipas mandou prender João porque ele o acusava publicamente de haver tomado a mulher de seu irmão Filipe e se casado com ela de forma irregular.
No entanto, mesmo preso, João continua cumprindo a sua missão de precursor. Para João não existem barreiras. Não se cala, não perde nenhuma oportunidade de proclamar a Boa Nova e envia alguns de seus discípulos até Jesus, para perguntar se Ele era mesmo o tão esperado Messias.
Observe que João gritava no deserto a vinda do Messias. João testemunhava que Jesus era o Messias prometido por Deus e, de repente, manda seus discípulos fazer essa pergunta a Jesus. Será que João duvidava disso?
Aparentemente, até João duvidou. Ele que recentemente havia apresentado Jesus como o Cordeiro de Deus, que disse ser indigno de desatar-lhe a sandália e que reconheceu em Jesus o Filho de Deus, agora vacila em sua fé e manda perguntar se deveria esperar outro Messias?
Nós também temos nossas dúvidas. São Tomé duvidou, Santo Agostinho e outros grandes santos duvidaram. Aliás, a dúvida não é nociva e pode ser salutar. Se bem administrada, a dúvida ajuda-nos a crescer na fé, pois nos leva a meditar e pesquisar. Por isso, não é de se estranhar que o Batista também tenha duvidado.
O Messias que João pregava e que a humanidade ansiosamente aguardava, deveria ser um juiz severo que viria para eliminar os opressores, limpar o terreiro, recolher o trigo no celeiro e queimar a palha.
No entanto, ao contrário do que se esperava, ao invés de cortar as árvores inúteis e jogá-las no fogo, Jesus mostra-se piedoso, manso, sem armas e sem um exército atrás de si. Jesus chega até mesmo a decepcioná-los, pois além de não condenar os pecadores, amigavelmente aproxima-se e come com eles.
Jesus não destrói nada e procura consertar o que está quebrado. Não queima os pecadores, muda os corações e traz esperança de salvação para todos. Reacende a luz que está se apagando e tira das trevas aqueles que, como os leprosos, são segregados e marginalizados.
É difícil aceitar um Messias assim. Jesus nada tem a ver com o homem enérgico e severo que todos esperavam. O procedimento de Jesus escandaliza João e, ainda hoje, também nos escandaliza. Quantas vezes que, através das nossas preces, pedimos para Deus intervir e castigar aqueles a quem chamamos de maus.
Felizmente o Messias, o Verdadeiro Deus é bem diferente daquilo que se esperava. Sem restrições Ele faz surgir o sol e envia a chuva sobre os justos e injustos, não porque aprove as injustiças ou por méritos dos justos, mas sim por sua infinita misericórdia.
O amor de Deus por seus filhos está caracterizado na resposta de Jesus aos discípulos de João: “Digam a ele que os cegos recuperam a vista, que os surdos ouvem, os mudos falam, os aleijados andam, os mortos são ressuscitados e os pobres estão sendo evangelizados!”
Se ainda tínhamos dúvidas, estas Palavras devem servir para eliminá-las, pois todas são sinais de salvação, nenhuma de condenação.

sábado, 7 de dezembro de 2013

08 dezembro 2013 – Imaculada Conceição – (Lc 1, 26-38)

