quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Homilia da Solenidade de Todos os Santos

A Igreja professa a fé na Comunhão dos Santos, pois cremos que existe uma comunhão entre o Céu e a Terra. Os santos do Céu podem interceder por nós, já que estão mais próximos de Deus, como nos diz S. Teresinha: “Passarei o meu Céu fazendo o bem a Terra.” Nós também podemos orar pelos que já partiram, pedindo que tenham a graça de darem o último passo na sua conversão rumo à plenitude no Céu.

Hoje celebramos todos os santos. Não somente aqueles que são canonizados, ou seja, reconhecidos pela Igreja como tais. Mas todos aqueles que já estão na glória de Deus, que participam da santidade de Deus são santos. Entre eles estão mães e pais de família, trabalhadores simples, jovens sinceros, crianças; estão pessoas de todas as classes, línguas e crenças. Por isso, a primeira leitura fala de uma multidão de redimidos que estão “... de pé diante do trono do Cordeiro...” (Ap 7,10). Trata-se de uma grande multidão: os 144 mil representam uma totalidade, provavelmente simbolizam a multidão do AT e do NT, já que 12 são as tribos de Israel e 12 são os apóstolos, multiplicados por 1000. Ou seja, representam uma grande quantidade de pessoas (12X12X1000).

A princípio só Deus é Santo: Ele é perfeito, sem pecado. Mas, Deus nos quer santos: “Sede santos, como o vosso Pai do Céu é santo!” Ao olhar para o Céu, vemos aquilo que nós desejamos ser. Os santos do Céu já são aquilo que nós queremos ser – nós devemos almejar a santidade, almejar o Céu. “Para essa cidade caminhamos, pressurosos, peregrinando na penumbra da fé.” (Prefácio). A segunda leitura nos fala que seremos semelhantes ao próprio Deus. Seremos ressuscitados como Cristo, gloriosos, plenamente felizes. Vivemos animados pela esperança do que ainda seremos, alegres porque a nossa vida limitada será transformada, glorificada.

Para chegar à santidade plena do Céu há um caminho. As bem aventuranças são o programa de vida para se chegar a santidade. Não é apenas o caminho para se chegar ao Céu, mas o caminho para ser bem aventurado aqui e agora, ou seja, feliz. O dom da vida eterna, o dom escatológico, não cai do céu como mágica, mas pressupõe nossa colaboração.

As bem aventuranças mostram que santidade exige liberdade: o reino é dos pequenos, dos pobres de coração (desapegados que não acumulam para si), dos puros de coração (que são sinceros, não usam máscaras), dos misericordiosos (que não julgam), dos que procuram a paz, dos perseguidos pelo amor a Deus e pela fidelidade à justiça. A primeira leitura fala de uma multidão que veio da grande tribulação. Jesus também fala “bem aventurados os perseguidos”. Isso significa que por hora estamos enfrentando as vicissitudes da vida, mas seremos libertados de toda dor. Deus irá enxugar toda lágrima de nossos olhos. Na eternidade não haverá mais morte, luto, grito ou dor, pois todas estas coisas velhas passarão (cf. Ap 21,4).

É preciso uma boa catequese sobre os santos. Ainda a religiosidade popular os considera como deuses, seres divinos que concedem graças mediante novenas, promessas e rezas diversas. Deste modo, os santos são vistos como seres míticos, ficando muito distantes dos seres de carne e osso que, como eu e você, enfrentam as durezas da existência e procuram encarnar na vida o jeito de viver do próprio Cristo. É preciso resgatar os santos como exemplo de virtude, como possibilidade para que também sejamos santos. Os santos da terra não têm auréolas, não têm uma face ingênua, não são desprovidos de emoções, não vestem necessariamente hábitos longos. Os santos são pessoas apaixonadas, que vivem a vida intensamente, que amam a Deus e amam as pessoas, que empregam suas energias para que o Reino de Deus aconteça. Os santos pensam no Céu, mas se preocupam, antes de mais nada, com as coisas deste mundo e com as questões humanas. Santos também pecam, mas não residem no pecado. Ser santo, portanto, não é beatice, não é ter medo de viver, não é abraçar um monte de proibições e normas, não é fugir do mundo e das realidades do dia a dia. Ser santo é viver como uma pessoa de carne e osso que leva a sério as opções de Jesus Cristo.

“Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos” (1 Jo 3,1). Ser santo não depende apenas de nossas forças, mas da graça de Deus. O princípio da santidade é a vida de Deus vivendo em nós. É o seu amor derramado em nossos corações, dado como presente, como dom. Ser santo é responder com amor ao amor de Deus.

Pe. Roberto Nentwig

Todos os Santos

Só tem sentido falar de “santo” se fazemos referência a Deus, tendo Jesus Cristo como critério de santidade. Ele testemunhou a prática das bem-aventuranças na convivência de seu tempo. Foi capaz de enfrentar os caminhos da vida, seja no sofrimento, como também nas alegrias, colocando sua vida como doação para o bem das pessoas e do mundo.


