quinta-feira, 28 de novembro de 2013

01 dezembro 2013 – 1º Domingo do Advento – (Mt 24, 37-44)

“Vigiai, porque não sabeis o dia em que chegará vosso Senhor”
Evangelho: (Mt 24, 37-44)
A vinda do Filho do homem será como nos dias de Noé. Nos dias que antecederam o dilúvio, as pessoas comiam, bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Elas nem se deram conta, até que veio o dilúvio e as arrastou a todas. Assim será a vinda do Filho do homem. Estarão dois na lavoura, um é levado e o outro é deixado. Duas mulheres estarão moendo trigo no moinho, uma é levada e a outra é deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia em que chegará o Senhor. Vós bem sabeis que, se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, estaria de vigia e não deixaria arrombar-lhe a casa. Por isso estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais virá o Filho do homem.
COMENTÁRIO
Estamos iniciando um novo Ano Litúrgico. São três os anos litúrgicos, ano A, B e C. Este é o ano A. Estaremos refletindo o evangelho de São Mateus. Diferentemente do ano civil, o ano litúrgico não tem seu início no primeiro dia do mês de janeiro, mas sim no primeiro domingo do Advento.
Advento significa vinda, chegada. É tempo de espera, é o período de quatro semanas que antecede o Natal. É uma época muito bonita e festiva, com muitas tradições, luzes e presentes. É tradição enfeitar e limpar as casas no Natal, afinal elas devem estar limpinhas para receberem um convidado muito especial.
No entanto, é muito triste saber que milhares de casas são enfeitadas para acolher somente o papai-noel. Poucos estão cientes que o ilustre convidado não é uma lenda de barbas brancas, mas sim Jesus Cristo. Advento é tempo de preparação para receber o Menino Deus. Vamos então, começar a faxina e preparar uma grande festa para o aniversariante que quer, mais uma vez, renascer em nós.
Vamos aproveitar este período e prepararmo-nos para acolher o verdadeiro motivo desta festa. O amor é o detergente que limpa e embeleza, é luz que ilumina. Só através dele e da convivência fraterna poderemos transformar os corações em aconchegantes manjedouras para acomodar o Salvador do Mundo.
O evangelho de hoje, a princípio, parece assustador. Fala que Jesus virá como no tempo de Noé. Lembra o dilúvio que, praticamente, eliminou todos os seres vivos da face da terra.
Se levarmos ao pé da letra o que acabamos de ler, podemos chegar a conclusão de que Deus não nos ama e que está só esperando uma pequena distração para, sorrateiramente, chegar, julgar e condenar.
Certamente não é assim o Nosso Deus. Jesus nos ama e deu sua própria vida para nos salvar. Deus quer o melhor para cada um de nós, no entanto Ele alerta que é preciso estar atento e vigilante, pois caso contrário poderá ser tarde quando realmente chegar o dia do juízo final. 
Ninguém deve se desesperar, mas também não pode negligenciar. Estar atento significa viver calmamente como se fossemos eternos e, ao mesmo tempo, viver intensamente a partilha e o amor, como se fosse hoje nosso último dia. Resumindo: o que parece uma previsão sombria, é na verdade uma boa notícia.
O Evangelho é sempre uma Boa Notícia, uma mensagem de alegria e de esperança. A Palavra de Deus é vida e salvação. Deus sempre nos fala de forma muito clara. Por isso, se a leitura bíblica nos traz medo e angústia, significa que não estamos entendendo, nem vivendo, a verdadeira mensagem do evangelho. 
Se soubéssemos o dia e a hora, nunca teríamos a casa arrombada. Como não temos essa informação, a única alternativa é manter uma constante vigilância para preservar nosso patrimônio. Hoje estamos muito bem, porém amanhã... como será nosso amanhã? Só Deus é quem sabe, por isso só quem estiver preparado terá preservado seu mais caro patrimônio, a própria vida.
Para preservar a vida é preciso perceber a presença constante de Jesus orientando-nos a trilhar seus caminhos, ensinando como se aproximar sem escravizar e como construir um mundo de paz, de justiça e de amor.
O Filho do Homem não tem a menor pretensão de chegar de surpresa. Tranqüilize-se, felizmente Ele já chegou. Jesus está aqui e dá garantias de vida eterna para quem enxergá-lo no próximo.

