terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Mudança de Ano

O último domingo de 2013, na liturgia católica, é dedicado à instituição familiar. A família é indicada como base fundamental para a sociedade. Até dizemos que “se a família vai mal, não será diferente com a sociedade”. Perdendo os valores familiares, caímos numa situação crônica de vulnerabilidade e insegurança.

Conservar valores significa ser feliz por amar o Senhor e andar em seus caminhos. É o que aconteceu com a Família de Nazaré, Jesus, Maria e José, apresentados como “família modelo”. Ali identificamos valores que são desprezados nos dias de hoje. Citando alguns dizemos da obediência, do respeito, da fidelidade aos compromissos assumidos e a defesa da vida até às ultimas consequências.

Estamos terminando 2013 com créditos positivos em muitas áreas da atualidade. Na esfera do mundo católico deparamos com a renúncia do Papa Bento XVI e a eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio. Com Francisco, simples, humilde e corajoso, as expectativas da humanidade se refazem dentro de um clima de grandes expectativas de um mundo melhor e feliz.

O ano que termina foi marcado também por muitas práticas de violência, de desrespeito à vida humana, de muitos assassinatos, inúmeros acidentes fatais no trânsito etc. Foi ano de “mensalões” sendo colocados na cadeia, de gastos exorbitantes em estádios de futebol e em estradas tendo em vista a Copa do Mundo e as Olimpíadas. 

O Brasil deveria ser encarado como uma grande família, com um povo de sentimentos cristãos e que teve a marca de fé desde sua origem. Tem uma riqueza de diversidade, de cultura, de história, mas com incapacidade para harmonizar todas as diferenças nos diversos setores da sociedade. Ressaltamos o belo progresso tecnológico, mas incapaz ainda de atender às necessidades das pessoas mais sofridas.

Agora é olhar para o próximo ano e projetar situações novas, realidades apoiadas nos sentimentos de bondade, humildade, paciência e perdão, entendidos como características próprias da vida familiar. A marca principal de 2014 deverá ser a esperança, a certeza da possibilidade de uma sociedade cada vez melhor e de vida digna para todos.

Por: DOM PAULO MENDES PEIXOTO 
ARCEBISPO DE UBERABA - MG
www.bispado.org.br

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Cultivar a alegria diante das limitações

A Palavra meditada, hoje, está em Salmos 89, 16-19.

16. Feliz o povo que sabe te aclamar: ele caminhará, ó Javé, à luz da tua face.
17. Teu nome é o seu prazer a cada dia, e tua justiça é o seu orgulho.
18. Sim, tu és a honra e a força dele, e com teu favor levantas nossa fronte.
19. Porque Javé é o nosso escudo, nosso rei é o Santo de Israel


Jesus veio para trazer o reino de Deus sobre a Terra; assim, Ele reina no nosso coração. Se nós queremos um mundo diferente, o Senhor precisa reinar na nossa vida, pois é muito difícil festejar em um mundo com tanta violência. Mas aquele que está em reverência diante da face de Deus, que está em amor e em acolhimento, sabe fazer festa e é feliz, porque a faz em nome do Senhor.

A pessoa que caminha em Deus tem a sua alegria n'Ele e a sua vitória vem pela manifestação da glória do Altíssimo. A justiça é sempre uma vitória que vem pelo amor; nunca deveríamos entendê-la como um mal a quem fez mal. A justiça de Deus tem a ver com a pessoa que foi lesada, pois Ele cura as chagas deixadas no nosso coração, e essa justiça vai acontecer na nossa vida!

Muitas vezes, Deus nos fecha uma porta e abre outra, mas ficamos olhando a porta fechada, pensando por onde devemos passar, sendo que essa porta já está aberta.

Deus não quer e não pode fazer o mal, então é por causa d'Ele que nos alegramos sempre e pela Sua justiça que encontramos a glória. Entendemos que a felicidade não está em saber festejar, mas em tornar a nossa vida feliz, quando temos o cuidado de não excluir o único que pode nos dar alegria em todos os momentos: Deus. Há pessoas que podem mudar o nosso dia, seja por um telefonema, por uma manifestação de amor, de carinho, e torna nosso dia muito melhor. Quando Deus está presente na nossa vida, ela se torna uma festa!

Não importa onde estivermos, pois se Deus estiver conosco, tudo pode se converter em uma festa. Mas existem ocasiões festivas, nas quais as pessoas tornam a situação em momentos de tristeza, pois não sabem festejar.

Saber fazer da vida uma festa é um dom de Deus. Sofrimento vem sozinho, não precisa ser chamado. Somos pessoas feridas por coisas que não cuidamos, não valorizamos, e acabamos machucando os outros, porque era valorizado e cuidado pela outra pessoa. Querendo ou não, estamos sempre tocando nas feridas uns dos outros. Então, temos de que pedir a Deus a graça de gerar alegria. Assim como a semente se multiplica, temos de multiplicar essa graça em nossa vida e na dos outros, pois ela precisa ser plantada.

Em um mundo onde o mal vem sem ser chamado, precisamos aprender a gerar alegria. Às vezes, salvar uma pessoa da tristeza é tão fácil!

Todos nós temos alguma coisa na nossa vida que temos de aceitar; e quando vivemos na alegria, ela é a força para superarmos essa dificuldade. A vida de uma pessoa que conta com seus amigos é mais leve. Aquele que tem o coração aberto e nutri, no seu coração, uma alegria, cultiva a paz por meio do amor e das boas ações.

Qual o segredo da felicidade? É reconhecer o que Deus faz por nós nas pequenas coisas todos os dias. É uma delícia participar da alegria de alguém, isso é fazer festa, e é isso que o Senhor quer para nós.

Márcio Mendes
Membro da Comunidade Canção Nova

sábado, 21 de dezembro de 2013

4º Domingo do Advento - A

"Céus, deixai cair o orvalho; nuvens, chovei o justo; abra-se a terra e brote o Salvador!" (cf. Is. 45,8).


Meus queridos amigos,

Chegamos ao último domingo do Advento. Advento que é tempo propício de vigilância. Assim, este domingo é o domingo do Emanuel, o "Deus conosco". Já cantamos na antífona da entrada: "Céus, fazei descer o orvalho e faz brotar da terra a salvação, o Salvador". (cf. Is 45,8). Jesus, gerado pelo orvalho do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, é a realização plena do sinal da presença de Deus que o profeta Isaías anunciou ao rei Acaz, setecentos anos antes: o nascimento de um filho da jovem princesa – da "virgem", como diz a tradução grega do Antigo Testamento, como também o Evangelho. Quem assume o nascimento de Jesus como Pai de Família é o carpinteiro José, da casa de Davi: por causa dele, Jesus nasce como filho de Davi. Mas a mensagem do anjo deixa claro que Jesus é "obra do Espírito Santo"(cf. Mt 1,20). Filiação dupla de Jesus que é mencionada na segunda leitura de Romanos: humanamente falando – segundo a carne – Jesus é filho de Davi, mas quanto à ação divina – segundo o Espírito – Ele é filho de Deus, como se pode constatar sua glorificação depois de ressuscitado dentre os mortos.