A santidade é fruto de uma consciência convicta de pertencer a Jesus Cristo e de colocar tudo na vida como prática de amor a Deus. Ela vem da consciência fraterna na comunidade, do respeito e do valor que damos às realidades que nos cercam. Supõe um estilo de vida marcado pela esperança, pela mansidão, pela misericórdia e pureza.

Podemos dizer que os santos são os bem-aventurados, os felizes, que conseguiram prosseguir na vida mesmo tendo que enfrentar dificuldades e sofrimentos. Estão sempre apoiados em Deus e não simplesmente nas coisas materiais, naquilo que é passageiro e que não satisfaz plenamente os desejos do coração das pessoas.

Ser santo é não duvidar do amor de Deus e nem agir com violência revidando atitudes de maldade. É decepcionar-se com as injustiças que acontecem e desrespeitam os mais fracos e indefesos. É ter a capacidade de agir com misericórdia e amor, superando conflitos, desavenças, agindo para defender um mundo de paz.

Santidade e justiça caminham juntas na construção do reino de Deus. Quem se ajusta à vontade soberana de Deus tem lugar em seu reino. É reino de valores que têm preços até de martírio, como aconteceu com o Mestre Jesus Cristo. É o preço pago pela felicidade adquirida no Evangelho, no meio de um mundo de muita hostilidade.

O mundo, no sentido pejorativo, não reconhece o valor e a dignidade de quem participa da filiação divina. Na verdade, não reconhece valores de eternidade. Tudo isto dificulta a fidelidade de quem acredita na mensagem de Jesus Cristo, caminho de santidade e de vida autenticamente feliz. Os contra valores da cultura moderna são totalmente desestimuladores de uma verdadeira santidade de vida.

Dom Paulo Mendes Peixoto


sábado, 26 de outubro de 2013

27 outubro 2013 – 30º Domingo do Tempo Comum – (Lc 18, 9-14)

“Todo aquele que se exaltar, será humilhado!”
Evangelho: (Lc 18, 9-14)
 seguinte parábola para alguns que confiavam em si mesmos, tendo-se por justos, e desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu, o outro, um cobrador de impostos. O fariseu rezava, de pé, desta maneira: ‘Ó meu Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de tudo que possuo’. Mas o cobrador de impostos, parado à distância, nem se atrevia a levantar os olhos para o céu. Batia no peito, dizendo: ‘Ó meu Deus, tem piedade de mim, pecador!’ Eu vos digo: Este voltou justificado para casa e não aquele. Porque todo aquele que se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.
COMENTÁRIO 
Hoje comemoramos também o Dia Nacional da Juventude, cujo tema deste ano é “Juventude e missão” e o lema “Jovem: levanta-se, seja fermento”. Neste dia festivo, vamos rezar pelos nossos jovens para que sejam persistentes na difícil tarefa de apresentar Jesus aos milhares de outros jovens que ainda desconhecem a Luz do mundo. 
No domingo passado, através da parábola da viúva e do juiz injusto, Jesus valorizou oração. Quis mostrar-nos o valor de se rezar sempre, rezar muito e sem esmorecer. No evangelho de hoje, Jesus não fala mais em quantidade de oração, mas sim, na qualidade da oração. Ensina o modo certo de rezar.
Jesus traça um comparativo entre a oração do publicano e do fariseu, para explicar-nos a maneira certa de se comunicar com Deus. Ao rezar, acima de tudo, é preciso lembrar de que somos pecadores, que estamos diante de Deus e que dependemos de sua infinita misericórdia.
Fariseu era o nome dado ao membro de um partido entre os judeus. Ele se gabava de respeitar a lei, em seus mínimos detalhes. Pagava dízimo, até mesmo, de coisas que não eram exigidas. No entanto, observava os mandamentos apenas para se mostrar perante a sociedade. Não agia com humildade, era orgulhoso e arrogante.
Fariseu deixou de ser apenas um símbolo entre os contemporâneos de Jesus. Fariseu é uma figura bastante atual e presente em nosso dia-a-dia. Ele é o símbolo da hipocrisia, é aquele que diz uma coisa e faz outra. Esconde-se atrás das aparências, do comodismo e adapta as leis aos seus interesses pessoais.
O fariseu joga pesados fardos nas costas dos outros, mas não move uma palha em benefício dos necessitados. Faz longos discursos, apresenta projetos fantásticos para erradicar a pobreza, enquanto que, na calada da noite, promulga e aprova leis para beneficiar a si próprio e a seus aliados políticos.
O fariseu sabe que é muito mais fácil carregar uma cruz dependurada no peito do que sobre o ombro. É mais cômodo e menos cansativo. Disso entende muito bem o fariseu, levar vantagens é o seu passatempo favorito.
Arrogância, prepotência e injustiça tornaram-se tão comuns em suas atividades, que são tratadas como coisas normais. Aquele que não age assim é chamado de anormal. No entanto, convém lembrar que não é só no campo político ou profissional que essas coisas acontecem.
Na verdade, o comportamento do fariseu, não é privilégio daqueles que ocupam altos cargos. Precisamos analisar cuidadosamente nossas ações na comunidade paroquial e, particularmente, diante da coordenação de grupos, movimentos ou pastorais, para não cairmos no mesmo erro do fariseu.
A humildade é um dom e deve ser nossa bandeira. A oração deve ser a manifestação das nossas fraquezas e um constante pedido de perdão. O reconhecimento das nossas culpas e o desejo de não mais errar fortalece a caminhada e nos justifica perante Deus. A oração simples nos aproxima do Pai.
Nossas orações deveriam também conter muito mais agradecimentos. Quantos benefícios que, diariamente, recebemos e nunca paramos para agradecer. Por tudo isso, hoje pedimos a Deus a humildade do publicano para que possamos enxergar nossa fraqueza e nossa pequenez.
Vamos colocar mais qualidade em nossas orações e encerrar este momento agradecendo por nossa saúde e emprego, pela paz e segurança no lar, pela unidade da família, por nossos filhos e por tudo aquilo que recebemos gratuitamente. Vamos agradecer, inclusive, pela oportunidade de poder contribuir com o dízimo para a subsistência de nossa comunidade.

jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Recorde os principais assuntos abordados durante o Ano da Fé

André Cunha
Da Redação


Divulgação
O Ano da Fé teve início em 11/10/2012 - cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade Cristo Rei, em 24/11/13.

Já se passaram doze meses e o Ano da Fé caminha para a sua conclusão daqui a um mês, no dia 24 de novembro. Com a iniciativa, o Papa, hoje emérito, Bento XVI convidou os católicos para uma “autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo”, como diz a Carta Apostólica Porta Fidei, que proclamou o Ano da Fé.
Muitos especialistas se dedicaram em atender o convite de Bento XVI ao longo deste ano e escreveram diversos artigos sobre o assunto. A equipe do noticias.cancaonova.comtambém trabalhou em temas importantes acerca da fé católica durante este período. Entre eles, a Nova Evangelização, principal assunto do Sínodo dos Bispos, realizado em outubro de 2012, no Vaticano. 
Para o diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM), padre Camilo Pauletti, o mundo sofreu mudanças e, da mesma forma, a evangelização precisa se adaptar para anunciar o Evangelho a todas as criaturas. O padre conversou com a nossa equipe e apontou caminhos para o avanço da Nova Evangelização no mundo. [Leia aqui]
Outro assunto pautado pela nossa equipe e interligado à Nova Evangelização foi a missionariedade da Igreja. Ainda segundo o padre Camilo, os cristãos precisam abandonar o egoísmo e sair em missão. Foi o que explicou o sacerdote na matéria publicada em 7 de janeiro deste ano. 
Alguns aspectos da Doutrina Católica
O principal chamado do Ano da Fé se deu em torno da necessidade de se conhecer melhor a doutrina católica. Deus, segundo o Catecismo da Igreja, é o centro de toda a fé. Conversamos com o padre Paulo Ricardo e ele explicou o significado de Deus na vida do homem. [Leia a matéria]
Ainda em torno da doutrina, padre Paulo Ricardo abordou assuntos específicos como o que são as indulgências e quais seus efeitos e o significado do sinal da cruz para os católicos. "O sinal da cruz no limiar da celebração, assinala a marca de Cristo naquele que vai pertencer-lhe e significa a graça da redenção que Cristo nos proporcionou por sua cruz", explica o Catecismo católico. [Saiba mais] 
O Catecismo da Igreja Católica também dedica uma unidade inteira para tratar de um assunto que, para os cristãos, é de suma importância: a oração. Alinhado aos ensinamentos da Igreja, padre Alírio José Pedrini, Dehoniano, autor de vários livros relacionados ao assunto, explica que a oração é o relacionamento de uma pessoa humana com o seu Deus. O sacerdote deu detalhes sobre as formas de oração e explicou porque Deus sempre atende as nossas súplicas. [Leia aqui] 
Estritamente ligada ao Ano da Fé está a caridade, uma das três virtudes teologais. Sobre este assunto, o arcebispo de Belém do Pará, Dom Alberto Taveira, recordou sua importância para os católicos e explicou que este dom de Deus vai muito além de atos filantrópicos: trata-se de “amar o próximo com o amor de Deus”. [Leia a explicação de Dom Alberto]. 
O aspecto vocacional, como parte do ensinamento da Igreja, também foi abordado pela nossa equipe durante o Ano da Fé. De acordo com o padre assessor da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada da CNBB, padre Valdecir Ferreira, a Igreja vem lembrando os fiéis e fazendo um apelo para essa redescoberta da vocação. Esse processo, segundo o padre, se dá quando o fiel assume seu próprio batismo. [Entenda] 
A Bíblia, ecumenismo e família
Estes foram três assuntos muito comentados durante o Ano da Fé. Bento XVI destacou na Porta Fidei a necessidade de se “readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja”.