Início do Ano Litúrgico

O Ano Litúrgico começa com o advento, que significa "preparação para a chegada". No dia 01 de dezembro de 2013, primeiro domingo do advento, inicia-se um novo Ano Litúrgico, seguindo o evangelho de Mateus (Ano A).

Nossa vida cotidiana é uma eterna correria e, de repente, nos damos conta de que adquirimos muita experiência, porém estamos mais velhos e cansados. Visto dessa forma, o tempo parece nos aprisionar e condenar a um destino fatal.

A perspectiva bíblica sobre o tempo é bem outra. A encarnação de Jesus inaugurou o tempo novo da graça e da salvação.

O Reino já está presente neste mundo e será pleno na eternidade. Assim, o momento atual é o tempo e o lugar para usufruirmos a vida nova na força do Espírito Santo e alcançarmos a salvação definitiva.

Eis que o nosso tempo se transforma numa esperançosa história de salvação que revela o amor e a misericórdia de nosso Deus providente. Há somente um pré-requisito para fazer parte desta história: "convertei-vos e crede na Boa-Nova". Este chamado acompanhará o cristão durante toda a sua vida.

Hoje, entre nós, se manifesta a graça, assim como Jesus afirmou na sinagoga de Nazaré, quando proclamou o profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista".
Ao final da leitura, solenemente afirmou: "Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura".

O Ano Litúrgico é um contínuo "hoje", pois a salvação é sempre atual e está a nossa mão.

O Espírito Santo atualiza, por seu poder transformador, o mistério de Cristo.

O Ano Litúrgico, celebrado pela Igreja, quer nos colocar eficazmente em contato com a salvação oferecida gratuitamente pelo Senhor. Ao celebrar os eventos protagonizados por Cristo, a Igreja faz memória deles e torna-nos contemporâneos. O Ano Litúrgico comemora o próprio Cristo, em movimento no tempo e no espaço a continuar sua obra salvífica.

A celebração destes acontecimentos reproduz em nós a vida e a imagem do Filho de Deus, para que cada vez mais possamos ser transformados no mistério que celebramos. Cada mistério da vida de Cristo implica diretamente em nossa vida e em nosso destino final de filhos de Deus.

Possa cada um de nós acompanhar, com vontade, com amor, com humildade, os passos de Jesus, através do Ano Litúrgico que em breve se iniciará.

Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 

sábado, 23 de novembro de 2013

Encerramento do Ano da Fé

Perseverar na Alegria da Fé

Chegamos ao final do Ano da Fé. Tivemos oportunidade para 
fazer crescer e fortalecer a fé teologal em nossa vida pessoal 
e comunitária.
Deus revelou a sua face. Quis viver no meio de nós, para que 
pudéssemos conhecê-lo e amá-lo. Jesus Cristo é a verdadeira 
revelação de Deus (cf. Jo 14, 9). Assim sendo, podemos crer 
em Deus, porque Deus nos toca, porque Ele está em nós. 
Podemos nele crer, porque está naquele que nos enviou: Ele 
viu o Pai (cf. Jo, 6, 46); ele é “o único a conhecê-lo e que pode 
revelá-lo”. Poderíamos dizer então que “a fé é a participação 
no olhar de Jesus”.
Por outro lado, a fé não é um ato individual, mas eclesial. “Uma 
comunidade paroquial e também toda Igreja local que não seja 
capaz de comunicar com palavras novas a Palavra eterna, 
que não seja capaz de gestos, sinais, caminhos corajosos, 
buscados e experimentados com criatividade, poderia ser 
um perigoso sinal de declínio na resposta ao dom da fé que o 
Espírito dá, constantemente, a todos” (Viver o Ano da Fé, Ed. 
CNBB, pág. 181).
Redescobrir a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo na 
comunicação da fé será um dos grandes frutos do Ano da Fé.
O sentido de pertença à Igreja implica a consciência de que a 
fé vive pela transmissão dentro de uma tradição que leva até 
Cristo. Não interrompamos essa transmissão. Escrevamos e 
gravemos o Símbolo da fé na memória e no coração, para fazer 
dele nossa oração de cada dia.
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

24 novembro 2013 – Cristo Rei – (Lc 23, 35-43)