“Bem-aventurada aquela que acreditou!”
Evangelho: (Lc 1, 26-38)
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, o anjo lhe disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Ao ouvir as palavras, ela se perturbou e refletia no que poderia significar a saudação. Mas o anjo lhe falou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?” Em resposta o anjo lhe disse: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; é por isso que o menino santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. Até Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”. Disse então Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça comigo segundo tua palavra!” E dela se afastou o anjo.
COMENTÁRIO
Rapidamente caminhamos para o final de mais um ano. Faltam aproximadamente duas semanas para o Natal do Senhor. Natal é uma data é muito significativa. O Verbo Divino se faz homem para nos salvar. A vinda do Menino Deus é o Plano de Amor colocado em prática.
O Plano de Salvação do Pai incluía também a participação de uma humilde personagem, uma criatura muito amada por Deus e por todos nós, seus filhos. Neste Evangelho nos encontramos com a jovem Maria de Nazaré. Corajosa, humilde e de uma fé inabalável.
Assim que o Arcanjo Gabriel lhe disse para não ter medo, não pensou duas vezes; acreditou e corajosamente deu o seu "Sim", para que o Plano de Deus pudesse ser executado.
O diálogo entre a Virgem e o Arcanjo mostra que devemos estar sempre abertos para ouvir aquilo que Deus nos pede. Maria estava aberta ao diálogo. Atentamente ouviu o pedido do Pai, através do Arcanjo e de imediato colocou-se a serviço.
Ao cumprimentá-la, disse o Anjo: "Alegre-se!” A alegria é o presente que recebemos do Pai, é algo que brota de dentro de nós, como dom de Deus, quando cumprimos sua vontade.
A alegria tomou conta Daquela que foi chamada por Deus de "Cheia de Graça". Cheia de Graça porque foi concebida sem pecado, isenta de tudo que ofende a Deus e ao próximo. Maria é uma criatura pura e cristalina, um verdadeiro Sacrário para abrigar o Filho de Deus.
"Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?" Esta foi sua única dúvida. Como mulher inteligente, casta e santa, não conseguia imaginar como poderia se realizar essa gravidez. Mesmo não entendendo a profundidade da resposta do Arcanjo, Maria acreditou e entregou-se totalmente a Deus.
"Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra". É assim que Maria participa da obra redentora de Deus. Mas a sua maternidade divina não é um dom só para ela. É dom para todos nós. Pela obra do Espírito Santo e pela fé de Maria, Cristo entra na história e inicia a obra de redenção da humanidade.
Nossa Mãe é repleta de virtudes, porém, a humildade e a fé nela transparecem. Saem como raios de seu interior, podem ser vistas de longe. Humildade e fé transbordam no coração da Cheia de Graça; são esses os dons que precisamos aprender cultivar e fazer crescer em nossos corações.
Deus concede suas graças conforme a missão que confia a cada um de nós. Pacientemente, Deus espera o nosso sim e, se nos escolheu para o apostolado, certamente, também nos dará as graças necessárias para cumprirmos a tarefa.
Imitar Maria, confiar e entregar-se à vontade divina, essa é a receita, assim deve ser nossa conduta, apesar de, tantas e tantas vezes, nos fazermos de desentendidos e surdos, diante do convite de Deus, para darmos continuidade ao seu projeto de salvação. 
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O que significa a Coroa do Advento?


Eu Sou a Luz do mundo (Jo 12, 8)