Sobre a Bíblia, duas matérias ganharam destaque durante este Ano da Fé. Na primeira, um biblista esclareceu questões sobre as variadas traduções bíblicas. Numa outra, o mestrando em Sagradas Escrituras, padre Antônio Xavier, falou dos livros apócrifos e explicou a melhor forma para serem lidos pelos católicos. 
Já sobre o ecumenismo, o bispo da Diocese de Dourados (MS) e membro da Comissão Episcopal para o Ecumenismo, Dom Redovino Rizzardo, explicou que esta vivência é uma característica de um cristão adulto e verdadeiro. O bispo também dá detalhes sobre como viver a liberdade religiosa no mundo contemporâneo. [Leia aqui]
A família foi tratada durante o Ano da Fé com particularidade. Nesta semana, por exemplo, entre os dias 26 e 27, o Vaticano receberá milhares de famílias durante uma peregrinação, contextualizada no Ano da Fé. Tal importância dá-se à sacralidade da instituição perante Deus e a Igreja, conforme disse João Paulo II: “a família é o Santuário da vida”. 
Para o bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, a família não é uma instituição em crise, como muito se diz. "Eu diria que não é a instituição familiar que está sofrendo crise, mas as pessoas que constituem as famílias e que se deixam infeccionar pela cultura do individualismo e do descarte", afirmou o bispo que também é  membro da Comissão Episcopal da CNBB para Vida e Família. [Leia mais sobre o assunto]


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

20 outubro 2013 – 29º Domingo do Tempo Comum – (Lc 18, 1-8)

“Quando vier o Filho do Homem, encontrará essa fé na terra?”
Evangelho: (Lc 18, 1-8)
Para mostrar que é necessário orar sempre, sem nunca desanimar, Jesus contou uma parábola: “havia numa cidade um juiz que não temia a Deus e não respeitava ninguém. Havia lá também uma viúva que o procurava, dizendo: ‘faze-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo o juiz se recusou. Por fim, disse consigo mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus e não respeite ninguém, vou fazer-lhe justiça, porque esta viúva está me aborrecendo. Talvez assim ela pare de me incomodar’. Prosseguiu o Senhor: ´Ouvi o que diz este juiz perverso. E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que clamam por ele dia e noite, mesmo quando os fizer esperar? Eu vos digo que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?”
COMENTÁRIO
O Evangelho de hoje fala de justiça, de perseverança, de oração. E fala, acima de tudo, do grande amor de Deus por cada um de nós, e de sua grande preocupação conosco, seus filhos eleitos. Mostra-nos Deus preocupado com nossa fé. E, deixa claro que é preciso muita oração, rezar sem esmorecer, para vencermos as barreiras diárias.
Jesus usa a parábola da viúva e do juiz, para mostrar aos seus discípulos o valor da persistência. Essa senhora dependia de uma ação daquele juiz para se livrar da opressão do adversário. E só conseguiu ser atendida depois de muita insistência.
A viúva que Jesus usou como exemplo, é um personagem bastante comum do nosso dia-a-dia. Ela simboliza o pobre e desamparado que, justamente por não ter como custear as despesas judiciais, é simplesmente privado dos seus direitos perante os fortes e poderosos da nossa sociedade.
A Palavra de Deus não envelhece. Dois mil anos se passaram e parece que Jesus foi buscar esse exemplo nas recentes manchetes dos jornais. Aquele juiz era desonesto, não cumpria com suas obrigações e provavelmente, legislava em causa própria, em benefício dos ricos e de seus aliados políticos. É triste admitir, mas nosso dia-a-dia está repleto de casos semelhantes.
Certamente Jesus não pretendia generalizar a ação, nem ridicularizar a função. Com essa parábola, Jesus queria ressaltar o mau caráter desse homem. Ficou muito claro que esse juiz tinha poder de decisão, mas não exercia sua função com honestidade e retidão.
Juiz quer dizer: aquele que tem o poder de julgar. Entretanto, subentende-se que seu julgamento seja justo e imparcial. Nesta parábola o juiz não é justo e simboliza somente o poder. Infelizmente, esse juiz é o retrato fiel de certos homens públicos e de muitos políticos que manipulam as leis em causa própria.
A viúva simboliza o marginalizado e excluído. Representa a escória da sociedade, os pobres, os doentes, os trabalhadores, os aposentados, enfim, simboliza o povo simples que não tem quem lute por seus direitos.
Nesta parábola de Jesus encontramos também uma lição de cidadania. Não fosse persistente, jamais essa mulher atingiria seu objetivo. A insistência e a coragem da viúva simbolizam a sociedade unida, que sai a campo, que clama por mudanças e por justiça. É a categoria organizada que, através de movimentos pacíficos, não desiste da difícil luta contra o desmando político.
O juiz atendeu à viúva só para não ser importunado. Essa é a reação normal de quem não ama, só cede sob pressão. Através desta parábola, Jesus nos lembra que Deus é Amor e sabe das nossas necessidades, portanto, fará por nós o melhor se pedirmos com humildade e muita fé.
Com este exemplo, Jesus ressalta a importância e a necessidade de sermos perseverantes na oração. Se a viúva tivesse desistido, se não tivesse sido perseverante, não teria recebido a merecida justiça.
Hoje, aprendemos que a oração é o caminho para quem procura a justiça. Acreditar e pedir, insistir sem exigir, essa é a oração que nos aproxima de Deus.
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A nova evangelização se faz mais com gestos do que com palavras, afirma o Papa.