“Pois eu te digo que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”
Evangelho: (Lc 23, 35-43)
Os sumos sacerdotes zombavam de Jesus, dizendo: “Ele salvou os outros; se for o Cristo de Deus, o Eleito, salve-se a si mesmo”. Também os soldados aproximavam-se para oferecer-lhe vinagre e zombavam, dizendo: “Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo”. Pois havia também uma inscrição acima dele: “Este é o rei dos judeus”. Um dos criminosos crucificados insultava-o, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. O outro, porém, o repreendeu, dizendo: “Nem tu, que estás sofrendo a mesma condenação, temes a Deus? Nós sofremos com justiça porque recebemos o castigo merecido pelo que fizemos, mas este nada fez de mal”. E falou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres como Rei”. E Jesus lhe respondeu: “Eu te asseguro: ainda hoje estarás comigo no paraíso”.
COMENTÁRIO
Celebramos hoje a Festa de Cristo Rei. O Único e Verdadeiro Rei. Rei do universo, das nossas vidas, das famílias e dos corações. Com a Festa de Cristo Rei nós encerramos o ano litúrgico C.
Na próxima semana iniciamos o ano A e comemoraremos o primeiro domingo do Advento. Advento é tempo de preparação e de espera para a vinda do Menino Deus. É o início da caminhada de um novo ano litúrgico. 
A festa de Cristo Rei do Universo é um prêmio para todo cristão, é a forma que a Igreja encontrou para coroar todos os esforços e trabalhos das comunidades. Uma festa que é, ao mesmo tempo, de extrema nobreza e humildade.
Festejamos Jesus, o Rei dos reis, que sendo Filho de Deus não assumiu o poder nem os símbolos da grandeza humana, mas vestiu-se com as roupas da humildade, da simplicidade e da pobreza. Um Rei nobre por natureza, capaz de vencer sem destruir, que fez do amor sua única arma.
"Salvou aos outros, salva-te a ti mesmo!" Estas palavras que a princípio parecem insultos e gracejos, são na verdade, um grande testemunho do poder e da bondade de Deus, dado pelos chefes do povo. Ao afirmar que Jesus já salvara aos outros, sem perceber, eles estavam proclamando que Jesus era o Salvador.
Jesus não veio para salvar a si próprio. Jesus veio para salvar almas, para redimir-nos do pecado e salvar a humanidade. O Projeto de Salvação do Pai incluía sua morte na cruz. Por amor entregou sua própria vida e nos fez entender que a verdadeira Salvação não consiste em preservar o corpo, mas sim a alma.
O Rei foi colocado entre marginais e crucificado como um malfeitor. Foi difamado, chicoteado, coroado de espinhos, mas não perdeu sua realeza. Jesus nos ensina também a sofrer com resignação. Na cruz, diante de tanto sofrimento e injúrias, ciente de sua inocência, não blasfemou nem maldisse sua sorte.
O Rei dos reis deu novo sentido à cruz. O que antes representava infâmia e vergonha tornou-se símbolo de Salvação. Jesus disse que, se alguém deseja salvar-se, deve renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lo. Testemunhar a cruz como o único caminho que leva à salvação, é missão do súdito do Rei.
Este evangelho é muito rico em ensinamentos. Temos muito que aprender também com a mensagem dos dois ladrões. Tão próximos e tão distantes de Jesus. Assim como toda humanidade, eles estavam condenados a morte. No entanto, apesar de ambos estarem ao lado do Salvador, um acabou morrendo sem conhecer a Salvação.
Isso prova que não basta estar ao lado de Jesus. Não é suficiente viver num ambiente cristão para ganhar a vida eterna. A proximidade física não garante a salvação. O Paraíso é conquistado através do arrependimento e conversão, é um prêmio para quem humildemente declarar-se pecador e viver o amor. 
Um deles insultava, questionava a divindade e tentava testar os poderes de Jesus. O outro levado pela graça divina converteu-se, acreditou, deixou-se levar pela fé e recebeu de Jesus a promessa de salvação.
Numa clara demonstração de sua infinita misericórdia para com os pecadores, Jesus lhe dá garantias da felicidade eterna. "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso!" Com estas Palavras Jesus afirma que nunca é tarde para a reconciliação e nos convida a entregarmos a própria vida em favor da vida.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Término do Ano da Fé

Neste ano, na Festa de Cristo Rei, finalizando o Ano Litúrgico, também encerramos o Ano da Fé. Foi tempo (11/10/2012 a 24/11/2013) de reflexões, encontros, simpósios e outras iniciativas, numa tentativa de revitalização da fé e motivação para uma vivência cristã mais comprometida com a missão da Igreja.