Estimados irmãos,

O centro da liturgia de hoje é o encontro do humano com o divino, ou do divino com o humano, em Jesus Cristo, o nosso Redentor. O Evangelho de hoje nos conta a encarnação do Filho de Deus no seio de Maria de Nazaré, por obra e graça do Espírito Santo. Enquanto o evangelista Lucas se demora em descrever a anunciação, Mateus vai direto à gravidez misteriosa de Maria. E põe na curta leitura desse domingo o resumo de todo o seu Evangelho. Mateus aponta a finalidade de seu Evangelho: mostrar que Jesus de Nazaré é o Messias prometido, o Filho de Deus vivo, que libertará o povo dos pecados.

Refletimos hoje o sonho de Mateus. Mateus usa o gênero literário do sonho. Mateus usa de um gênero literário para transmitir um ensinamento que Maria concebeu a Jesus sem a interferência de nenhum homem, mas com a graça de Deus, por obra do Espírito Santo. Jesus, verdadeiro homem, porque nasceu de uma mulher, mas verdadeiramente Deus, porque Filho de Deus por um milagre inexplicável aos olhos humanos.

Quando Maria concebeu Jesus, por obra do Espírito Santo, ainda não estava casada com José. Era apenas noiva. Mas na Galiléia, o noivado, que podia durar um ano inteiro, tinha valor, diríamos, jurídico, e ambos se deviam absoluta fidelidade. Se uma noiva aparecesse grávida de outro homem, o noivo podia repudiá-la, isto é, não tinha mais obrigações para com ela. José, não compreendendo ainda o que se passava e não querendo expor Maria a um escândalo público e a execração do povo, pensou em abandoná-la. Deus se serviu da dúvida honesta para lhe revelar o fato maravilhoso, a verdadeira encarnação de Jesus. E Mateus, narrando a dúvida de José, acentuou que o filho que nascerá é o Filho de Deus.

Irmãos e Irmãs,

José escolheu para o filho o nome de Jesus. Jesus que é o Salvador. Jesus que "salvará o povo". Jesus que significa:"Deus é a salvação". Jesus, o Nazareno, tinha uma missão específica que era salvar ao povo de seus pecados(cf. Mt, 1,21). Jesus veio para libertar o homem do pecado, para que o homem retorne à comunhão com Deus. O nome Jesus carrega a marca forte de uma missão: JESUS SERÁ O SALVADOR DOS HOMENS.

José ao colocar o nome de Jesus em seu filho adotivo adota a criança que não nascera dele. E sendo José da família de Davi, ao adotar o menino, o inseriu na linhagem de Davi, como haviam predito o antigo testamento. Jesus, da estirpe de Davi, o Emanuel, que é o Deus Conosco.

Mas cabe uma reflexão para nos preparamos bem para o Natal do Salvador: que pecado é esse que Jesus veio arrancar de entre os homens? Todo e qualquer pecado. O pecado tem muitos nomes e quase sempre anda em bando. O pecado é a raiz e a fonte de toda a opressão, injustiça e discriminação. Jesus veio libertar-nos, mostrando com seus ensinamentos e, sobretudo, com sua vida, que é possível viver fraternalmente no amor e na unidade, na sinceridade e na benquerença, na ajuda mútua e no perdão dos pecados e das fraquezas, na pureza de coração e na sobriedade, na piedade filial e na simplicidade.

Meus irmãos,

A oração final da Santa Missa nos fala da mensagem de Deus para nós: a mensagem do anjo é a primeira manifestação da obra de Deus que vai desde a anunciação até a ressurreição. Maria aparece aqui como a jovem escolhida por Deus, qual esposa do rei. A virgindade de Maria significa sua disponibilidade para a obra de Deus nela: virgindade fecunda, prenhe de salvação. Nela brota o fruto que, em pessoa, é o sinal de que Deus está conosco.

O mistério de Jesus ter nascido sem que Maria deixasse de ser virgem significa que Jesus, em última instância, não é mera obra humana, mas antes de tudo um presente de Deus à humanidade. Seu nascimento é sinal de que Deus está conosco para nos salvar. Seu nome, Jesus, significa "Deus salva"; é o equivalente a Emanuel.

Estimados amigos,

O gesto de amor dos cristãos, perdoando e amando sempre, durante o Advento, que pede uma mudança radical de atitude rumo a santidade, nos pede que abramos nosso coração para a alegria do Santo Natal. Assim Jesus continua nascendo de Maria para nos salvar. Amém!

sábado, 14 de dezembro de 2013

15 dezembro 2013 – 3º Domingo do Advento – (Mt 11, 2-11)

“No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que João”
Evangelho: (Mt 11, 2-11)
No cárcere João ouviu falar das obras de Cristo e lhe enviou seus discípulos para lhe perguntarem: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” Jesus lhes respondeu: “Ide anunciar a João o que ouvis e vedes: os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (...) Quando eles foram embora, Jesus começou a falar de João ao povo: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? (...) Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que um profeta. Este é de quem está escrito: Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. Eu vos garanto que dentre os nascidos de mulher ninguém é maior do que João Batista. Mas o menor no reino dos céus é maior do que ele”.
COMENTÁRIO
Neste evangelho nos encontramos com João Batista preso por ordem de Herodes Antipas, filho daquele Herodes que mandou matar as crianças de Belém. Herodes Antipas mandou prender João porque ele o acusava publicamente de haver tomado a mulher de seu irmão Filipe e se casado com ela de forma irregular.
No entanto, mesmo preso, João continua cumprindo a sua missão de precursor. Para João não existem barreiras. Não se cala, não perde nenhuma oportunidade de proclamar a Boa Nova e envia alguns de seus discípulos até Jesus, para perguntar se Ele era mesmo o tão esperado Messias.
Observe que João gritava no deserto a vinda do Messias. João testemunhava que Jesus era o Messias prometido por Deus e, de repente, manda seus discípulos fazer essa pergunta a Jesus. Será que João duvidava disso?
Aparentemente, até João duvidou. Ele que recentemente havia apresentado Jesus como o Cordeiro de Deus, que disse ser indigno de desatar-lhe a sandália e que reconheceu em Jesus o Filho de Deus, agora vacila em sua fé e manda perguntar se deveria esperar outro Messias?
Nós também temos nossas dúvidas. São Tomé duvidou, Santo Agostinho e outros grandes santos duvidaram. Aliás, a dúvida não é nociva e pode ser salutar. Se bem administrada, a dúvida ajuda-nos a crescer na fé, pois nos leva a meditar e pesquisar. Por isso, não é de se estranhar que o Batista também tenha duvidado.
O Messias que João pregava e que a humanidade ansiosamente aguardava, deveria ser um juiz severo que viria para eliminar os opressores, limpar o terreiro, recolher o trigo no celeiro e queimar a palha.
No entanto, ao contrário do que se esperava, ao invés de cortar as árvores inúteis e jogá-las no fogo, Jesus mostra-se piedoso, manso, sem armas e sem um exército atrás de si. Jesus chega até mesmo a decepcioná-los, pois além de não condenar os pecadores, amigavelmente aproxima-se e come com eles.
Jesus não destrói nada e procura consertar o que está quebrado. Não queima os pecadores, muda os corações e traz esperança de salvação para todos. Reacende a luz que está se apagando e tira das trevas aqueles que, como os leprosos, são segregados e marginalizados.
É difícil aceitar um Messias assim. Jesus nada tem a ver com o homem enérgico e severo que todos esperavam. O procedimento de Jesus escandaliza João e, ainda hoje, também nos escandaliza. Quantas vezes que, através das nossas preces, pedimos para Deus intervir e castigar aqueles a quem chamamos de maus.
Felizmente o Messias, o Verdadeiro Deus é bem diferente daquilo que se esperava. Sem restrições Ele faz surgir o sol e envia a chuva sobre os justos e injustos, não porque aprove as injustiças ou por méritos dos justos, mas sim por sua infinita misericórdia.
O amor de Deus por seus filhos está caracterizado na resposta de Jesus aos discípulos de João: “Digam a ele que os cegos recuperam a vista, que os surdos ouvem, os mudos falam, os aleijados andam, os mortos são ressuscitados e os pobres estão sendo evangelizados!”
Se ainda tínhamos dúvidas, estas Palavras devem servir para eliminá-las, pois todas são sinais de salvação, nenhuma de condenação.

sábado, 7 de dezembro de 2013

08 dezembro 2013 – Imaculada Conceição – (Lc 1, 26-38)

“Bem-aventurada aquela que acreditou!”
Evangelho: (Lc 1, 26-38)
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, o anjo lhe disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Ao ouvir as palavras, ela se perturbou e refletia no que poderia significar a saudação. Mas o anjo lhe falou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?” Em resposta o anjo lhe disse: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; é por isso que o menino santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. Até Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”. Disse então Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça comigo segundo tua palavra!” E dela se afastou o anjo.
COMENTÁRIO
Rapidamente caminhamos para o final de mais um ano. Faltam aproximadamente duas semanas para o Natal do Senhor. Natal é uma data é muito significativa. O Verbo Divino se faz homem para nos salvar. A vinda do Menino Deus é o Plano de Amor colocado em prática.
O Plano de Salvação do Pai incluía também a participação de uma humilde personagem, uma criatura muito amada por Deus e por todos nós, seus filhos. Neste Evangelho nos encontramos com a jovem Maria de Nazaré. Corajosa, humilde e de uma fé inabalável.
Assim que o Arcanjo Gabriel lhe disse para não ter medo, não pensou duas vezes; acreditou e corajosamente deu o seu "Sim", para que o Plano de Deus pudesse ser executado.
O diálogo entre a Virgem e o Arcanjo mostra que devemos estar sempre abertos para ouvir aquilo que Deus nos pede. Maria estava aberta ao diálogo. Atentamente ouviu o pedido do Pai, através do Arcanjo e de imediato colocou-se a serviço.
Ao cumprimentá-la, disse o Anjo: "Alegre-se!” A alegria é o presente que recebemos do Pai, é algo que brota de dentro de nós, como dom de Deus, quando cumprimos sua vontade.
A alegria tomou conta Daquela que foi chamada por Deus de "Cheia de Graça". Cheia de Graça porque foi concebida sem pecado, isenta de tudo que ofende a Deus e ao próximo. Maria é uma criatura pura e cristalina, um verdadeiro Sacrário para abrigar o Filho de Deus.
"Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?" Esta foi sua única dúvida. Como mulher inteligente, casta e santa, não conseguia imaginar como poderia se realizar essa gravidez. Mesmo não entendendo a profundidade da resposta do Arcanjo, Maria acreditou e entregou-se totalmente a Deus.
"Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra". É assim que Maria participa da obra redentora de Deus. Mas a sua maternidade divina não é um dom só para ela. É dom para todos nós. Pela obra do Espírito Santo e pela fé de Maria, Cristo entra na história e inicia a obra de redenção da humanidade.
Nossa Mãe é repleta de virtudes, porém, a humildade e a fé nela transparecem. Saem como raios de seu interior, podem ser vistas de longe. Humildade e fé transbordam no coração da Cheia de Graça; são esses os dons que precisamos aprender cultivar e fazer crescer em nossos corações.
Deus concede suas graças conforme a missão que confia a cada um de nós. Pacientemente, Deus espera o nosso sim e, se nos escolheu para o apostolado, certamente, também nos dará as graças necessárias para cumprirmos a tarefa.
Imitar Maria, confiar e entregar-se à vontade divina, essa é a receita, assim deve ser nossa conduta, apesar de, tantas e tantas vezes, nos fazermos de desentendidos e surdos, diante do convite de Deus, para darmos continuidade ao seu projeto de salvação. 
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O que significa a Coroa do Advento?


Eu Sou a Luz do mundo (Jo 12, 8)

A vela sempre teve um significado especial para o homem, sobretudo porque antes de ser descoberta a eletricidade ela era a vitória contra a escuridão da noite. À luz das velas São Jerônimo traduzia a Bíblia do grego e do hebraico para o latim, nas grutas escuras de Belém onde Jesus Cristo nasceu.
Em casa, a noite, quando falta a energia, todos correm atrás de uma vela e de um fósforo, ainda hoje.
Acender velas nos faz lembrar também a festa judaica de “Chanuká”, que celebra a retomada da Cidade de Jerusalém pelos irmãos macabeus das mãos dos gregos do rei Antíoco IV.
Antes da era cristã os pagãos celebravam em Roma a festa do deus Sol Invencível (Dies solis invicti) no  solstício de inverno, em 25 de dezembro. A Igreja sabiamente começou a celebrar o Natal de Jesus neste dia, para mostrar que Cristo é o verdadeiro Deus, o verdadeiro Sol, que traz nos seus raios a salvação. É a festa da luz que é o Cristo: “Eu Sou a Luz do mundo” (Jo 12, 8). No Natal desceu a nós a verdadeira Luz “que ilumina todo homem que vem a este mundo” (Jo 1, 9).
Na chama da vela estão presentes as forças da natureza e da vida. Cada vela marca um ano de nossa vida no bolo de aniversário. Para nós cristãos simbolizam a fé, o amor e  o trabalho realizado em prol do Reino de Deus. Velas são vidas que se imolam na liturgia do amor a Deus e ao próximo. Tudo isso foi levado para a liturgia do Advento. Com ramos de pinheiro uma coroa com quatro velas prepara os corações para a chegada do Deus Menino.
Nessas quatro semanas somos convidados a esperar Jesus que vem. É um tempo de preparação e de alegre espera do Senhor. Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia nos convida a vigiar e esperar a vinda gloriosa do Salvador. Nas duas últimas, a Igreja nos faz lembrar a espera dos Profetas e de Maria pelo nascimento de Jesus.
A Coroa é o primeiro anúncio do Natal. O verde é o sinal de esperança e vida, enfeitada com uma fita vermelha que simboliza o amor de Deus que se manifesta de maneira suprema no nascimento do Filho de Deus humanado. A branca significa a paz que o Menino Deus veio trazer; a roxa clara (ou rosa) significa a alegria de sua chegada.
A Coroa é composta de quatro velas nos seus cantos presas aos ramos formando um círculo. O círculo não tem começo e nem fim, é símbolo da eternidade de Deus e do reinado eterno do Cristo. A cada domingo acende-se uma delas.
As quatro velas do Advento simbolizam as grandes etapas da salvação em Cristo. No primeiro domingo do Advento, acendemos a primeira vela que simboliza o perdão a Adão e Eva. Cristo desceu a Mansão dos mortos para dar-lhes o perdão. No segundo domingo, a segunda vela, acesa coma primeira, representa a fé dos Patriarcas: Abraão, Isaac, Jacó, que creram na Promessa da Terra Prometida, a Canaã dos hebreus; dali nasceria o Salvador, a Luz do Mundo. A terceira vela, acessa com as duas primeiras, simboliza a alegria do rei Davi, o rei que simboliza o Messias porque reuniu sob seu reinado todas as tribos de Israel, assim como Cristo reunirá em si todos os filhos de Deus. É o domingo da alegria. Esta vela têm uma cor mais alegre, o rosa ou roxo claro. A última vela simboliza os Profetas, que anunciaram um reino de paz e de justiça que o Messias traria. É a vela branca.
Tudo isso para nos lembrar o que anunciou o Profeta: “Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor.” (Is 11,1-2).
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. 3. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos” (Is 9,1-6).
Prof. Felipe Aquino

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Quais as atitudes interiores para o Advento?

Tempo do Advento: reconhecimento e acolhimento do Senhor que vem. Ao encerrarmos o ciclo comum do tempo litúrgico, adentramos, como Igreja, no Tempo do Advento. Ao refletirmos, liturgicamente, numa dimensão celebrativa que vise o comprometimento de vida, celebramos, nesse período, Jesus Cristo, no tempo e na história dos homens. É Ele quem vem nos trazer a salvação. É, portanto, o tempo da expectativa, e todo cristão é chamado a vivê-lo em plenitude, para que, dignamente preparado, esteja em condições de receber o Senhor que vem.

O Advento contempla, no conjunto do seu sentido espiritual, duas dimensões fundamentais. A primeira observa o mistério da Encarnação, Jesus que se encarnou, assumindo nossa humanidade. Já a segunda dimensão nos leva ao coração, para a promessa de Cristo Jesus acerca de Sua Segunda Vinda. Encarnação e Segunda Vinda de Jesus, eis os dois aspectos que devem iluminar, como um farol, a boa vivência da nossa espiritualidade nesse tempo litúrgico.

Mas quais seriam as atitudes interiores próprias para que o Tempo do Advento não passe sem realizar um efeito eficaz na nossa história de vida? Deixo aqui algumas indicações para uma boa preparação para a Vinda do Senhor:

1- Manter-se vigilante na fé e na oração, numa abertura atenta e disponível para reconhecer os "sinais" da vinda do Senhor em todas as circunstâncias e momentos da vida, até o fim dos tempos. Ou seja, viver essa saudável e tão necessária tensão escatológica, daqueles que não enfraquecem no zelo e na expectativa do cumprimento das promessas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nas promessas de Jesus repousa e baseia-se a solidez da nossa esperança. Uma esperança que não é circunstancial, mas sobrenatural e eterna. Rever a vivência do batismo, à luz dessas verdades fundamentais, ajuda-nos a dispor o coração para Deus.

2- Colocar a vida no caminho traçado por Deus, no projeto divino de salvação, ou seja, na vontade salvífica do Senhor. Isso significa não se extraviar por caminhos tortuosos, mas converter-se para seguir Jesus rumo ao Reino de Deus Pai. Essa constitui outra tensão saudável que também não pode estar ausente da vida de todo cristão que se preze: a tensão de conversão. Sem esta ninguém agrada a Deus, pois se perde a essência do homem novo, o qual se encontra em contínua construção, rumo à plenitude, que é Deus. Aquele que busca conversão caminha para o Tudo que é Deus; já o que não a busca, caminha para o nada de si mesmo, para o nada da vida.

3- Ser testemunha da alegria que Jesus Salvador nos traz com caridade afável e paciência para com os outros. Tendo por comportamento uma abertura para todas as iniciativas de bem, por meio das quais já se constrói o Reino futuro na alegria sem fim. Isso significa que a alegria salvífica deve estar sempre presente na vida testemunhal do cristão, mesmo em meio às dificuldades da vida. Jesus Cristo é a nossa alegria e salvação, rejubilemos sempre pela graça que nos foi concedida.

4- Manter um coração pobre e vazio de si, imitando São José, Nossa Senhora, João Batista e os outros pobres do Evangelho, na humildade de quem sabe reconhecer e acolher Jesus, o Filho de Deus, Salvador da humanidade. Buscar e atualizar, na vida, a centralidade do mistério de Cristo, que sempre nos favorece na preparação rumo ao encontro do Senhor Jesus que vem a nós.

Participar da Celebração Eucarística, nesse tempo do Advento, significa acolher e reconhecer o Senhor, o qual, continuamente, vem ficar no meio de nós; é segui-Lo no caminho que leva ao Pai. Com Sua vinda gloriosa, no fim dos tempos, que Ele nos introduza, todos juntos, no Reino, para nos fazer "tomar parte na vida eterna" com os bem-aventurados e santos do céu.

Que a vivência desse tempo litúrgico seja fecundo na vida de todos nós. Uma caminhada de recolhimento, que traz em si o potencial de purificar a vida na justiça e na verdade, preparando os caminhos do Senhor. Que o Cristo não nos encontre passivos, indiferentes, excessivamente preocupados com aquilo que passa, aponto de não percebermos o valor e a presença do Eterno que vem a nós. Sejamos todos ativos e comprometidos nas atitudes interiores que o Senhor nos chama a viver, para que nossa esperança seja vivificada. Tomemos cuidado com o materialismo e o excesso de atividades terrenas. Tais realidades são perigosas e capazes de desviar e esvaziar a vida do seu verdadeiro e mais profundo mistério: apontar para uma caminhada perseverante rumo à eternidade! Seja ativo e concreto nas suas respostas de vida, em função do mistério celebrado e vivido. Creia para viver com sabedoria a vida terrena, e viva intensamente de acordo com sua fé, que deve sempre apontar para o Céu. Eis o cristão de verdade, sem falsidade, que caminha com sabor de eternidade!


Padre Eliano Luiz Gonçalves
Vice-reitor do Seminário Diocesano N.S. Mãe dos Sacramentos

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

01 dezembro 2013 – 1º Domingo do Advento – (Mt 24, 37-44)

“Vigiai, porque não sabeis o dia em que chegará vosso Senhor”
Evangelho: (Mt 24, 37-44)
A vinda do Filho do homem será como nos dias de Noé. Nos dias que antecederam o dilúvio, as pessoas comiam, bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Elas nem se deram conta, até que veio o dilúvio e as arrastou a todas. Assim será a vinda do Filho do homem. Estarão dois na lavoura, um é levado e o outro é deixado. Duas mulheres estarão moendo trigo no moinho, uma é levada e a outra é deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia em que chegará o Senhor. Vós bem sabeis que, se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, estaria de vigia e não deixaria arrombar-lhe a casa. Por isso estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais virá o Filho do homem.
COMENTÁRIO
Estamos iniciando um novo Ano Litúrgico. São três os anos litúrgicos, ano A, B e C. Este é o ano A. Estaremos refletindo o evangelho de São Mateus. Diferentemente do ano civil, o ano litúrgico não tem seu início no primeiro dia do mês de janeiro, mas sim no primeiro domingo do Advento.
Advento significa vinda, chegada. É tempo de espera, é o período de quatro semanas que antecede o Natal. É uma época muito bonita e festiva, com muitas tradições, luzes e presentes. É tradição enfeitar e limpar as casas no Natal, afinal elas devem estar limpinhas para receberem um convidado muito especial.
No entanto, é muito triste saber que milhares de casas são enfeitadas para acolher somente o papai-noel. Poucos estão cientes que o ilustre convidado não é uma lenda de barbas brancas, mas sim Jesus Cristo. Advento é tempo de preparação para receber o Menino Deus. Vamos então, começar a faxina e preparar uma grande festa para o aniversariante que quer, mais uma vez, renascer em nós.
Vamos aproveitar este período e prepararmo-nos para acolher o verdadeiro motivo desta festa. O amor é o detergente que limpa e embeleza, é luz que ilumina. Só através dele e da convivência fraterna poderemos transformar os corações em aconchegantes manjedouras para acomodar o Salvador do Mundo.
O evangelho de hoje, a princípio, parece assustador. Fala que Jesus virá como no tempo de Noé. Lembra o dilúvio que, praticamente, eliminou todos os seres vivos da face da terra.
Se levarmos ao pé da letra o que acabamos de ler, podemos chegar a conclusão de que Deus não nos ama e que está só esperando uma pequena distração para, sorrateiramente, chegar, julgar e condenar.
Certamente não é assim o Nosso Deus. Jesus nos ama e deu sua própria vida para nos salvar. Deus quer o melhor para cada um de nós, no entanto Ele alerta que é preciso estar atento e vigilante, pois caso contrário poderá ser tarde quando realmente chegar o dia do juízo final. 
Ninguém deve se desesperar, mas também não pode negligenciar. Estar atento significa viver calmamente como se fossemos eternos e, ao mesmo tempo, viver intensamente a partilha e o amor, como se fosse hoje nosso último dia. Resumindo: o que parece uma previsão sombria, é na verdade uma boa notícia.
O Evangelho é sempre uma Boa Notícia, uma mensagem de alegria e de esperança. A Palavra de Deus é vida e salvação. Deus sempre nos fala de forma muito clara. Por isso, se a leitura bíblica nos traz medo e angústia, significa que não estamos entendendo, nem vivendo, a verdadeira mensagem do evangelho. 
Se soubéssemos o dia e a hora, nunca teríamos a casa arrombada. Como não temos essa informação, a única alternativa é manter uma constante vigilância para preservar nosso patrimônio. Hoje estamos muito bem, porém amanhã... como será nosso amanhã? Só Deus é quem sabe, por isso só quem estiver preparado terá preservado seu mais caro patrimônio, a própria vida.
Para preservar a vida é preciso perceber a presença constante de Jesus orientando-nos a trilhar seus caminhos, ensinando como se aproximar sem escravizar e como construir um mundo de paz, de justiça e de amor.
O Filho do Homem não tem a menor pretensão de chegar de surpresa. Tranqüilize-se, felizmente Ele já chegou. Jesus está aqui e dá garantias de vida eterna para quem enxergá-lo no próximo.

Início do Ano Litúrgico

O Ano Litúrgico começa com o advento, que significa "preparação para a chegada". No dia 01 de dezembro de 2013, primeiro domingo do advento, inicia-se um novo Ano Litúrgico, seguindo o evangelho de Mateus (Ano A).

Nossa vida cotidiana é uma eterna correria e, de repente, nos damos conta de que adquirimos muita experiência, porém estamos mais velhos e cansados. Visto dessa forma, o tempo parece nos aprisionar e condenar a um destino fatal.

A perspectiva bíblica sobre o tempo é bem outra. A encarnação de Jesus inaugurou o tempo novo da graça e da salvação.

O Reino já está presente neste mundo e será pleno na eternidade. Assim, o momento atual é o tempo e o lugar para usufruirmos a vida nova na força do Espírito Santo e alcançarmos a salvação definitiva.

Eis que o nosso tempo se transforma numa esperançosa história de salvação que revela o amor e a misericórdia de nosso Deus providente. Há somente um pré-requisito para fazer parte desta história: "convertei-vos e crede na Boa-Nova". Este chamado acompanhará o cristão durante toda a sua vida.

Hoje, entre nós, se manifesta a graça, assim como Jesus afirmou na sinagoga de Nazaré, quando proclamou o profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista".
Ao final da leitura, solenemente afirmou: "Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura".

O Ano Litúrgico é um contínuo "hoje", pois a salvação é sempre atual e está a nossa mão.

O Espírito Santo atualiza, por seu poder transformador, o mistério de Cristo.

O Ano Litúrgico, celebrado pela Igreja, quer nos colocar eficazmente em contato com a salvação oferecida gratuitamente pelo Senhor. Ao celebrar os eventos protagonizados por Cristo, a Igreja faz memória deles e torna-nos contemporâneos. O Ano Litúrgico comemora o próprio Cristo, em movimento no tempo e no espaço a continuar sua obra salvífica.

A celebração destes acontecimentos reproduz em nós a vida e a imagem do Filho de Deus, para que cada vez mais possamos ser transformados no mistério que celebramos. Cada mistério da vida de Cristo implica diretamente em nossa vida e em nosso destino final de filhos de Deus.

Possa cada um de nós acompanhar, com vontade, com amor, com humildade, os passos de Jesus, através do Ano Litúrgico que em breve se iniciará.

Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 

sábado, 23 de novembro de 2013

Encerramento do Ano da Fé

Perseverar na Alegria da Fé

Chegamos ao final do Ano da Fé. Tivemos oportunidade para 
fazer crescer e fortalecer a fé teologal em nossa vida pessoal 
e comunitária.
Deus revelou a sua face. Quis viver no meio de nós, para que 
pudéssemos conhecê-lo e amá-lo. Jesus Cristo é a verdadeira 
revelação de Deus (cf. Jo 14, 9). Assim sendo, podemos crer 
em Deus, porque Deus nos toca, porque Ele está em nós. 
Podemos nele crer, porque está naquele que nos enviou: Ele 
viu o Pai (cf. Jo, 6, 46); ele é “o único a conhecê-lo e que pode 
revelá-lo”. Poderíamos dizer então que “a fé é a participação 
no olhar de Jesus”.
Por outro lado, a fé não é um ato individual, mas eclesial. “Uma 
comunidade paroquial e também toda Igreja local que não seja 
capaz de comunicar com palavras novas a Palavra eterna, 
que não seja capaz de gestos, sinais, caminhos corajosos, 
buscados e experimentados com criatividade, poderia ser 
um perigoso sinal de declínio na resposta ao dom da fé que o 
Espírito dá, constantemente, a todos” (Viver o Ano da Fé, Ed. 
CNBB, pág. 181).
Redescobrir a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo na 
comunicação da fé será um dos grandes frutos do Ano da Fé.
O sentido de pertença à Igreja implica a consciência de que a 
fé vive pela transmissão dentro de uma tradição que leva até 
Cristo. Não interrompamos essa transmissão. Escrevamos e 
gravemos o Símbolo da fé na memória e no coração, para fazer 
dele nossa oração de cada dia.
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

24 novembro 2013 – Cristo Rei – (Lc 23, 35-43)

“Pois eu te digo que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”
Evangelho: (Lc 23, 35-43)
Os sumos sacerdotes zombavam de Jesus, dizendo: “Ele salvou os outros; se for o Cristo de Deus, o Eleito, salve-se a si mesmo”. Também os soldados aproximavam-se para oferecer-lhe vinagre e zombavam, dizendo: “Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo”. Pois havia também uma inscrição acima dele: “Este é o rei dos judeus”. Um dos criminosos crucificados insultava-o, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. O outro, porém, o repreendeu, dizendo: “Nem tu, que estás sofrendo a mesma condenação, temes a Deus? Nós sofremos com justiça porque recebemos o castigo merecido pelo que fizemos, mas este nada fez de mal”. E falou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres como Rei”. E Jesus lhe respondeu: “Eu te asseguro: ainda hoje estarás comigo no paraíso”.
COMENTÁRIO
Celebramos hoje a Festa de Cristo Rei. O Único e Verdadeiro Rei. Rei do universo, das nossas vidas, das famílias e dos corações. Com a Festa de Cristo Rei nós encerramos o ano litúrgico C.
Na próxima semana iniciamos o ano A e comemoraremos o primeiro domingo do Advento. Advento é tempo de preparação e de espera para a vinda do Menino Deus. É o início da caminhada de um novo ano litúrgico. 
A festa de Cristo Rei do Universo é um prêmio para todo cristão, é a forma que a Igreja encontrou para coroar todos os esforços e trabalhos das comunidades. Uma festa que é, ao mesmo tempo, de extrema nobreza e humildade.
Festejamos Jesus, o Rei dos reis, que sendo Filho de Deus não assumiu o poder nem os símbolos da grandeza humana, mas vestiu-se com as roupas da humildade, da simplicidade e da pobreza. Um Rei nobre por natureza, capaz de vencer sem destruir, que fez do amor sua única arma.
"Salvou aos outros, salva-te a ti mesmo!" Estas palavras que a princípio parecem insultos e gracejos, são na verdade, um grande testemunho do poder e da bondade de Deus, dado pelos chefes do povo. Ao afirmar que Jesus já salvara aos outros, sem perceber, eles estavam proclamando que Jesus era o Salvador.
Jesus não veio para salvar a si próprio. Jesus veio para salvar almas, para redimir-nos do pecado e salvar a humanidade. O Projeto de Salvação do Pai incluía sua morte na cruz. Por amor entregou sua própria vida e nos fez entender que a verdadeira Salvação não consiste em preservar o corpo, mas sim a alma.
O Rei foi colocado entre marginais e crucificado como um malfeitor. Foi difamado, chicoteado, coroado de espinhos, mas não perdeu sua realeza. Jesus nos ensina também a sofrer com resignação. Na cruz, diante de tanto sofrimento e injúrias, ciente de sua inocência, não blasfemou nem maldisse sua sorte.
O Rei dos reis deu novo sentido à cruz. O que antes representava infâmia e vergonha tornou-se símbolo de Salvação. Jesus disse que, se alguém deseja salvar-se, deve renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lo. Testemunhar a cruz como o único caminho que leva à salvação, é missão do súdito do Rei.
Este evangelho é muito rico em ensinamentos. Temos muito que aprender também com a mensagem dos dois ladrões. Tão próximos e tão distantes de Jesus. Assim como toda humanidade, eles estavam condenados a morte. No entanto, apesar de ambos estarem ao lado do Salvador, um acabou morrendo sem conhecer a Salvação.
Isso prova que não basta estar ao lado de Jesus. Não é suficiente viver num ambiente cristão para ganhar a vida eterna. A proximidade física não garante a salvação. O Paraíso é conquistado através do arrependimento e conversão, é um prêmio para quem humildemente declarar-se pecador e viver o amor. 
Um deles insultava, questionava a divindade e tentava testar os poderes de Jesus. O outro levado pela graça divina converteu-se, acreditou, deixou-se levar pela fé e recebeu de Jesus a promessa de salvação.
Numa clara demonstração de sua infinita misericórdia para com os pecadores, Jesus lhe dá garantias da felicidade eterna. "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso!" Com estas Palavras Jesus afirma que nunca é tarde para a reconciliação e nos convida a entregarmos a própria vida em favor da vida.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Término do Ano da Fé

Neste ano, na Festa de Cristo Rei, finalizando o Ano Litúrgico, também encerramos o Ano da Fé. Foi tempo (11/10/2012 a 24/11/2013) de reflexões, encontros, simpósios e outras iniciativas, numa tentativa de revitalização da fé e motivação para uma vivência cristã mais comprometida com a missão da Igreja.

A fé é dom de Deus, mas passa pelos caminhos da cruz, onde Cristo foi proclamado “rei dos judeus”. É o reinado da fé, um ato de obediência e de seguimento consciente do reino do alto, diferente do reino puramente terreno. Reino da doação, da construção de valores que irrompem na cultura secularizada. 

Na história da vida humana, enfrentamos malfeitores e atitudes que desqualificam a identidade do indivíduo. Diante de tudo que acontece na convivência, somos compelidos a fazer escolhas, de aceitar ou repelir as diversas propostas do bem. Isto reflete as atitudes emanadas dos dois crucificados na cruz com Jesus Cristo.

“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Aquele que foi qualificado como “bom ladrão”, consciente de seus atos escusos, expressa uma situação própria pedida pelo do Ano da Fé. Ele reconhece seus erros e entende a infinita misericórdia do Senhor. Recupera sua prática de fé e é acolhido na “mansão dos vivos”. 

O verdadeiro rei seja político, líder, pai ou mãe, não pode ser avesso às exigências de seu público. Em concreto, é um a serviço de todos, tendo os mesmos sentimentos que expressam o querer social. Na dimensão de fé, o “rei” existe para servir e não para ser servido. Pior ainda quando explora a insensibilidade de seus dirigidos.

Viver intensamente a fé em Deus é fazer um ato de libertação. Resgatar a humanidade das condições de opressão, dos antivalores do mundo, que impedem a realização dos meios pelos quais acontece o “já” e o “ainda não” da plenitude da vida. O “rei” que não tem princípios de fé não consegue enxergar as realidades mais profundas da dignidade da pessoa humana e não põe em prática os valores do reino divino.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.

Jesus, o Cristo e Senhor de nossas vidas

Jesus, o Cristo e Senhor de nossas vidas! Quanta tinta e quanta fala gerou esse nome! "A fé cristã está centrada em Cristo; é confissão de que Jesus é o Senhor e que Deus O ressuscitou de entre os mortos" (Rm 10, 9). Mas não somente a fé cristã, como afirma a encíclica Lumen Fidei. 

O mundo inteiro se concentra em Cristo, a História foi dividida em duas partes, antes e depois Dele, o universo foi criado por Ele. "A história de Jesus é a manifestação plena da fidelidade de Deus. … a vida de Jesus aparece como o lugar da intervenção definitiva de Deus, a suprema manifestação do seu amor por nós."

Acontece que precisamos de garantias. O humano não quer explicações, quer garantias. Na hora da dor, de pouca ajuda serve explicar que tal coisa aconteça assim por causa de outra coisa. São apenas explicações mecânicas. Na hora da dor, na solidão suprema, da angústia, da morte, nada explica. Só uma garantia garante. 

Mas, mesmo assim, não qualquer uma. "Não há nenhuma garantia maior que Deus possa dar para nos certificar do seu amor, como nos lembra São Paulo (Rm 8, 31­39). Portanto, a fé cristã é fé no Amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo." É essa a garantia de que precisamos, sem ela não podemos viver.

Algo precisa nos garantir nas incertezas da vida. Mas não algo qualquer. Alguém precisa nos garantir na ronda das ameaças da morte. Mas não qualquer um, um alguém qualquer. Nem um ato qualquer. Nem um gesto qualquer. "A maior prova da fiabilidade do amor de Cristo encontra-­se na sua morte pelo homem. Se dar a vida pelos amigos é a maior prova de amor (Jo 15, 13), Jesus ofereceu a sua vida por todos, mesmo por aqueles que eram inimigos, para transformar o cração." É o que nos lembra o papa Francisco. E em boa hora nos lembra.

A cansada pós-modernidade, depois de ter retirado todos os esteios onde o homem antes dela se apoiava para descansar, para continuar, para viver, depois de tudo o que aconteceu, repito, a cansada pós-modernidade se encontra esvaziada do sentido que roubou do homem e da ausência de sentido que lhe deixou como herança. 

Sim, nos tornamos mais capazes. Sim, nos tornamos mais independentes. Sim, nos tornamos mais livres. E agora, fazemos o quê com nossa capacidade, nos serve de quê a independência pela qual lutamos, para onde dirigirmos a liberdade que nos queima nas mãos? "…os evangelistas situam, na hora da Cruz, o momento culminante do olhar de fé: naquela hora resplandece o amor divino em toda a sua sublimidade e amplitude…. é precisamente na contemplação da morte de Jesus que a fé se reforça e recebe uma luz fulgurante, é quando ela se revela como fé no seu amor inabalável por nós, que é capaz de penetrar na morte para nos salvar. Neste amor que não se subtraiu à morte para manifestar quanto me ama, é possível crer; a sua totalidade vence toda e qualquer suspeita e permite confiar­nos plenamente a Cristo."

Essa é a única resposta cabível para as perguntas que ficaram suspensas antes da citação da encíclica. Não é ruim sermos capazes ou independentes ou livres. Pelo contrário. São valores que já custaram sangue. Mas se toda conquista humana reverter apenas numa dose cada vez maior de autossuficiência, então, nenhuma dessas conquistas poderá conceder ao homem o dom da única garantia de que ele precisa para viver: a garantia de ser amado. Sem ela, sobra o desespero. Mas essa, só o Pai concede. Essa tem nome: seu nome é Jesus. 

Nele brilha o amor do Pai por nós. "Se o amor do Pai não tivesse feito Jesus ressurgir dos mortos, se não tivesse podido restituir a vida ao seu corpo, não seria um amor plenamente fiável, capaz de iluminar também as trevas da morte." Ele é a nossa garantia. Em boa hora o papa nos lembra.

Uma última palavra. Ainda se ouve um jargão antigo: Cristo sim, Igreja não. Como se fosse possível separar a cabeça do corpo. E como se fosse possível viver comodamente uma fé em Cristo que, pela sua irradiante comodidade, dispensasse o convívio dos irmãos, no duro massacre do dia-a-dia, que é justamente onde e quando demonstramos a fé que nos anima. Essa fé cômoda não induz crescimento algum. 

Traz apenas os benefícios de uma piedade autogratificante, centrada nas urgências e nas necessidades de cada um, com forte apelo emocional, mas pouco embasamento bíblico-litúrgico-eclesial. A Igreja é o corpo místico de Cristo. "A imagem do corpo não pretende reduzir o crente a simples parte de um todo anônimo, a mero elemento de uma grande engrenagem; antes, sublinha a união vital de Cristo com os crentes e de todos os crentes entre si (Rm 12, 4­5)" – diz a encíclica – "a fé torna-­se operativa no cristão a partir do dom recebido, a partir do Amor que o atrai para Cristo (Gl 5,6) e torna participante do caminho da Igreja, peregrina na história rumo à perfeição. Para quem foi assim transformado, abre-­se um novo modo de ver, a fé torna-­se luz para os seus olhos."

Somos membros do mesmo corpo, comungamos do mesmo Pão que é o Corpo do Senhor. Somos a Igreja de Jesus, o Povo de Deus a caminho, o corpo místico de Cristo. A analogia do corpo nos diz bem quem somos: somos membros, responsáveis uns pelos outros. 

Portanto, que nenhuma manifestação ou vivência de fé nos isole em compartimentos fechados, mas, justamente, ao contrário, que seja a Fé, virtude teologal e dom do Batismo a força a sempre nos impelir a perguntar: "Em que posso servir?" Motivos não nos faltam, e o maior deles, com certeza, é a garantia de que somos amados por um amor sem medida: o amor de Jesus, o Cristo e Senhor de nossas vidas! 

Dom José Francisco Rezende Dias 
Arcebispo Metropolitano de Niterói

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Homilia do 33º. Domingo do Tempo Comum – Ano C

Ao nos aproximarmos do fim do ano litúrgico, meditamos sobre o fim dos tempos. Como na semana passada, seguimos refletindo sobre as nossas realidades últimas.

As leituras deste domingo pedem uma boa interpretação. É preciso ter cuidado para que a linguagem apocalíptica não seja tomada ao pé da letra, para que a Palavra de Deus não seja motivadora do medo. Note-se a dramaticidade da primeira leitura: “esse dia vindouro haverá de queimá-los...” Textos apocalípticos nos convidam a pensar na seriedade da vida, mas não devem nos assustar. O nosso Deus é misericordioso, compassivo, amável. Ele não pode dizer uma coisa e depois entrar em contradição. Se lermos o Evangelho com atenção, saberemos que quando Cristo vier, virá com todo o amor que lhe é próprio. A Palavra sobre o fim quer nos dar esperança. As palavras duras servem para ressaltar a seriedade do fim dos tempos.

Vivemos desde já o fim dos tempos. Não se trata de um tempo cronológico, pois o fim do mundo não tem data marcada. Entre a Páscoa e a Parusia (vinda do Senhor) temos o nosso tempo (o tempo penúltimo), quando vivemos na espera pelo que virá. Antigamente, era comum nos perguntarmos: “para onde vamos?”, “teremos a recompensa do Céu?”. Hoje, o importante é refletir sobre o tempo presente: “Como acolher a eternidade que já vem a nós antecipadamente?”, “Em que medida a esperança da salvação nos faz viver esta vida de um modo comprometido?”.

Por isso, São Paulo alertou a comunidade de Tessalônica quanto ao desleixo com as coisas do mundo. Consideravam que era tão certa a vinda imediata de Cristo, que resolveram parar de trabalhar, cruzaram os braços. O apóstolo ensina que esperar a vinda não significa se esquecer da vida.

É preciso também ter prudência. Há muitos cristãos católicos (não só nas seitas) que gostam de falar de revelações sobre os últimos tempos: pregam uma série de práticas para se prevenir do fim do mundo, marcam datas, demonizam tudo e todos, falam do futuro da Igreja, do próximo papa... “Muitos dirão: o tempo está próximo! Não sigais essa gente!” (Lc 21,8c). É preciso preocupar-se com a vida presente e concreta e o modo como podemos contribuir para que o Reino aconteça, sem fugas.

Neste tempo, será necessário enfrentar as tribulações da vida com esperança e fé: “Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”. Não é possível fugir das dificuldades da vida. Mas, embora tenhamos cruzes, Deus não nos desampara. Ele nos sustenta em cada momento de nossas vidas. Assumir a vida com responsabilidade nos leva a enfrentar situações que se opõem a presença do Reino de Deus. É preciso confiar que, embora haja perseguição, o próprio Deus nos dará palavras acertadas (Lc 21,15).

Os discursos sobre o fim dos tempos nos remetem à seriedade da vida: nós vamos morrer um dia, o mundo será restaurado para que o Reino de Deus seja pleno. E nós? Cada um tem a sua tarefa, a sua responsabilidade no hoje, na construção do futuro de Deus. Ele poderia fazer tudo sozinho, mas no seu mistério de amor, deseja que cada um de nós seja seu colaborador. Note que a questão não é fazer o bem para angariar pontos para ir para o Céu, mas ser co-criador, co-laborador da obra de Deus que se chama Reino. Disto depende nossa eternidade, não porque o Senhor irá nos castigar pelos pecados, mas porque é nesta vida que vamos orientando o nosso coração para o amor ou para o egoísmo que nos afasta de Deus. O que vem depois depende desta orientação do coração. Ouçamos a voz do senhor que nos diz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19).

Pe. Roberto Nentwig

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

10 novembro 2013 – 32º Domingo do Tempo Comum – (Lc 20,27-38)

“Na ressurreição, de quem a mulher será esposa?”
Evangelho: (Lc 20,27-38)
Alguns do partido dos saduceus, que negam a ressurreição, aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram: “Mestre, Moisés nos deixou escrito: Se um homem casado morrer deixando a mulher sem filhos, case-se com ela o irmão dele para dar descendência ao morto. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. Da mesma forma o segundo, o terceiro, e sucessivamente os sete casaram-se com ela e morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. Na ressurreição, de quem ela será mulher, se os sete a tiveram por esposa?” Jesus lhes disse: “Nesta vida as pessoas casam-se e se dão em casamento. Os que forem considerados dignos, porém, de ter parte na outra vida e na ressurreição dos mortos, não se casam nem se dão em casamento. É que eles já não podem morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, uma vez que já ressuscitaram. Aliás, que os mortos hão de ressuscitar, o próprio Moisés dá a entender na passagem da sarça, quando diz: O Senhor Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó. Ele não é Deus de mortos mas de vivos, uma vez que para ele todos vivem”.
COMENTÁRIO 
Neste Evangelho, encontramos Jesus rodeado por alguns doutores da lei, chamados saduceus, que o procuraram para testá-lo, para colocá-lo a prova.
O grupo dos saduceus era formado por sacerdotes e leigos da alta sociedade. Eram pessoas ricas e influentes, subordinadas aos romanos e por isso, odiadas pelo povo e também pelos fariseus. No entanto, Apesar da aparente inimizade, por diversas vezes, fariseus e saduceus, uniram-se para combater Jesus.
Encontrar alguma falha em Jesus era para eles uma obsessão. Os saduceus não acreditavam na ressurreição dos mortos e negavam a Providência Divina. Para tentar justificar sua descrença, quiseram saber a opinião de Jesus a respeito da Lei de Moisés que dispunha sobre o matrimônio.
Toda nossa inteligência e raciocínio estão muito longe de entender o que nos espera na eternidade, mas pelo visto, querer enxergar as coisas de Deus com olhos humanos é coisa antiga. Com os saduceus era assim e parece que deles, herdamos a mesma mania.
Assim como os saduceus, nós também temos um conceito bem distorcido a respeito da vida eterna. Encaramos a eternidade como uma simples continuidade desta vida. Preocupamos-nos inclusive, em juntar tesouros, como se fôssemos realmente levá-los e utilizá-los no Paraíso.
Uma certeza nós temos: maravilhas que os olhos humanos jamais viram, Deus Pai reservou para nós no Céu. No entanto, não conseguimos entender a amplitude dessas maravilhas. Nossa postura com relação à vida eterna é parecida com a posição de um migrante ou turista. Parece que vamos somente para uma nova cidade, estado ou país, onde os nossos sonhos serão realizados.
Nosso entendimento é tão limitado, que nos leva a traçar um comparativo com as coisas boas que conhecemos. Por isso achamos que essas maravilhas de Deus se resumem em saúde, segurança, conforto, terra, emprego e uma série de coisas que almejamos, sempre relacionadas com nosso dia-a-dia.
A primeira resposta de Jesus, aos saduceus ressalta que o matrimônio é uma instituição deste mundo em que homens e mulheres morrem. A finalidade do casamento é conservar a espécie, através de novos nascimentos. Mas isso é uma necessidade apenas para este mundo.
Ao professarmos nossa fé, afirmamos que cremos na ressurreição da carne e na vida eterna, portanto, após a ressurreição, não haverá mais morte nem nascimento. A alma não morre, porém a carne ressuscitará e assumirá um corpo imortal, semelhante aos anjos, por isso não haverá necessidade da união entre esposa e marido.   
Nunca é demais lembrar que, na mesma oração de profissão de fé, também afirmamos que cremos que Jesus Cristo Ressuscitado, virá para julgar os vivos e os mortos. Por tudo isso, devemos viver a justiça e o amor, pois Jesus disse também que o justo não conhecerá a morte eterna.
A fé e a esperança na ressurreição devem se traduzir num compromisso em defesa da vida. Sabemos o que isso implica para nós enquanto comunidade. Acreditar no Deus dos vivos nos leva a lutar contra a opressão e injustiças. A certeza da ressurreição deve transformar vizinhos em irmãos.
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br

terça-feira, 5 de novembro de 2013

05 de Novembro - São Zacarias e Santa Izabel

Embora os nomes desses santos não estejam presentes no calendário litúrgico da Igreja, há muitos séculos a tradição cristã consagrou este dia à veneração da memória de são Zacarias e santa Isabel, pais de são João Batista. 

Encontramos a sua história narrada no magnífico evangelho de são Lucas, onde ele descreveu que havia, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias; a sua mulher pertencia à descendência de Aarão e se chamava Isabel. Eles viviam na aldeia de Ain-Karim e tinham parentesco com a Sagrada Família de Nazaré. 

Foram escolhidos por Deus por sua fé inabalável, pureza de coração e o grande amor que dedicavam ao próximo. Isabel, apesar de sua santidade, era estéril: uma vergonha para uma mulher hebréia, que era prestigiada somente através da maternidade. Mas foi por sua esterilidade que ela se tornou uma grande personagem feminina na historia religiosa do Povo de Deus. Juntos, foram os protagonistas dos momentos que antecederam o mais incrível advento da historia da humanidade: a encarnação de Deus entre os seres humanos. 

Estavam velhos, com idade avançada, e como não tinham filhos, julgavam essa graça impossível de ser alcançada. Foi quando o anjo do Senhor apareceu ao velho sacerdote Zacarias no templo e disse-lhe que sua mulher, Isabel, teria um filho que teria o nome de João, que significa "o Senhor faz graça". O menino seria repleto do Espírito Santo desde a gestação de sua mãe, reconduziria muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus e seria precursor do Messias. 

Zacarias, inicialmente, manteve-se incrédulo ante o anúncio celeste do nascimento de um filho pelo qual havia rezado com tanto ardor; para que pudesse crer, precisou de um sinal: ele ficou mudo até que João veio à luz do mundo. Na ocasião, sua voz voltou e ele entoou o salmo profético em que, repleto do Espírito Santo, profetizou a missão do filho. 

Enquanto isso, devido à proximidade da maternidade, Isabel recolheu-se por cinco meses, para estar em união com Deus. Os dias ela dividia em três períodos: de silêncio, oração e meditação. E foi assim que Isabel, grávida de João e inspirada pelo Espírito Santo, anunciou à Virgem Maria, sua prima, quando esta a visitou: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre". 

Após o nascimento de João, Zacarias e Isabel recolheram-se à sombra da fama do filho, como convém aos que sabem ser o instrumento do Criador. Com humildade, alegraram-se e satisfizeram-se com a santidade da missão dada ao filho, sendo fiéis a Deus até a morte.

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