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência esta manhã, no Vaticano, os participantes da Plenária do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Entre inúmeras funções, este organismo é responsável por organizar os eventos neste Ano da Fé que a Igreja está vivendo.

O Pontífice resumiu seu discurso em três pontos: a primazia do testemunho; a urgência de ir ao encontro; e o projeto pastoral centralizado no essencial.

Nova evangelização, disse o papa, significa despertar no coração e na mente de nossos contemporâneos a vida da fé, num tempo em que esta é considerada irrelevante na vida do homem. “A fé é um dom de Deus, recordou o Papa, mas é importante que os cristãos demonstrem vivê-la concretamente, através do amor, da concórdia, da alegria e do sofrimento. O coração da evangelização é o testemunho da fé e da caridade.”

Muitas pessoas se afastaram da Igreja. É errado atribuir as culpas a um lado ou a outro, ou melhor, não é o caso de falar de culpas. Como filhos da Igreja, devemos continuar o caminho do Concílio Vaticano II, espoliar-nos de coisas inúteis e danosas, de falsas seguranças mundanas que sobrecarregam a Igreja e prejudicam sua verdadeira face.
A crise da humanidade contemporânea, disse ainda Francisco, não é superficial, mas profunda. Por isso, a nova evangelização, enquanto nos chama a ter a coragem de ir contracorrente, só pode usar a linguagem da misericórdia, feita de gestos e de atitudes antes mesmo do que de palavras.

Esses gestos e atitudes levam ao segundo ponto: o dinamismo de ir ao encontro dos outros. “A nova evangelização é um movimento renovado dirigido a quem perdeu a fé e o sentido profundo da vida. A Igreja e cada cristão é chamado a ir ao encontro dos outros, a dialogar com os que não pensam como nós. Podemos ir ao encontro de todos sem medo e sem renunciar à nossa pertença.”

De modo especial, ressaltou o Pontífice, a Igreja é enviada a despertar a esperança sobretudo onde existem condições existenciais difíceis, às vezes desumanas, onde a esperança não respira. A Igreja é a casa em que as casas estão sempre abertas.

Todavia, advertiu o Papa falando terceiro e último aspecto, todo este dinamismo não pode ser improvisado. Exige um compromisso comum para um projeto pastoral que evoque o essencial, ou seja, Jesus Cristo.

Não é preciso disperde-se em tantas coisas secundárias ou supérfluas, mas concentrar-se sobre as realidade fundamentais, que é o encontro com Cristo, com a sua misericórdia, com o seu amor e o amar os irmãos como Ele nos amou. Um projeto animado pela criatividade e pela fantasia do Espírito Santo, que nos leva a percorrer novos caminhos, sem nos fossilizar! 
Devemos nos questionar como é a pastoral de nossas dioceses e paróquias, disse o Papa, destacando a importância da catequese como momento da evangelização para combater o analfabetismo dos nossos dias em matéria de fé.

Várias vezes lembrei de um fato que me impressionou no meu ministério: encontrar crianças que não sabiam nem mesmo fazer o sinal da Cruz! Os catequistas desempenham um serviço precioso para a nova evangelização, e é importante que os país sejam os primeiros catequistas, os primeiros educadores à fé na própria família com o testemunho e com a palavra.(BF)





 Rádio Vaticano 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

13 outubro 2013 – 28º Domingo do Tempo Comum – (Lc 17, 11-19)