A fé é dom de Deus, mas passa pelos caminhos da cruz, onde Cristo foi proclamado “rei dos judeus”. É o reinado da fé, um ato de obediência e de seguimento consciente do reino do alto, diferente do reino puramente terreno. Reino da doação, da construção de valores que irrompem na cultura secularizada. 

Na história da vida humana, enfrentamos malfeitores e atitudes que desqualificam a identidade do indivíduo. Diante de tudo que acontece na convivência, somos compelidos a fazer escolhas, de aceitar ou repelir as diversas propostas do bem. Isto reflete as atitudes emanadas dos dois crucificados na cruz com Jesus Cristo.

“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Aquele que foi qualificado como “bom ladrão”, consciente de seus atos escusos, expressa uma situação própria pedida pelo do Ano da Fé. Ele reconhece seus erros e entende a infinita misericórdia do Senhor. Recupera sua prática de fé e é acolhido na “mansão dos vivos”. 

O verdadeiro rei seja político, líder, pai ou mãe, não pode ser avesso às exigências de seu público. Em concreto, é um a serviço de todos, tendo os mesmos sentimentos que expressam o querer social. Na dimensão de fé, o “rei” existe para servir e não para ser servido. Pior ainda quando explora a insensibilidade de seus dirigidos.

Viver intensamente a fé em Deus é fazer um ato de libertação. Resgatar a humanidade das condições de opressão, dos antivalores do mundo, que impedem a realização dos meios pelos quais acontece o “já” e o “ainda não” da plenitude da vida. O “rei” que não tem princípios de fé não consegue enxergar as realidades mais profundas da dignidade da pessoa humana e não põe em prática os valores do reino divino.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.

Jesus, o Cristo e Senhor de nossas vidas

Jesus, o Cristo e Senhor de nossas vidas! Quanta tinta e quanta fala gerou esse nome! "A fé cristã está centrada em Cristo; é confissão de que Jesus é o Senhor e que Deus O ressuscitou de entre os mortos" (Rm 10, 9). Mas não somente a fé cristã, como afirma a encíclica Lumen Fidei. 

O mundo inteiro se concentra em Cristo, a História foi dividida em duas partes, antes e depois Dele, o universo foi criado por Ele. "A história de Jesus é a manifestação plena da fidelidade de Deus. … a vida de Jesus aparece como o lugar da intervenção definitiva de Deus, a suprema manifestação do seu amor por nós."

Acontece que precisamos de garantias. O humano não quer explicações, quer garantias. Na hora da dor, de pouca ajuda serve explicar que tal coisa aconteça assim por causa de outra coisa. São apenas explicações mecânicas. Na hora da dor, na solidão suprema, da angústia, da morte, nada explica. Só uma garantia garante. 

Mas, mesmo assim, não qualquer uma. "Não há nenhuma garantia maior que Deus possa dar para nos certificar do seu amor, como nos lembra São Paulo (Rm 8, 31­39). Portanto, a fé cristã é fé no Amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo." É essa a garantia de que precisamos, sem ela não podemos viver.

Algo precisa nos garantir nas incertezas da vida. Mas não algo qualquer. Alguém precisa nos garantir na ronda das ameaças da morte. Mas não qualquer um, um alguém qualquer. Nem um ato qualquer. Nem um gesto qualquer. "A maior prova da fiabilidade do amor de Cristo encontra-­se na sua morte pelo homem. Se dar a vida pelos amigos é a maior prova de amor (Jo 15, 13), Jesus ofereceu a sua vida por todos, mesmo por aqueles que eram inimigos, para transformar o cração." É o que nos lembra o papa Francisco. E em boa hora nos lembra.

A cansada pós-modernidade, depois de ter retirado todos os esteios onde o homem antes dela se apoiava para descansar, para continuar, para viver, depois de tudo o que aconteceu, repito, a cansada pós-modernidade se encontra esvaziada do sentido que roubou do homem e da ausência de sentido que lhe deixou como herança. 

Sim, nos tornamos mais capazes. Sim, nos tornamos mais independentes. Sim, nos tornamos mais livres. E agora, fazemos o quê com nossa capacidade, nos serve de quê a independência pela qual lutamos, para onde dirigirmos a liberdade que nos queima nas mãos? "…os evangelistas situam, na hora da Cruz, o momento culminante do olhar de fé: naquela hora resplandece o amor divino em toda a sua sublimidade e amplitude…. é precisamente na contemplação da morte de Jesus que a fé se reforça e recebe uma luz fulgurante, é quando ela se revela como fé no seu amor inabalável por nós, que é capaz de penetrar na morte para nos salvar. Neste amor que não se subtraiu à morte para manifestar quanto me ama, é possível crer; a sua totalidade vence toda e qualquer suspeita e permite confiar­nos plenamente a Cristo."