A vela sempre teve um significado especial para o homem, sobretudo porque antes de ser descoberta a eletricidade ela era a vitória contra a escuridão da noite. À luz das velas São Jerônimo traduzia a Bíblia do grego e do hebraico para o latim, nas grutas escuras de Belém onde Jesus Cristo nasceu.
Em casa, a noite, quando falta a energia, todos correm atrás de uma vela e de um fósforo, ainda hoje.
Acender velas nos faz lembrar também a festa judaica de “Chanuká”, que celebra a retomada da Cidade de Jerusalém pelos irmãos macabeus das mãos dos gregos do rei Antíoco IV.
Antes da era cristã os pagãos celebravam em Roma a festa do deus Sol Invencível (Dies solis invicti) no  solstício de inverno, em 25 de dezembro. A Igreja sabiamente começou a celebrar o Natal de Jesus neste dia, para mostrar que Cristo é o verdadeiro Deus, o verdadeiro Sol, que traz nos seus raios a salvação. É a festa da luz que é o Cristo: “Eu Sou a Luz do mundo” (Jo 12, 8). No Natal desceu a nós a verdadeira Luz “que ilumina todo homem que vem a este mundo” (Jo 1, 9).
Na chama da vela estão presentes as forças da natureza e da vida. Cada vela marca um ano de nossa vida no bolo de aniversário. Para nós cristãos simbolizam a fé, o amor e  o trabalho realizado em prol do Reino de Deus. Velas são vidas que se imolam na liturgia do amor a Deus e ao próximo. Tudo isso foi levado para a liturgia do Advento. Com ramos de pinheiro uma coroa com quatro velas prepara os corações para a chegada do Deus Menino.
Nessas quatro semanas somos convidados a esperar Jesus que vem. É um tempo de preparação e de alegre espera do Senhor. Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia nos convida a vigiar e esperar a vinda gloriosa do Salvador. Nas duas últimas, a Igreja nos faz lembrar a espera dos Profetas e de Maria pelo nascimento de Jesus.
A Coroa é o primeiro anúncio do Natal. O verde é o sinal de esperança e vida, enfeitada com uma fita vermelha que simboliza o amor de Deus que se manifesta de maneira suprema no nascimento do Filho de Deus humanado. A branca significa a paz que o Menino Deus veio trazer; a roxa clara (ou rosa) significa a alegria de sua chegada.
A Coroa é composta de quatro velas nos seus cantos presas aos ramos formando um círculo. O círculo não tem começo e nem fim, é símbolo da eternidade de Deus e do reinado eterno do Cristo. A cada domingo acende-se uma delas.
As quatro velas do Advento simbolizam as grandes etapas da salvação em Cristo. No primeiro domingo do Advento, acendemos a primeira vela que simboliza o perdão a Adão e Eva. Cristo desceu a Mansão dos mortos para dar-lhes o perdão. No segundo domingo, a segunda vela, acesa coma primeira, representa a fé dos Patriarcas: Abraão, Isaac, Jacó, que creram na Promessa da Terra Prometida, a Canaã dos hebreus; dali nasceria o Salvador, a Luz do Mundo. A terceira vela, acessa com as duas primeiras, simboliza a alegria do rei Davi, o rei que simboliza o Messias porque reuniu sob seu reinado todas as tribos de Israel, assim como Cristo reunirá em si todos os filhos de Deus. É o domingo da alegria. Esta vela têm uma cor mais alegre, o rosa ou roxo claro. A última vela simboliza os Profetas, que anunciaram um reino de paz e de justiça que o Messias traria. É a vela branca.
Tudo isso para nos lembrar o que anunciou o Profeta: “Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor.” (Is 11,1-2).
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. 3. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos” (Is 9,1-6).
Prof. Felipe Aquino

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Quais as atitudes interiores para o Advento?

Tempo do Advento: reconhecimento e acolhimento do Senhor que vem. Ao encerrarmos o ciclo comum do tempo litúrgico, adentramos, como Igreja, no Tempo do Advento. Ao refletirmos, liturgicamente, numa dimensão celebrativa que vise o comprometimento de vida, celebramos, nesse período, Jesus Cristo, no tempo e na história dos homens. É Ele quem vem nos trazer a salvação. É, portanto, o tempo da expectativa, e todo cristão é chamado a vivê-lo em plenitude, para que, dignamente preparado, esteja em condições de receber o Senhor que vem.

O Advento contempla, no conjunto do seu sentido espiritual, duas dimensões fundamentais. A primeira observa o mistério da Encarnação, Jesus que se encarnou, assumindo nossa humanidade. Já a segunda dimensão nos leva ao coração, para a promessa de Cristo Jesus acerca de Sua Segunda Vinda. Encarnação e Segunda Vinda de Jesus, eis os dois aspectos que devem iluminar, como um farol, a boa vivência da nossa espiritualidade nesse tempo litúrgico.

Mas quais seriam as atitudes interiores próprias para que o Tempo do Advento não passe sem realizar um efeito eficaz na nossa história de vida? Deixo aqui algumas indicações para uma boa preparação para a Vinda do Senhor:

1- Manter-se vigilante na fé e na oração, numa abertura atenta e disponível para reconhecer os "sinais" da vinda do Senhor em todas as circunstâncias e momentos da vida, até o fim dos tempos. Ou seja, viver essa saudável e tão necessária tensão escatológica, daqueles que não enfraquecem no zelo e na expectativa do cumprimento das promessas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nas promessas de Jesus repousa e baseia-se a solidez da nossa esperança. Uma esperança que não é circunstancial, mas sobrenatural e eterna. Rever a vivência do batismo, à luz dessas verdades fundamentais, ajuda-nos a dispor o coração para Deus.

2- Colocar a vida no caminho traçado por Deus, no projeto divino de salvação, ou seja, na vontade salvífica do Senhor. Isso significa não se extraviar por caminhos tortuosos, mas converter-se para seguir Jesus rumo ao Reino de Deus Pai. Essa constitui outra tensão saudável que também não pode estar ausente da vida de todo cristão que se preze: a tensão de conversão. Sem esta ninguém agrada a Deus, pois se perde a essência do homem novo, o qual se encontra em contínua construção, rumo à plenitude, que é Deus. Aquele que busca conversão caminha para o Tudo que é Deus; já o que não a busca, caminha para o nada de si mesmo, para o nada da vida.

3- Ser testemunha da alegria que Jesus Salvador nos traz com caridade afável e paciência para com os outros. Tendo por comportamento uma abertura para todas as iniciativas de bem, por meio das quais já se constrói o Reino futuro na alegria sem fim. Isso significa que a alegria salvífica deve estar sempre presente na vida testemunhal do cristão, mesmo em meio às dificuldades da vida. Jesus Cristo é a nossa alegria e salvação, rejubilemos sempre pela graça que nos foi concedida.

4- Manter um coração pobre e vazio de si, imitando São José, Nossa Senhora, João Batista e os outros pobres do Evangelho, na humildade de quem sabe reconhecer e acolher Jesus, o Filho de Deus, Salvador da humanidade. Buscar e atualizar, na vida, a centralidade do mistério de Cristo, que sempre nos favorece na preparação rumo ao encontro do Senhor Jesus que vem a nós.

Participar da Celebração Eucarística, nesse tempo do Advento, significa acolher e reconhecer o Senhor, o qual, continuamente, vem ficar no meio de nós; é segui-Lo no caminho que leva ao Pai. Com Sua vinda gloriosa, no fim dos tempos, que Ele nos introduza, todos juntos, no Reino, para nos fazer "tomar parte na vida eterna" com os bem-aventurados e santos do céu.

Que a vivência desse tempo litúrgico seja fecundo na vida de todos nós. Uma caminhada de recolhimento, que traz em si o potencial de purificar a vida na justiça e na verdade, preparando os caminhos do Senhor. Que o Cristo não nos encontre passivos, indiferentes, excessivamente preocupados com aquilo que passa, aponto de não percebermos o valor e a presença do Eterno que vem a nós. Sejamos todos ativos e comprometidos nas atitudes interiores que o Senhor nos chama a viver, para que nossa esperança seja vivificada. Tomemos cuidado com o materialismo e o excesso de atividades terrenas. Tais realidades são perigosas e capazes de desviar e esvaziar a vida do seu verdadeiro e mais profundo mistério: apontar para uma caminhada perseverante rumo à eternidade! Seja ativo e concreto nas suas respostas de vida, em função do mistério celebrado e vivido. Creia para viver com sabedoria a vida terrena, e viva intensamente de acordo com sua fé, que deve sempre apontar para o Céu. Eis o cristão de verdade, sem falsidade, que caminha com sabor de eternidade!


Padre Eliano Luiz Gonçalves
Vice-reitor do Seminário Diocesano N.S. Mãe dos Sacramentos