“Levanta-te e vai. Tua fé te salvou!”
Evangelho: (Lc 17, 11-19) 
Indo para Jerusalém, Jesus atravessava a Samaria e a Galiléia. Quando ia entrar num povoado, vieram-lhe ao encontro dez leprosos. Pararam ao longe e gritaram: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós”. Ao vê-los, Jesus lhes disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. E aconteceu que, no caminho, ficaram limpos. Um deles, vendo-se curado, voltou glorificando a Deus em voz alta. Caiu aos pés de Jesus e, com o rosto em terra, agradeceu-lhe. E este era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus disse: “Não eram dez os que ficaram limpos? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.
COMENTÁRIO
Aqui estamos, para juntos, meditarmos a Palavra que é Vida, a Palavra de Deus. E por falar em vida, o evangelho de hoje nos lembra de alguns irmãos doentes que levam uma vida sofrida e extremamente difícil.
Basta aparecer uma doença para nos deixarmos abater pelo desânimo. Quando se está doente, a vida parece mais difícil e sem graça. Imagine-se então doente e ainda por cima colocado à margem da sociedade. Proibido de se aproximar das pessoas, sem ter alguém para cuidar das feridas e amenizar sua dor.
Essa era a situação dos leprosos na época de Jesus. A lepra era considerada uma doença incurável e contagiosa, por isso, os doentes eram isolados e mantidos em locais distantes das cidades. Quando alguém passava por perto, os doentes tinham que avisar que estavam contaminados pela lepra.
Os transeuntes mudavam de caminho, ninguém se aproximava dos leprosos. Só tinham como companhia, outros doentes. Viviam em grupos para amenizar a sensação de abandono e tornar menos dura a vida. Proibidos de se aproximarem dos locais habitados e sem esperança de cura, somente esperavam pela morte.
Quando tudo parecia perdido. Quando aparentava que aquele dia seria igual aos anteriores, Jesus apareceu na vida daqueles leprosos, e tudo mudou.
Este evangelho tem uma seqüência de acontecimentos que serve para comprovar o que vimos no evangelho do último domingo (Lc 17,5-10). A fé é capaz de coisas incríveis, capaz de mover árvores e montanhas, capaz de curar o físico e a alma. Quem acredita verdadeiramente, tudo consegue.
Lucas diz que Jesus estava se preparando para entrar no povoado, quando os dez leprosos vieram ao seu encontro gritando e pedindo compaixão. Disso podemos concluir que esses homens conheciam Jesus e sabiam dos seus poderes. Acreditavam que Jesus era capaz de curá-los.
A fama de Jesus já havia chegado até eles. Se não soubessem quem era Jesus, jamais pediriam ajuda à Ele. Por isso, nunca é demais lembrar que estamos no mês missionário e que todo cristão é chamado à missão evangelizadora. É preciso que todos conheçam a Boa Nova.
Precisamos sair a campo e gritar sobre os telhados. É missão de todos nós apresentarmos Jesus ao mundo, pois quem não conhece Jesus como verdadeiro Deus, quem não sabe dos seus poderes, nunca irá se aproximar para pedir ajuda para sua cura física e espiritual. Nunca conhecerá o Amor.
Parece que com este evangelho, Lucas pretende relembrar-nos que Jesus também conhece a cada um de nós e sabe das nossas necessidades. Tanto isso é verdade que ao ouvir os apelos daqueles "desconhecidos", não fez nenhuma pergunta, não perguntou se eram judeus ou samaritanos. Simplesmente teve compaixão e mandou que se apresentassem aos sacerdotes.
Lucas faz questão também de ressaltar o desapontamento de Jesus, pois só o samaritano voltou para agradecer o benefício alcançado. Quem quiser purificar-se e libertar-se das feridas, deve lembrar que gratidão é uma virtude que deveria ser usada com mais freqüência.
Por que então não imitarmos o samaritano? Por que não agradecermos diariamente por tantas graças recebidas? Jamais deveríamos nos esquecer que dentre os dez somente um soube ser grato e por isso, foi o único que teve a graça de ouvir estas palavras: "Levanta-te e vai! Tua fé te salvou".
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

12 de outubro dia de Nossa Senhora Aparecida


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Papa: "O que pedimos na oração é o 'papel' de presente. A verdadeira graça é Deus"

Na oração, devemos ser corajosos e descobrir que a verdadeira graça que nos é dada é o próprio Deus: é o que afirmou o Papa na Missa desta manhã em Santa Marta. No centro da homilia, o trecho do Evangelho em que Jesus destaca a necessidade de rezar com insistência e confiança: 

A parábola do amigo importuno, que obtém aquilo que deseja graças à sua insistência, inspirou o Papa Francisco a refletir sobre a qualidade da nossa oração:

Isso nos faz pensar na nossa oração: como nós rezamos? Rezamos assim, por hábito, piedosamente mas tranquilos, ou nos colocamos com coragem diante do Senhor para pedir a graça, para pedir aquilo pelo qual rezamos? (É preciso, ndr) a coragem na oração: uma oração que não seja corajosa não é uma verdadeira oração. A coragem de ter confiança de que o Senhor nos ouça, a coragem de bater à porta … O Senhor diz: “Quem pede, recebe; quem procura, encontra; e quem bate, a porta se abre”. É preciso pedir, procurar e bater.
Quando nós rezamos corajosamente, disse ainda o Papa, o Senhor nos concede a graça, mas também Ele se dá a si mesmo na graça: o Espírito Santo, ou seja, si mesmo! Jamais o Senhor concede ou envia uma graça por correio: jamais! Ele a concede! Ele é a graça! 

O que nós pedimos, disse ainda o Francisco, na verdade é papel que embrulha a graça, porque a verdadeira graça é Ele, que vem para entregá-la. A nossa oração, se for corajosa, recebe o que pedimos, mas também o que é mais importante: o Senhor”. 

Nos Evangelhos – observou– “alguns recebem a graça e vão embora”: dos dez leprosos curados por Jesus, somente um volta para agradecer-Lhe. O cego de Jericó encontra o Senhor na oração e louva a Deus. Mas é preciso rezar com a “coragem da fé”, reiterou o Pontífice, levando-nos a pedir também aquilo que a oração não ousa esperar: ou seja, o próprio Deus:

Não façamos a desfeita de receber a graça e não reconhecer Quem a dá: o Senhor. Que o Senhor nos dê a graça de doar-se a si mesmo, sempre, em toda graça. E que nós o reconheçamos, e que o louvemos como aqueles doentes curados do Evangelho. Porque naquela graça, encontramos o Senhor.