Essa é a única resposta cabível para as perguntas que ficaram suspensas antes da citação da encíclica. Não é ruim sermos capazes ou independentes ou livres. Pelo contrário. São valores que já custaram sangue. Mas se toda conquista humana reverter apenas numa dose cada vez maior de autossuficiência, então, nenhuma dessas conquistas poderá conceder ao homem o dom da única garantia de que ele precisa para viver: a garantia de ser amado. Sem ela, sobra o desespero. Mas essa, só o Pai concede. Essa tem nome: seu nome é Jesus. 

Nele brilha o amor do Pai por nós. "Se o amor do Pai não tivesse feito Jesus ressurgir dos mortos, se não tivesse podido restituir a vida ao seu corpo, não seria um amor plenamente fiável, capaz de iluminar também as trevas da morte." Ele é a nossa garantia. Em boa hora o papa nos lembra.

Uma última palavra. Ainda se ouve um jargão antigo: Cristo sim, Igreja não. Como se fosse possível separar a cabeça do corpo. E como se fosse possível viver comodamente uma fé em Cristo que, pela sua irradiante comodidade, dispensasse o convívio dos irmãos, no duro massacre do dia-a-dia, que é justamente onde e quando demonstramos a fé que nos anima. Essa fé cômoda não induz crescimento algum. 

Traz apenas os benefícios de uma piedade autogratificante, centrada nas urgências e nas necessidades de cada um, com forte apelo emocional, mas pouco embasamento bíblico-litúrgico-eclesial. A Igreja é o corpo místico de Cristo. "A imagem do corpo não pretende reduzir o crente a simples parte de um todo anônimo, a mero elemento de uma grande engrenagem; antes, sublinha a união vital de Cristo com os crentes e de todos os crentes entre si (Rm 12, 4­5)" – diz a encíclica – "a fé torna-­se operativa no cristão a partir do dom recebido, a partir do Amor que o atrai para Cristo (Gl 5,6) e torna participante do caminho da Igreja, peregrina na história rumo à perfeição. Para quem foi assim transformado, abre-­se um novo modo de ver, a fé torna-­se luz para os seus olhos."

Somos membros do mesmo corpo, comungamos do mesmo Pão que é o Corpo do Senhor. Somos a Igreja de Jesus, o Povo de Deus a caminho, o corpo místico de Cristo. A analogia do corpo nos diz bem quem somos: somos membros, responsáveis uns pelos outros. 

Portanto, que nenhuma manifestação ou vivência de fé nos isole em compartimentos fechados, mas, justamente, ao contrário, que seja a Fé, virtude teologal e dom do Batismo a força a sempre nos impelir a perguntar: "Em que posso servir?" Motivos não nos faltam, e o maior deles, com certeza, é a garantia de que somos amados por um amor sem medida: o amor de Jesus, o Cristo e Senhor de nossas vidas! 

Dom José Francisco Rezende Dias 
Arcebispo Metropolitano de Niterói

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Homilia do 33º. Domingo do Tempo Comum – Ano C

Ao nos aproximarmos do fim do ano litúrgico, meditamos sobre o fim dos tempos. Como na semana passada, seguimos refletindo sobre as nossas realidades últimas.

As leituras deste domingo pedem uma boa interpretação. É preciso ter cuidado para que a linguagem apocalíptica não seja tomada ao pé da letra, para que a Palavra de Deus não seja motivadora do medo. Note-se a dramaticidade da primeira leitura: “esse dia vindouro haverá de queimá-los...” Textos apocalípticos nos convidam a pensar na seriedade da vida, mas não devem nos assustar. O nosso Deus é misericordioso, compassivo, amável. Ele não pode dizer uma coisa e depois entrar em contradição. Se lermos o Evangelho com atenção, saberemos que quando Cristo vier, virá com todo o amor que lhe é próprio. A Palavra sobre o fim quer nos dar esperança. As palavras duras servem para ressaltar a seriedade do fim dos tempos.

Vivemos desde já o fim dos tempos. Não se trata de um tempo cronológico, pois o fim do mundo não tem data marcada. Entre a Páscoa e a Parusia (vinda do Senhor) temos o nosso tempo (o tempo penúltimo), quando vivemos na espera pelo que virá. Antigamente, era comum nos perguntarmos: “para onde vamos?”, “teremos a recompensa do Céu?”. Hoje, o importante é refletir sobre o tempo presente: “Como acolher a eternidade que já vem a nós antecipadamente?”, “Em que medida a esperança da salvação nos faz viver esta vida de um modo comprometido?”.

Por isso, São Paulo alertou a comunidade de Tessalônica quanto ao desleixo com as coisas do mundo. Consideravam que era tão certa a vinda imediata de Cristo, que resolveram parar de trabalhar, cruzaram os braços. O apóstolo ensina que esperar a vinda não significa se esquecer da vida.

É preciso também ter prudência. Há muitos cristãos católicos (não só nas seitas) que gostam de falar de revelações sobre os últimos tempos: pregam uma série de práticas para se prevenir do fim do mundo, marcam datas, demonizam tudo e todos, falam do futuro da Igreja, do próximo papa... “Muitos dirão: o tempo está próximo! Não sigais essa gente!” (Lc 21,8c). É preciso preocupar-se com a vida presente e concreta e o modo como podemos contribuir para que o Reino aconteça, sem fugas.

Neste tempo, será necessário enfrentar as tribulações da vida com esperança e fé: “Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”. Não é possível fugir das dificuldades da vida. Mas, embora tenhamos cruzes, Deus não nos desampara. Ele nos sustenta em cada momento de nossas vidas. Assumir a vida com responsabilidade nos leva a enfrentar situações que se opõem a presença do Reino de Deus. É preciso confiar que, embora haja perseguição, o próprio Deus nos dará palavras acertadas (Lc 21,15).

Os discursos sobre o fim dos tempos nos remetem à seriedade da vida: nós vamos morrer um dia, o mundo será restaurado para que o Reino de Deus seja pleno. E nós? Cada um tem a sua tarefa, a sua responsabilidade no hoje, na construção do futuro de Deus. Ele poderia fazer tudo sozinho, mas no seu mistério de amor, deseja que cada um de nós seja seu colaborador. Note que a questão não é fazer o bem para angariar pontos para ir para o Céu, mas ser co-criador, co-laborador da obra de Deus que se chama Reino. Disto depende nossa eternidade, não porque o Senhor irá nos castigar pelos pecados, mas porque é nesta vida que vamos orientando o nosso coração para o amor ou para o egoísmo que nos afasta de Deus. O que vem depois depende desta orientação do coração. Ouçamos a voz do senhor que nos diz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19).

Pe. Roberto Nentwig

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

10 novembro 2013 – 32º Domingo do Tempo Comum – (Lc 20,27-38)

“Na ressurreição, de quem a mulher será esposa?”
Evangelho: (Lc 20,27-38)
Alguns do partido dos saduceus, que negam a ressurreição, aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram: “Mestre, Moisés nos deixou escrito: Se um homem casado morrer deixando a mulher sem filhos, case-se com ela o irmão dele para dar descendência ao morto. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. Da mesma forma o segundo, o terceiro, e sucessivamente os sete casaram-se com ela e morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. Na ressurreição, de quem ela será mulher, se os sete a tiveram por esposa?” Jesus lhes disse: “Nesta vida as pessoas casam-se e se dão em casamento. Os que forem considerados dignos, porém, de ter parte na outra vida e na ressurreição dos mortos, não se casam nem se dão em casamento. É que eles já não podem morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, uma vez que já ressuscitaram. Aliás, que os mortos hão de ressuscitar, o próprio Moisés dá a entender na passagem da sarça, quando diz: O Senhor Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó. Ele não é Deus de mortos mas de vivos, uma vez que para ele todos vivem”.
COMENTÁRIO 
Neste Evangelho, encontramos Jesus rodeado por alguns doutores da lei, chamados saduceus, que o procuraram para testá-lo, para colocá-lo a prova.
O grupo dos saduceus era formado por sacerdotes e leigos da alta sociedade. Eram pessoas ricas e influentes, subordinadas aos romanos e por isso, odiadas pelo povo e também pelos fariseus. No entanto, Apesar da aparente inimizade, por diversas vezes, fariseus e saduceus, uniram-se para combater Jesus.
Encontrar alguma falha em Jesus era para eles uma obsessão. Os saduceus não acreditavam na ressurreição dos mortos e negavam a Providência Divina. Para tentar justificar sua descrença, quiseram saber a opinião de Jesus a respeito da Lei de Moisés que dispunha sobre o matrimônio.
Toda nossa inteligência e raciocínio estão muito longe de entender o que nos espera na eternidade, mas pelo visto, querer enxergar as coisas de Deus com olhos humanos é coisa antiga. Com os saduceus era assim e parece que deles, herdamos a mesma mania.
Assim como os saduceus, nós também temos um conceito bem distorcido a respeito da vida eterna. Encaramos a eternidade como uma simples continuidade desta vida. Preocupamos-nos inclusive, em juntar tesouros, como se fôssemos realmente levá-los e utilizá-los no Paraíso.
Uma certeza nós temos: maravilhas que os olhos humanos jamais viram, Deus Pai reservou para nós no Céu. No entanto, não conseguimos entender a amplitude dessas maravilhas. Nossa postura com relação à vida eterna é parecida com a posição de um migrante ou turista. Parece que vamos somente para uma nova cidade, estado ou país, onde os nossos sonhos serão realizados.
Nosso entendimento é tão limitado, que nos leva a traçar um comparativo com as coisas boas que conhecemos. Por isso achamos que essas maravilhas de Deus se resumem em saúde, segurança, conforto, terra, emprego e uma série de coisas que almejamos, sempre relacionadas com nosso dia-a-dia.
A primeira resposta de Jesus, aos saduceus ressalta que o matrimônio é uma instituição deste mundo em que homens e mulheres morrem. A finalidade do casamento é conservar a espécie, através de novos nascimentos. Mas isso é uma necessidade apenas para este mundo.
Ao professarmos nossa fé, afirmamos que cremos na ressurreição da carne e na vida eterna, portanto, após a ressurreição, não haverá mais morte nem nascimento. A alma não morre, porém a carne ressuscitará e assumirá um corpo imortal, semelhante aos anjos, por isso não haverá necessidade da união entre esposa e marido.   
Nunca é demais lembrar que, na mesma oração de profissão de fé, também afirmamos que cremos que Jesus Cristo Ressuscitado, virá para julgar os vivos e os mortos. Por tudo isso, devemos viver a justiça e o amor, pois Jesus disse também que o justo não conhecerá a morte eterna.
A fé e a esperança na ressurreição devem se traduzir num compromisso em defesa da vida. Sabemos o que isso implica para nós enquanto comunidade. Acreditar no Deus dos vivos nos leva a lutar contra a opressão e injustiças. A certeza da ressurreição deve transformar vizinhos em irmãos.
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

terça-feira, 5 de novembro de 2013

05 de Novembro - São Zacarias e Santa Izabel

Embora os nomes desses santos não estejam presentes no calendário litúrgico da Igreja, há muitos séculos a tradição cristã consagrou este dia à veneração da memória de são Zacarias e santa Isabel, pais de são João Batista. 

Encontramos a sua história narrada no magnífico evangelho de são Lucas, onde ele descreveu que havia, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias; a sua mulher pertencia à descendência de Aarão e se chamava Isabel. Eles viviam na aldeia de Ain-Karim e tinham parentesco com a Sagrada Família de Nazaré. 

Foram escolhidos por Deus por sua fé inabalável, pureza de coração e o grande amor que dedicavam ao próximo. Isabel, apesar de sua santidade, era estéril: uma vergonha para uma mulher hebréia, que era prestigiada somente através da maternidade. Mas foi por sua esterilidade que ela se tornou uma grande personagem feminina na historia religiosa do Povo de Deus. Juntos, foram os protagonistas dos momentos que antecederam o mais incrível advento da historia da humanidade: a encarnação de Deus entre os seres humanos. 

Estavam velhos, com idade avançada, e como não tinham filhos, julgavam essa graça impossível de ser alcançada. Foi quando o anjo do Senhor apareceu ao velho sacerdote Zacarias no templo e disse-lhe que sua mulher, Isabel, teria um filho que teria o nome de João, que significa "o Senhor faz graça". O menino seria repleto do Espírito Santo desde a gestação de sua mãe, reconduziria muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus e seria precursor do Messias. 

Zacarias, inicialmente, manteve-se incrédulo ante o anúncio celeste do nascimento de um filho pelo qual havia rezado com tanto ardor; para que pudesse crer, precisou de um sinal: ele ficou mudo até que João veio à luz do mundo. Na ocasião, sua voz voltou e ele entoou o salmo profético em que, repleto do Espírito Santo, profetizou a missão do filho. 

Enquanto isso, devido à proximidade da maternidade, Isabel recolheu-se por cinco meses, para estar em união com Deus. Os dias ela dividia em três períodos: de silêncio, oração e meditação. E foi assim que Isabel, grávida de João e inspirada pelo Espírito Santo, anunciou à Virgem Maria, sua prima, quando esta a visitou: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre". 

Após o nascimento de João, Zacarias e Isabel recolheram-se à sombra da fama do filho, como convém aos que sabem ser o instrumento do Criador. Com humildade, alegraram-se e satisfizeram-se com a santidade da missão dada ao filho, sendo fiéis a Deus até a morte.

http://www.paulinas.org.br/

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Homilia da Celebração de Finados

Hoje a Igreja nos convida a orarmos pelos que já partiram. Por que oramos pelos mortos? Nós, católicos, acreditamos que a morte não nos priva de uma comunicação com os irmãos e irmãs. Ou seja, podemos rezar pelos que já partiram. Quando fazemos isso, unimo-nos aos falecidos em Deus, amamos os falecidos no amor de Deus, pois toda oração é um gesto de amor; se esta é eficaz para ajudar os vivos, será também útil para dar forças para aqueles que precisam completar o seu caminho. A fundamentação bíblica mais clara a este respeito está em 2Mac 12,38s.: Judas Macabeus percebe que os soldados mortos de seu exército tinham cometido idolatria; diante da prática dos idólatras, o exército fez súplicas para que Deus perdoasse o pecado cometido.

Rezamos pelos mortos para que eles completem o que ainda falta para serem plenos, pois apenas desfrutaremos da glória quando estivermos plenamente convertidos, santificados. O Céu não é um lugar em que se entra, mas a participação do amor de Deus de acordo com a mudança de coração de cada pessoa. Quem não muda o coração aqui, terá a mesma dificuldade para fazê-lo depois da morte, antes de participar das alegrias eternas; por isso, é melhor começar aqui. O que chamamos de Purgatório não é um lugar de tormentos, mas uma última oportunidade de conversão para Deus, de total empobrecimento de si, uma graça que Deus nos concede para que sejamos plenos à estatura do Cristo Jesus (Ef 4,13). A nossa oração dá forças para que os falecidos façam o seu caminho.

Algumas reflexões importantes:
1. O Céu não é somente uma conquista, mas um dom de Deus, que deseja que todos participem de sua morada, que nenhum de seus filhos e filhas se percam (Jo 6,39). Não podemos acreditar em um Deus que quer a nossa condenação, nem achar que vamos sozinhos, somente pelos nossos esforços, para o céu.

2. Não acreditamos em um mundo totalmente espiritualizado, mas na ressurreição dos mortos. Oficialmente, a Igreja ensina que aguardamos (mesmo aqueles que já veem Deus face a face) o dia da plenitude do Reino definitivo. Então acontecerá a ressurreição dos mortos. Deus nos dará um corpo imperecível e renovará toda a criação – o mundo visível, material. Portanto, este mundo não deve ser desprezado, pois será renovado para a glória de Deus. Na morada do Céu seremos nós mesmos, com nossa consciência, e teremos a lembrança de nossa história e das pessoas que conviveram conosco.

3. A vida é efêmera. Presenciamos mortes de idosos, de jovens, mortes previsíveis e repentinas. Não sabemos quando será o fim de nossa vida terrena. Lembrar-se dos que morreram é uma boa oportunidade para pensar sobre a nossa vida. A existência terrena tem consequências eternas. O que cada um de nós está fazendo de sua vida? Estamos preparados para fazer a nossa páscoa para a vida totalmente renovada e prometida pelo Senhor?


Vivemos movidos pela esperança da eternidade. Nossa fé vive unida à esperança. Hoje a saudade não deve ser maior do que a certeza da vitória “escrita e gravada com ponteiro de ferro e com chumbo, cravada na rocha para sempre”. Um dia esperamos nos encontrar todos no banquete do Céu. Lembremos de que a Eucaristia já é a antecipação desta vida nova. O Céu começa em nós, em você.

Pe. Roberto Nentwig

http://catequeseebiblia.blogspot.com.br/