 Rádio Vaticano 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

06 outubro 2013 – 27º Domingo do Tempo Comum – (Lc 17, 5-10)

“Senhor, aumenta a nossa fé!” 
Evangelho: (Lc 17, 5-10)
Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé”. E o Senhor respondeu: “Se tivésseis uma fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. Quem de vós, tendo um escravo que lavra a terra ou cuida do gado, dirá para ele, quando voltar do campo: ‘Entra logo e senta-te à mesa’? Pelo contrário, não lhe dirá: ‘Prepara-me o jantar, arruma-te para me servires, enquanto eu como e bebo; depois comerás e beberás tu’? Por acaso fica o senhor devendo algum favor ao escravo pelo fato de este ter feito o que lhe foi mandado? Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo que vos foi mandado, dizei: ‘Somos escravos inúteis. Fizemos apenas o que tínhamos de fazer’”.
COMENTÁRIO
Mais uma vez nos reunimos para falar de Deus, meditar a sua Palavra e levar aos nossos irmãos alento e fé. Já estamos em outubro, mês das missões. Nunca é demais lembrar-se de que todo cristão é um missionário.
No evangelho de hoje, os apóstolos pedem a Jesus que lhes aumente a fé. Realmente, é preciso muita fé para ser um discípulo fiel, para seguir sem desanimar e para apresentar Jesus Cristo ao mundo. Diante de tantas barreiras, é preciso muita coragem para não se acovardar. 
Levar a Palavra de Deus para todas as nações, evangelizar, tornar Jesus Cristo conhecido e amado, esse é o desafio do missionário. A coragem para superar os obstáculos e prosseguir, o ânimo para gritar bem alto a Boa Nova, são frutos da fé. Jesus nos diz que, com fé tudo é possível.
Quem tem fé, por menor que pareça, é capaz de fazer grandes coisas. Hoje, através de Lucas, Jesus fala da árvore que sai do seu lugar e planta-se no mar, já através de Mateus (17,20), Jesus diz que, com fé, somos capazes de mover uma montanha. Mas, como conseguir esses feitos extraordinários?
Certamente a fé não nos dá poderes mágicos. Esses dois exemplos de Jesus vão muito além do nosso entendimento. Humanamente falando-se, parecem absurdos e, é exatamente isso que Jesus pretende mostrar-nos, que a fé é capaz de fazer coisas que parecem absurdas e, até mesmo, impossíveis.
Diante do pedido dos apóstolos, Jesus começa dizendo da importância da fé e do seu poder de realização. O simples fato de acreditar que existe solução, já é meio caminho andado para a solução. Fé é uma palavra abrangente que não está restrita na simples crença da existência de Deus. 
Os exemplos de Jesus devem servir para alicerçar ainda mais a nossa fé. Ninguém precisa mover uma árvore, montanha e, nem mesmo levitar uma simples folha de papel, para provar a sua fé. A maior prova de fé está na vivência da própria fé. Viver a fé é deixar-se conduzir pela vontade de Deus.
Fé é adesão total aos Planos de Deus, é entregar-se sem restrições. A fé, como a semente de mostarda, começa pequena, e vai crescendo dia-a-dia. Não nascemos com fé, nem a ganhamos gratuitamente. Fé tem que ser plantada, cultivada e regada diariamente com muita oração.
A fé não deixa margens para dúvidas, ela é a própria certeza, é virtude, é um dom de Deus que tem seu crescimento acelerado quando adubada com sacrifícios e renúncias. A fé atinge a maturidade quando transformada em gestos concretos.
Jesus diz que tudo que pedirmos a Deus, Ele nos dará sem impor condições. No entanto, é preciso pedir com fé. São Tiago reforça as Palavras de Jesus e afirma que a fé sem obras é morta. Ao utilizar o termo servo inútil, Jesus sugere que nos reconheçamos desnecessários, pois Deus poderia fazer tudo sozinho, porém Ele quer precisar dos nossos serviços, do nosso empenho em servir ao próximo.
Com essas palavras, Jesus nos dá uma lição de humildade. Tenta trazer-nos à realidade ao lembrar-nos que somos servos de Deus e que o servo deve estar sempre disponível às necessidades do patrão.
É bom lembrar que somos pagos, e muito bem pagos! Recebemos muito mais do que merecemos para executar nossas tarefas. Portanto, tudo o que fizermos para o Senhor, que deu sua vida por nós, ainda é pouco.
Nascemos para ser santos, portanto, amar a Deus e ao próximo, faz parte das nossas tarefas diárias. Por tudo isso, vamos parar e meditar estas palavras que, apesar de ásperas, são verdadeiras: “O cristão que por amor, se aproxima do irmão, está apenas cumprindo sua obrigação!”

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A importância do Anjo da Guarda em nossa vida

O Catecismo da Igreja diz que "a existência dos seres espirituais, não-corporais, que Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé". O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição (n. 328). Nenhum católico pode, então, negar a existência dos anjos. Eles são criaturas pessoais e imortais, puramente espirituais, dotados de inteligência e de vontade e superam em perfeição todas as criaturas visíveis (cf. Cat. n. 330). São Gregório Magno disse que quase todas as páginas da Revelação escrita falam dos anjos.

A Igreja ensina que desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção (cf. Sl 90,10-13) e por sua intercessão. "O Anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem e os salva" (Sl 33,8).

São Basílio Magno (†369), doutor da Igreja, disse: "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida." (Ad. Eunomium 3,1). Isto é, temos um Anjo da Guarda pessoal. Jesus disse: "Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10).

A liturgia de dois de outubro celebra os Anjos da Guarda desde o século XVI, festa universalizada por Paulo V, depois que em 1508 Leão X aprovou o novo Ofício composto pelo franciscano João Colombi. Ora, se a Igreja celebra a festa dos Anjos da Guarda é porque de fato eles existem e cuidam de nós, nos protegem, iluminam, governam nossa vida, ajudam-nos como ajudou a Tobias. Mas para isso é preciso crer neles, respeitá-los, não afugentá-los pelo pecado. Um dia um rapaz me disse: "Eu não vejo pornografia na internet porque tenho vergonha de meu Anjo da Guarda!". A melhor homenagem a nosso anjo é viver uma vida sem pecados, buscando, com sua ajuda, fazer a vontade de Deus.

A Tradição da Igreja acredita que nosso Anjo da Guarda tem a tarefa de oferecer a Deus as nossas orações, apoiar-nos e proteger-nos dos ataques do diabo, que tenta nos fazer pecar e perder a vida eterna. Então, nada mais importante que ter uma vida de intimidade com nosso Anjo da Guarda, invocá-lo constantemente e colocar-se debaixo de sua proteção. Desde criança aprendi com minha mãe esta oração: "Santo Anjo da minha guarda a quem eu fui confiado por celestial piedade; iluminai-me, guardai-me, regei-me, governai-me. Amém." Nunca deixei de rezar essa oração.

Então, o melhor a fazer é não fazer nada sem pedir a luz, a proteção, o governo do bom anjo que o Senhor colocou como guarda e custódio de nossa vida, do batismo até a morte.

É por isso que muitos papas, como o Papa João XXIII, revelaram a sua profunda devoção pelo Anjo da Guarda, sugerindo, como também disse Bento XVI, de expressar a sua própria gratidão pelo serviço que ele presta a cada um de nós e de invocá-lo todos os dias, com o "Angelus Dei".

São Pio de Pietrelcina teve um relacionamento profundo com o Anjo da Guarda. São inúmeras as passagens de sua vida com o seu anjo e com os dos outros. Certa vez ele disse a uma pessoa: "Nós rezaremos pela sua mãe, para que o seu Anjo da Guarda lhe faça companhia".

Invoque o seu Anjo da Guarda, pois ele o iluminará e guiará no caminho de Deus.

Felipe Aquino
www.cancaonova.com

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fé e fidelidade: duas palavras que estão em crise de identidade

Estas duas palavras estão em crise de identidade. Passam por um processo de esvaziamento e perda de sentido. Fé é adesão firme em Deus, que é fiel. É um fato que supera toda nossa compreensão humana, mas não afeta a liberdade ao tomar decisão. Pelo contrário, livremente a pessoa age com atitude de fidelidade.

Fidelidade é a prática de quem é fiel ao que faz e tem compromisso sério no cumprimento do que assume e é confiável, é constante. Há um texto bíblico que diz que “o justo viverá por sua fidelidade” (Hab 2, 4). A infidelidade é descumprimento de um compromisso de fidelidade e ruptura com consequências desastrosas.

Fé e fidelidade são dons de Deus, mas também frutos de decisão consciente e responsável. Ambas fazem parte da estrutura natural das pessoas, mas precisam ser trabalhadas com sinceridade para que sejam um bem para a sociedade. A falta de fidelidade, em determinadas circunstâncias da vida, pode ser também ameaça à fé.

Não podemos agir apenas por fantasia, sem profundidade, despidos de responsabilidade. A fé e a fidelidade do outro depende do testemunho que lhe for proporcionado. Não ter uma fé como fundo de garantia, sem fidelidade, mas como firmeza na adesão aos princípios que contam e que nos levam à realização de vida com dignidade.

Toda pessoa deve estar a serviço do Reino de Deus. É um caminho de construção, que supõe desapego, desprendimento e atenção ao que é mais importante para o bem comum. Em vez de ser servido, a fé e a fidelidade, como condição de vida digna, fazem de nós servidores da comunidade com determinação e coragem.

Estamos numa mentalidade que busca compensação para tudo que se faz numa mentalidade totalmente calculista e muito marcada pelo materialismo, onde o ter passa a ser mais importante do que o ser. Para ser diferente, devemos ter dedicação total no servir, mas com o coração aberto e sem interesses puramente vazios. Não é saudável a ambição de poder, de aparecer e de compensação.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba