sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Advento



Meditando a chegada de Cristo, devemos buscar o arrependimento dos nossos pecados e preparar o nosso coração


O Ano Litúrgico começa com o Tempo do Advento; um tempo de preparação para a Festa do Natal de Jesus. Este foi o maior acontecimento da História: o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Dignou-se a assumir a nossa humanidade, sem deixar de ser Deus. Esse acontecimento precisa ser preparado e celebrado a cada ano. Nessas quatro semanas de preparação, somos convidados a esperar Jesus que vem no Natal e que vem no final dos tempos.
Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia nos convida a vigiar e esperar a vinda gloriosa do Salvador. Um dia, o Senhor voltará para colocar um fim na História humana, mas o nosso encontro com Ele também está marcado para logo após a morte.
Nas duas últimas semanas, lembrando a espera dos profetas e de Maria, nós nos preparamos mais especialmente para celebrar o nascimento de Jesus em Belém. Os Profetas anunciaram esse acontecimento com riqueza de detalhes: nascerá da tribo de Judá, em Belém, a cidade de Davi; seu Reino não terá fim... Maria O esperou com zelo materno e O preparou para a missão terrena.
Para nos ajudar nesta preparação usa-se a Coroa do Advento, composta por 4 velas nos seus cantos – presas aos ramos formando um círculo. A cada domingo acende-se uma delas. As velas representam as várias etapas da salvação. Começa-se no 1º Domingo, acendendo apenas uma vela e à medida que vão passando os domingos, vamos acendendo as outras velas, até chegar o 4º Domingo, quando todas devem estar acesas. As velas acesas simbolizam nossa fé, nossa alegria. Elas são acesas em honra do Deus que vem a nós. Deus, a grande Luz, "a Luz que ilumina todo homem que vem a este mundo", está para chegar, então, nós O esperamos com luzes, porque O amamos e também queremos ser, como Ele, Luz.
No lº Domingo, há o perdão oferecido a Adão e Eva. Eles morreram na terra, mas viverão em Deus por Jesus Cristo. Sendo Deus, Jesus fez-se filho de Adão para salvar o seu pai terreno. Meditando a chegada de Cristo, que veio no Natal e que vai voltar no final da História, devemos buscar o arrependimento dos nossos pecados e preparar o nosso coração para o encontro com o Senhor. Para isso, nada melhor que uma boa Confissão, bem feita.
Até quando adiaremos a nossa profunda e sincera conversão para Deus?
No 2º Domingo, meditamos a fé dos Patriarcas. Eles acreditaram no dom da terra prometida. Pela fé, superaram todos os obstáculos e tomaram posse das Promessas de Deus. É uma oportunidade de meditarmos em nossa fé; nossa opção religiosa por Jesus Cristo; nosso amor e compromisso com a Santa Igreja Católica – instituída por Ele para levar a salvação a todos os homens de todos os tempos. Qual tem sido o meu papel e o meu lugar na Igreja? Tenho sido o missionário que Jesus espera de todo batizado para salvar o mundo?
No 3º Domingo, meditamos a alegria do rei Davi. Ele celebrou a aliança e sua perpetuidade. Davi é o rei imagem de Jesus, unificou o povo judeu sob seu reinado, como Cristo unificará o mundo todo sob seu comando. Cristo é Rei e veio para reinar; mas o seu Reino não é deste mundo; não se confunde com o “Reino do homem”; seu Reino começa neste mundo, mas se perpetua na eternidade, para onde devemos ter os olhos fixos, sem tirar os pés da terra.
No 4º Domingo, contemplamos o ensinamento dos Profetas: Eles anunciaram um Reino de paz e de justiça com a vinda do Messias. O Profeta Isaías apresenta o Senhor como o Deus Forte, o Conselheiro Admirável, o Príncipe da Paz. No seu Reino acabarão a guerra e o sofrimento; o boi comerá palha ao lado do leão; a criança de peito poderá colocar a mão na toca da serpente sem mal algum. É o Reino de Deus que o Menino nascido em Belém vem trazer: Reino de Paz, Verdade, Justiça, Liberdade, Amor e Santidade.
A Coroa do Advento é o primeiro anúncio do Natal. Ela é da cor verde, que simboliza a esperança e a vida, enfeitada com uma fita vermelha, simbolizando o amor de Deus que nos envolve e também a manifestação do nosso amor, que espera ansioso o nascimento do Filho de Deus.
O Tempo do Advento deve ser uma boa preparação para o Natal, deve ser marcado pela conversão de vida – algo fundamental para todo cristão. É um processo de vital importância no relacionamento do homem com Deus. O grande inimigo é a soberba, pois quem se julga justo e mais sábio do que Deus nunca se converterá. Quem se acha sem pecado, não é capaz de perdoar ao próximo, nem pede perdão a Deus.
Deus – ensinam os Profetas – não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva. Jesus quer o mesmo: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Por isso Ele chamou os pecadores à conversão: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mt 4,17); “convertei-vos e crede no Evangelho” ( Mc 1,15).
Natal do Senhor, este é o tempo favorável; este é o dia da salvação!
Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O que o nosso olhar provoca nas pessoas?


Lancemos hoje um olhar além do que conseguimos ver. Quando vemos uma pessoa, e olhamos para o seu semblante, logo insinuamos alguma coisa, que quase nunca corresponde ao que ela é; o rosto é somente um indicativo, precisamos olhar o coração dela, que muitas vezes está sofrido, angustiado, ferido, maltratado, entristecido e precisando de ajuda.
“O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração” (I Sm 16,7). Vamos fazer hoje a experiência de pedir ao Espírito Santo a graça de enxergar o coração de cada pessoa que vier ao nosso encontro, de modo que o nosso olhar gere cura e elas sintam-se amadas por nós. Nos evangelhos mostra que quando Jesus olhava para alguém, olhava amando. Senhor, ensina-nos a olhar para as pessoas, como o Senhor olha.
Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso.
http://luziasantiago.com

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

25 de Novembro de 2012 – Jesus Cristo, Rei do Universo


Evangelho de João 18, 33b-37
“Todo aquele que é da verdade, escuta a minha voz!”
Naquele dia, Pilatos tornou a entrar no palácio, chamou Jesus e lhe perguntou: “És tu o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Perguntas por ti mesmo ou foram os outros que te disseram isto de mim?” Pilatos disse: “Por acaso eu sou um judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes te entregaram a mim: o que fizeste?” Jesus respondeu: “Meu reino não é deste mundo. Se fosse deste mundo, os meus ministros teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. Pilatos disse-lhe então: “Logo, tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.
COMENTÁRIO
Hoje é um dia festivo para o súdito fiel, pois celebramos Cristo Rei. O Único e Verdadeiro Rei. Rei do universo, Rei das nossas vidas, das nossas famílias e dos nossos corações.
Com a festa de Cristo Rei, nós encerramos este ano litúrgico (ano B). Na próxima semana estaremos comemorando o primeiro domingo do Advento. O Advento é um tempo de preparação para a vinda do Menino Deus, tempo de espera e início de mais uma caminhada no novo ano litúrgico. 
A festa de Cristo Rei do Universo é um prêmio para todo cristão, é a forma que a Igreja encontrou para coroar todos os esforços e trabalhos das comunidades através dessa grande festa. Uma festa que é, ao mesmo tempo, de extrema nobreza e humildade. 
Festejamos Jesus, o Rei dos reis que, sendo Filho de Deus, não assumiu o poder nem os símbolos da grandeza humana, mas vestiu-se com as roupas da humildade, da simplicidade e da pobreza. Um Rei nobre por natureza, capaz de vencer sem destruir, fazendo do amor sua única arma. 
Pilatos perguntou a Jesus se Ele era rei. Ao dizer: “Meu Reino não é daqui”, Jesus deixa claro que é um Rei diferente, que não usa de força nem de violência para conseguir seus objetivos. Jesus é um Rei que não oprime, que não explora, que não engana seus súditos.
O Reino de Jesus é um Reino de amor, de justiça, de paz e de fraternidade. Um Reino onde os direitos são iguais e respeitados. Um Reino onde as pessoas não são valorizadas pela cor, posição social ou conta bancária. 
Parece utopia, mas esse Reino existe. Não só existe como não está distante, como imaginamos. É o Reino da partilha e da comunhão. Deve começar aqui na terra, na nossa família, na comunidade e estender-se por toda a eternidade.
“Venha a nós o vosso Reino!” Essa é a súplica que fazemos na oração que o Senhor nos ensinou. Nesse Reino, autoridade é serviço. Quem é o maior e primeiro, se faz o menor e o último. Esse é o Reino que nos espera. Um Reino de harmonia, onde a violência e o ódio cedem lugar ao amor e à paz.
Jesus finaliza dizendo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade. Só a verdade liberta. Para o cristão que vive a verdade já está reservado o Reino de Deus, um Reino sem muralhas onde as portas estão permanentemente abertas. Para entrar no Reino basta saber amar e perdoar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Santa Cecília - 22 de novembro

Certa vez, o cardeal brasileiro dom Paulo Evaristo Arns assim definiu a arte musical: "A música, que eleva a palavra e o sentimento até a sua última expressão humana, interpreta o nosso coração e nos une ao Deus de toda beleza e bondade". Podemos dizer que, na verdade, com suas palavras ele nos traduziu a vida da mártir santa Cecília. 

A sua vida foi música pura, cuja letra se tornou uma tradição cristã e cujos mistérios até hoje elevam os sentimentos de nossa alma a Deus. Era de família romana pagã, nobre, rica e influente. Estudiosa, adorava estudar música, principalmente a sacra, filosofia e o Evangelho. Desde a infância era muito religiosa e, por decisão própria, afastou-se dos prazeres da vida da Corte, para ser esposa de Cristo, pelo voto secreto de virgindade. Os pais, acreditando que ela mudaria de idéia, acertaram seu casamento com Valeriano, também da nobreza romana. Ao receber a triste notícia, Cecília rezou pedindo proteção do seu anjo da guarda, de Maria e de Deus, para não romper com o voto. 

Após as núpcias, Cecília contou ao marido que era cristã e do seu compromisso de castidade. Disse, ainda, que para isso estava sob a guarda de um anjo. Valeriano ficou comovido com a sinceridade da esposa e prometeu também proteger sua pureza. Mas para isso queria ver tal anjo. Ela o aconselhou a visitar o papa Urbano, que, devido à perseguição, estava refugiado nas catacumbas. O jovem esposo foi acompanhado de seu irmão Tibúrcio, ficou sabendo que antes era preciso acreditar na Palavra. Os dois ouviram a longa pregação e, no final, converteram-se e foram batizados. Valeriano cumpriu a promessa. Depois, um dia, ao chegar em casa, viu Cecília rezando e, ao seu lado, o anjo da guarda. 

Entretanto a denúncia de que Cecília era cristã e da conversão do marido e do cunhado chegou às autoridades romanas. Os três foram presos, ela em sua casa, os dois, quando ajudavam a sepultar os corpos dos mártires nas catacumbas. Julgados, recusaram-se a renegar a fé e foram decapitados. Primeiro, Valeriano e Turíbio, por último, Cecília. 

O prefeito de Roma falou com ela em consideração às famílias ilustres a que pertenciam, e exigiu que abandonassem a religião, sob pena de morte. Como Cecília se negou, foi colocada no próprio balneário do seu palacete, para morrer asfixiada pelos vapores. Mas saiu ilesa. Então foi tentada a decapitação. O carrasco a golpeou três vezes e, mesmo assim, sua cabeça permaneceu ligada ao corpo. Mortalmente ferida, ficou no chão três dias, durante os quais animou os cristãos que foram vê-la a não renegarem a fé. Os soldados pagãos que presenciaram tudo se converteram. 

O seu corpo foi enterrado nas catacumbas romanas. Mais tarde, devido às sucessivas invasões ocorridas em Roma, as relíquias de vários mártires sepultadas lá foram trasladadas para inúmeras igrejas. As suas, entretanto, permaneceram perdidas naquelas ruínas por muitos séculos. Mas no terreno do seu antigo palácio foi construída a igreja de Santa Cecília, onde era celebrada a sua memória no dia 22 de novembro já no século VI. 

Entre os anos 817 e 824, o papa Pascoal I teve uma visão de santa Cecília e o seu caixão foi encontrado e aberto. E constatou-se, então, que seu corpo permanecera intacto. Depois, foi fechado e colocado numa urna de mármore sob o altar daquela igreja dedicada a ela. Outros séculos se passaram. Em 1559, o cardeal Sfondrati ordenou nova abertura do esquife e viu-se que o corpo permanecia da mesma forma. 

A devoção à sua santidade avançou pelos séculos sempre acompanhada de incontáveis milagres. Santa Cecília é uma das mais veneradas pelos fiéis cristãos, do Ocidente e do Oriente, na sua tradicional festa do dia 22 de novembro. O seu nome vem citado no cânon da missa e desde o século XV é celebrada como padroeira da música e do canto sacro.


http://www.paulinas.org.br/diafeliz

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Igreja dedica dia de oração a religiosos de clausura


Rádio Vaticano


A Igreja celebra nesta quarta-feira, 21, a Jornada Pró-Orantibus, dedicada às Monjas e Monges de clausura. A vida consagrada contemplativa é uma vocação pouco conhecida e pouco compreendida, um desconhecimento existe até entre os fiéis católicos.
O objetivo da celebração deste Dia é rezar pelos religiosos e religiosas de vida contemplativa como expressão de reconhecimento, estima e gratidão pelo que representam e em agradecimento pelo rico patrimônio espiritual que seus institutos, congregações e ordens são dentro da Igreja. Outras finalidades são promover o conhecimento da vocação contemplativa; e favorecer iniciativas pastorais para valorizar a dimensão contemplativa da vida através da leitura orante da Palavra e a ativa participação litúrgica.

Assista
.: Religiosas que vivem em clausura mostram como é seu dia a dia

A Abadessa do Mosteiro de Santa Maria, beneditina Madre Escolástica, explica à Radio Vaticana o significado desta vocação.

Madre Escolástica - No fundo, a vocação monástica é a vocação de todo ser humano, que é a vocação de buscar a Deus, tendo como característica principal o ofício divino, que é o louvor de Deus, o canto gregoriano, no nosso caso. A clausura é constitucional: nós vivemos dentro do mosteiro, mas saímos para as necessidades básicas. São Bento diz Ora Et Labora. Nos saímos para comprar o que necessitamos, para ir ao médico ou ao dentista, e vivemos, sim uma vida de clausura. É necessária uma vida monástica, não existe vida de oração sem o mínimo de recolhimento. Nos levantamos às 4h30 da manhã e durante todo o dia temos 7 ofícios divinos quando cantamos. Nossa oração é o canto dos salmo, a leitura da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja.

Rádio Vaticano - Vivendo em clausura, as monjas podem receber visitas?

Madre Escolástica - Recebemos, sim. Não só a família. A nossa clausura não significa uma separação do mundo, mas ao contrário: temos uma comunhão com as pessoas que estão no mundo; rezamos pelo mundo. Às vezes damos orientação espiritual, as pessoas vêm se aconselhar conosco. Não há ruptura, mas o afastamento, para talvez uma melhor comunhão. Não é que o mundo está de um lado e as monjas do outro, não é isso.

Rádio Vaticano - As monjas beneditinas realizam algum tipo de obra social?

Madre Escolástica - Não. Temos catequeses. As crianças vêm ao mosteiro para a catequese da Primeira Eucaristia. Temos o grupo dos Oblatos, leigos que vivem a espiritualidade de São Bento no mundo. Uma vez por mês, eles vêm ao mosteiro e têm a formação de nossa espiritualidade. Não somos irmãs apostólicas, não temos obras de inserção em periferias e hospitais. O nosso ofício é a oração. Nossa contribuição na Igreja é a nossa oração e a nossa orientação espiritual a quem nos procura aqui, mas não temos saídas para trabalhar inseridas no meio social.
Rádio Vaticano Como as monjas estão vivendo a Jornada Pró Orantibus?

Madre Escolástica - Nós mesmas vamos acolher aqui em nosso Mosteiro mais de 50 jovens que vão dormir aqui. Lógico, neste Ano da Fé, temos consciência de que nossa fé é viva, age. Nós acompanhamos através de nossa oração e também contribuímos como podemos, ou seja, acolhendo estas jovens que se hospedarão aqui conosco.

http://noticias.cancaonova.com

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os jovens e os meios de comunicação social

Nos dias atuais, é impossível não perceber a importância e a centralidade que os meios de comunicação social conquistaram em nossa sociedade, sobretudo quando associados à globalização. No próximo ano, o tema do Dia Mundial das Comunicações será “Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização”. A Igreja tem acompanhado, com uma boa proximidade, o desenvolvimento da mídia em nosso tempo e com belos e importantes documentos. Agradecemos a Deus pelo decreto “Inter Mirifica” do Concílio Vaticano II, que no próximo ano completará 50 anos de sua promulgação. Sabemos que depois desse documento conciliar bastante sucinto, desencadeou-se um belo e importante trabalho da Igreja com relação aos Meios de Comunicação Social. 

Para a Igreja, que neste Ano da Fé esforça-se no objetivo de enfatizar a importância da Fé como dom sobrenatural, por meio do qual nos comunicamos de maneira interpessoal com Deus, é imprescindível uma justa reflexão acerca de dois pontos fundamentais por meio dos quais a vivência da Fé é destacada em nossa sociedade: a juventude e os meios de comunicação. Daí vem o tema escolhido pelo Papa, que vê nas redes sociais oportunidade de ser portal da fé, da verdade e espaço de evangelização.

A juventude possui uma devida centralidade pelo fato de nela se concentrarem as esperanças da Igreja em um mundo melhor, onde os valores cristãos sejam fundamental e espontaneamente vivenciados e haja uma cultura sempre baseada na revelação do amor de Deus, que enviou o Seu Filho Jesus Cristo para salvar a humanidade. Os nossos jovens, por isso, são o retrato da nossa sociedade, que se constrói para o amanhã novo, e essa certeza faz com que confiemos a eles a missão de serem discípulos e missionários da nova evangelização que queremos realizar. Por esta razão, dar ênfase ao futuro da Fé Cristã como algo que se concretiza na figura da juventude faz parte justamente do que objetiva o Santo Padre Bento XVI, quando proclama a vivência de um ano todo dedicado à vivência testemunhante da Fé.

Os meios de comunicação social, por sua vez, uma vez conectando milhões de pessoas nos quatros cantos da face da terra, são capazes de promover e levar a cabo a mensagem cristã de maneira a alcançar um sempre crescente número de pessoas a quem tal mensagem toque, sensibilize e permita a Cristo chegar ao interior dos seus corações. Por isso, o interesse da Igreja pelos meios de comunicação social sempre possuiu um particular relevo, seja quando ilumina com as orientações éticas, seja quando os utiliza para anunciar a vida em Cristo. Por meio dessas maravilhosas invenções técnicas pôde contribuir para a comunicação global e para que diversas necessidades humanas fossem sanadas, e pôde, sobretudo, contribuir para a necessidade do homem de ir ao encontro com Deus.

Desta forma, como pastores da Igreja, temos diante de nossos olhos a necessidade de aproximar a juventude cristã e os meios de comunicação social e fazer deles instrumentos os mais eficazes possíveis na missão de alavancar a propagação da Fé na perspectiva de uma autêntica e nova evangelização, como bem recorda o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações.

Porém, o grande segredo para que os meios sejam bem utilizados e sirvam para anunciar a vida, a verdade e a fé supõe que a pessoa que os utilizam seja alguém bem formado e orientado como cristão, com suas convicções claras.

Certamente, os novos e sofisticados meios de comunicação social que temos hoje são de pleno domínio da nossa juventude. A geração “z”, dizem, já nasce com o dedo no teclado. A Internet revolucionou a comunicação e contribuiu largamente para estreitar as fronteiras entre nações e continentes e instaurou a consciência de globalização. Ela, com seus sites de relacionamento social, é capaz de transmitir mensagens, pensamentos, ideias, imagens e tipos de conteúdos os mais variados possíveis e sobre diversos assuntos e com isso fazê-los chegar a um número incomensurável de pessoas. Que o digam também os modernos recursos de comunicação presentes nos smartphones, em que é possível sempre armazenar tanto conteúdos audiovisuais quanto escritos de fácil acesso e divulgação, por meio dos quais seria muito importante levar adiante a mensagem do Evangelho. Antigamente as pessoas iam ao computador para utilizar a internet. Hoje, a pessoa leva consigo o computador e toda uma convergência de mídias em suas mãos.

Diante dessa constatação, cabe à nossa juventude, sempre tão conectada e imersa na interatividade que a internet lhe proporciona, levar ainda mais a mensagem cristã ao mundo e com isso “conectar” o mundo a Cristo. É muito interessante ver como as “redes sociais” levam ideias e mensagem cristãs. É claro que o meio eletrônico não substitui o presencial, pois necessitamos de uma vida em comunidade. Mas, ao “compartilhar” Cristo com todos aqueles a quem podemos atingir por meio de nossos “cliques” deve levá-los a uma participação presencial em nossas comunidades e ao entusiasmo pelo Cristo como Salvador. Que a juventude de hoje, que é digitalmente nativa, tenha a alegria da fé e a anuncie à sua maneira para os seus coetâneos.  

Constata-se hoje, também, que a Internet está contribuindo para promover transformações revolucionárias no comércio, na educação, na política, no jornalismo, nas relações transacionais e interculturais, e que essas mudanças manifestam não só uma transformação no modo de os indivíduos se comunicarem entre si, mas na forma de as pessoas compreenderem a sua própria vida. Formou-se uma nova cultura! 

É importante, destacarmos, ainda, que os meios de comunicação social mais antigos, como o jornal, a revista, a rádio e a televisão, de modo algum se tornaram obsoletos, pois estão presentes nessa convergência de mídias que hoje existem e, por isso, permanecem exercendo papel importantíssimo na informação e formação cultural de nossa sociedade. Nessa perspectiva, à juventude, com suas inovações e dinamicidade, fica o desafio que a nova evangelização objetiva, ou seja, promover o uso de tais meios como forma autêntica de propagação da Fé, enfatizando sempre seu caráter vivificante e transformador, ao passo que sempre sublinhando seu fundamento: o encontro pessoal com o Senhor.

''Ide e fazei Discípulos entre os Povos'' (Mt 28,19), eis o lema da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 que estamos preparando para celebrar dentro do contexto deste “Ano de Fé” que ora vivenciamos. Reunir milhões de jovens das várias partes do mundo é vivenciar em grandes proporções aquilo que já é vivenciado no dia-a-dia da Igreja: o encontro pessoal com Jesus Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Jo 14,6). 

Precisamente "aqui está o desafio fundamental que afrontamos: encontrar meios para promover e formar discípulos e missionários que respondam à vocação recebida e a comuniquem por toda parte, transbordando de gratidão e alegria o dom do encontro com Jesus Cristo". 

Ora, faz parte da vivência da Fé Cristã o testemunho do que ela representa e do que é, pois o Cristianismo, como já nos enfatizara o Santo Padre, não nasce de uma bela idéia ou de um programa ético simplesmente, mas de um acontecimento, ou seja, de um encontro com uma pessoa: Jesus de Nazaré. A Fé Cristã, portanto, baseia-se no “encontro pessoal” com Aquele em Quem está a felicidade plena, e a resposta para as nossas mais profundas interrogações e buscas acerca do sentido último da vida. É preciso, portanto, que O demos cada vez a mais conhecer a todos, para que, por meio desse encontro pessoal com Ele, encontrem também a verdadeira felicidade. É nossa missão fazê-lo.

Por isso, para corresponder à vivacidade e à beleza que este encontro pessoal com Cristo realiza na vida de todo aquele que crê e que por isso leva-o a confessar Cristo e não se envergonhar d’Ele, conclamo os jovens para que façam das redes sociais, dos meios de comunicação social verdadeiros instrumentos de testemunho da Fé Cristã, a fim de que em tudo seja Deus glorificado por Jesus Cristo, e para que correspondamos ao mandato do Senhor de ir ao mundo e pregar o Evangelho a todo criatura. 

Que a JMJ faça de cada jovem o evangelizador do novo milênio que a Igreja tanto necessita: sinta em seu interior o ardor missionário que impulsionou os primeiros cristãos a proclamarem sem temor e em toda parte a Boa Nova de Cristo e, agindo como eles, realize a obra da nova evangelização à qual a Igreja propõe no mundo atual.


Por: DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, O. Cist.
ARCEBISPO METROPOLITANO DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO, RJ
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

18 de Novembro de 2012 – 33º Domingo do Tempo Comum


Evangelho de Marcos 13, 24-32
“O céu e terra passarão, mas as minhas palavras não passarão!”
Mas naqueles dias, depois dessa aflição, o sol escurecerá e a lua não dará sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes do céu serão abalados. Então verão o Filho do homem vir sobre as nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos e reunirá os eleitos dos quatro ventos, desde o extremo da terra até o extremo do céu. Aprendei a parábola da figueira: Quando os ramos estão tenros e as folhas brotam, sabeis que o verão está próximo. Assim também quando virdes acontecer estas coisas, ficai sabendo que o Filho do homem está próximo, às portas. Eu vos asseguro: Não passará esta geração antes que tudo isso aconteça. Passará o céu e a terra, minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai.
COMENTÁRIO
Mais uma vez nos encontramos neste domingo, dia do Senhor. O evangelho de hoje é preocupante. Na verdade, todas as passagens bíblicas deveriam ser preocupantes e alentadoras. A Palavra de Deus é um alerta permanente. 
É preciso estar atento para não ser pego de surpresa no dia em que o Filho do Homem vier para reunir seus filhos eleitos. Todos nós somos eleitos. Nosso lugar está reservado ao lado do Pai, na Glória Celeste. Jesus nos diz que somos filhos criados na liberdade e para a liberdade.
Quem ouve os conselhos e põe em prática as Palavras de Jesus, tem plena garantia de viver a verdadeira liberdade. Em cada linha, em cada ponto e em cada vírgula do evangelho, está presente a mensagem de amor de um Pai muito preocupado com o destino dos seus filhos. 
Jesus descreve de forma figurada o fim do mundo. Com seus exemplos Ele quer mostrar a grandeza e o poder de Deus em mudar ou transformar todas as coisas. O Construtor do Universo, o único capaz de equilibrar as forças, pode também, de um minuto para o outro, mudar tudo. 
As palavras de Jesus deixam bem claro que o homem, apesar de seus progressos e invenções, por mais avançados que pareçam, é um ser pequeno e fraco diante das maravilhas criadas por Deus. Só Deus tem poderes ilimitados para construir, equilibrar ou desequilibrar a natureza.
Apesar de falar em parábolas, poucas vezes Jesus falou de forma tão clara como neste evangelho. Ele previne que um dia estará, frente a frente, com todos os homens bons e maus. "Estejam preparados" - disse - "Vocês irão me ver vindo das nuvens, revestido de grande poder, majestade e glória".
Jesus nos fala da figueira que aos poucos vai brotando. Com esse exemplo Ele quer nos mostrar o poder da paciência e da perseverança. Tudo tem seu dia e sua hora. A figueira com suas folhinhas tenras e sensíveis pode representar toda nossa vida, nossa fragilidade, nosso lento crescimento, cada passo da nossa caminhada, nossas lutas, tropeços e vitórias.
Só vence e sobrevive quem se sobrepõe aos obstáculos. O sol escaldante e o vento frio do dia-a-dia tentam de todas as formas matar os brotos das virtudes e das boas ações. São brotos frágeis, ainda sem coloração que, se não forem bem cuidados e alimentados pela oração, podem morrer. Dependem de proteção constante contra a ação predadora dos inimigos do bem. 
Essa proteção chama-se persistência e sua sobrevivência depende das nossas ações e orações. É preciso estar preparado para não ser pego de surpresa. Quem quiser estar entre os bons tem que desabrochar para o amor e viver a virtude da paciência. O coração alegre e bondoso é fruto da perseverança e da fé.
"O céu e a terra passarão, mas as minhas Palavras não passarão". Apesar de pesadas, exigentes e nem sempre fáceis de entender, estas são Palavras de Salvação. E como já dissemos, são preocupantes e alentadoras. Quanto ao julgamento, nem mesmo o Filho sabe o dia ou a hora, só o Pai. 
A melhor garantia é fazer de conta que esse dia será amanhã. Porque arriscar? Só pode ter certeza que nunca será pego de surpresa o eleito que viver o evangelho, hoje! Para o eleito do Pai pouco importa o dia, onde ou como. Seu coração e sua alma estão preparados para superar a grande tribulação. Seus olhos vão brilhar e irradiar alegria ao verem o Filho do Homem.
http://www.miliciadaimaculada.org.br

A LITURGIA - SACROSSANCTUM CONCILIUM (2)


1.  Um sinal de renovação da Igreja. As novidades colocadas pelo primeiro documento do Concílio Vaticano II (1962-1965), a Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, sobre a Liturgia (04/12/1963), apontavam para uma profunda reforma da liturgia e sinalizavam o caminho que o Concílio percorreria em seus próximos estudos, diálogos e textos, e que a renovação da Igreja viveria dali em diante.

2. A importância renovadora da Sacrossanctum Concilium.  Na verdade, é a liturgia, que mais atinge, de modo direto e abrangente, a vida dos católicos. Reformular e renovar o culto a Deus e aos santos, a compreensão e celebração dos sacramentos e a vida de oração, mexem direto com a vida de todos na Igreja. Através de um retorno histórico-teológico às fontes dos ritos litúrgicos e de simplificá-los, o Concílio quis que os católicos todos tivessem a melhor compreensão possível da liturgia e nela tivessem participação ativa. Pode-se dizer que, face ao estilo de celebrações litúrgicas em uso desde o Concílio de Trento (1545-1563), rígido, formal, em latim e distanciado do povo, a reforma e renovação da liturgia causaram um impacto impressionante.

3. Ensino doutrinal de máxima importância. Mais que um documento de reforma programática da Liturgia, o objetivo era, em primeiro lugar, fazer um redimensionamento doutrinal e pastoral da Liturgia. O óbvio, por tantos séculos sem destaque, ocupou o primeiro lugar: no centro da liturgia está o mistério pascal (n. 5-13). Óbvio porque a missão essencial da Igreja é anunciar a salvação, trazida por Jesus Cristo a todos os homens e mulheres. Operada pela morte e a ressurreição do Cristo, essa salvação se torna atual e inserida na vida de cada ser humano e da Igreja ao longo da história pelos ritos litúrgicos, especialmente dos sacramentos e da celebração da Palavra de Deus. O Concílio definiu que a liturgia é a “fonte” e o “cume” da vida da Igreja (n. 10). E explicita algo inédito na época: na liturgia, Cristo se torna presente na liturgia de muitas maneiras: não apenas nos sacramentos, em particular sob as espécies eucarísticas, e no seu celebrante – in persona Christi –, mas também na Palavra de Deus, lida, recebida e assimilada na fé, assim como na assembleia dos fiéis que ora em seu nome (n. 7). Era uma revolução na Igreja Católica.

4. A participação dos fiéis. Da Sacrossanctum Concilium em diante os documentos do Concílio martelam de que é essencial a participação dos fiéis em tudo na vida da Igreja, até ali excessivamente clerical (n. 48). Já se anunciava, portanto, a eclesiologia de comunhão da Constituição sobre a Igreja (a Lumen Gentium). Em virtude do sacerdócio dos batizados, todos participam plenamente da ação comum que é de Cristo e da Igreja (n. 28). E, para isso, é introduzido o uso da língua da cada povo e se pede a renovação da homilia, da música sacra, do canto, dos ritos  e autoriza-se a concelebração (n. 57).

nery.israel@lasalle.org.br
http://catequeseebiblia.blogspot.com.br/

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A LITURGIA - SACROSSANCTUM CONCILIUM (1)


1. Esquema da Sacrossanctum Concilium. A Constituição Conciliar Sacrossanctum Concilium foi promulgado no dia 04 de dezembro de 1963. Seu título oficial é “Sobre a Sagrada Liturgia”. O Proêmio ou Introdução expõe a finalidade do Concílio e da reforma litúrgica. Títulos dos Capítulos: 1) “Princípios gerais para a reforma e incremento da liturgia”; 2) “O Sagrado Mistério da Eucaristia”; 3) “Os outros Sacramentos e os Sacramentais”; 4) “Do Ofício Divino”; 5) “O Ano Litúrgico”; 6) “A Música Sacra”; 7) “Da Arte Sacra” e “Das Alfaias Litúrgicas”. No “Apêndice” está uma “Declaração do Concílio Vaticano II sobre a Reforma do Calendário” da Igreja..

2.  O que é Liturgia. Curiosamente o termo significa, em suas origens “prestação de um serviço público”. São duas palavras gregas unidas: Leitòs (público; povo = Laòs) e érguéin (fazer, realizar, agir; érgon = trabalho, serviço, obra), dando origem à leitourgia (leit-o-erg-ia). No mundo grego, sobretudo em Alexandria, liturgia era qualquer prestação pública de serviço. A partir do século II A.C., a palavra liturgia, entra no mundo religioso pagão para significar o serviço do culto, prestado publicamente por pessoas determinadas, para o povo pedir, agradecer aos deuses e obter deles bons serviços. 

Com facilidade o cristianismo, sobretudo a Igreja de Roma, adotou o termo e deu-lhe significados cristãos específicos, apoiando-se no culto hebraico e adaptando-o à cultura grega e latina. Por ser um dos atos de maior visibilidade, muito representativo da fé cristã e que atinge mais diretamente os fiéis, a Igreja a solenizou e a colocou como um forte chamativo para os não cristãos (cf. SC 2).

3. Reforma, renovação e inculturação da Liturgia. A Constitutição Dogmática Sacrossanctum Concilium, nº 21 diz que “a liturgia consta de uma parte imutável, divinamente instituída, e de partes susceptíveis de mudança” (SC 21). O Concílio, portanto, quis deixar claro de que o que na Liturgia é imutável, como divinamente instituído, deve permanecer para manter a unidade substancial do rito romano. Mas ele quis também possibilitar e estimular a adaptação, melhor ainda, a enculturação, daquilo que é passível de modificação, por ser de índole cultural, estético, organizativo. Assim procedendo há fidelidade às exigências da inculturação litúrgica, previstas pela reforma litúrgica do Vaticano II e resumidas nos artigos 37 a 40 da SC

4. Formação litúrgica. Além de dar os fundamentos litúrgicos e pastorais da reforma da Liturgia, a SC, trata também da educação litúrgica (formação dos professores de liturgia, dos seminaristas, dos presbíteros e dos fiéis) e da participação ativa de todos. Mas ainda é gritante a falta de formação litúrgica em nossa Igreja, sobretudo, de muitos presbíteros, frios, sem comunicação, ritualistas, meros leitores (às vezes maus leitores dos textos litúrgicos), rotineiros, amarrados á burocracia litúrgica. Do pouco que a Igreja oferece aos fiéis - com periodicidade, ao menos segundo o Calendário Litúrgico -, a Liturgia Dominical e de alguns sacramentos, merece uma radical reviravolta para se chegar a um mínimo do que a SC propôs há 50 anos atrás e que deveríamos, em fidelidade ao Concílio, às exigência do Espírito Santo e às necessidades dos fiéis, termos avançado mais, muito mais.  

nery.israel@lasalle.org.br
http://catequeseebiblia.blogspot.com.br/

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Priorizar, sem desprezar!

Não me considero retrógrada, entendo perfeitamente a preferência da Igreja que nos últimos anos nos instiga à Iniciação Cristã, priorizando os adultos e sei também o porquê  do pedido (devemos cuidar para não fazermos a leitura ao pé da letra e não priorizar um, desprezando o outro). Não sou alienada, faço parte dessa sociedade de adultos batizados, não iniciados, católicos nada comprometidos. A missão da Igreja é evangelizar, fazer discípulos missionários... E quando dizemos "Igreja", nos referimos a todos: Bispos, padres, ministros, catequistas, todas as pastorais (todas!!!) e movimentos. Temos  grandes progressos, iniciativas lindas em se tratando da Iniciação à Vida Cristã.

Porém, em muitos lugares, ainda se tem a idéia de que cabe aos catequistas a missão de evangelizar e  se existem "católicos" inconstantes, incrédulos, nada comprometidos, isso se deve unicamente a "essa" catequese falha. Que tal, nos unirmos e mostrarmos que de fato ‘somos um’ em Cristo e que todos devemos assumir nosso compromisso de batizados.  Não seria essa a pastoral de conjunto que muitos documentos pedem?  Iniciação Cristã é papel de toda Igreja. Infelizmente ainda fazemos parte de uma Igreja, onde  cada pastoral está no seu quadrado.

Incomoda-me  quando ouço  de palestrantes, lideranças,  formadores, um certo desprezo com relação à catequese com crianças, adolescentes. Precisamos sim, ter consciência que a Iniciação à Vida Cristã, acontece num processo de catequese continuada, rumo ao amadurecimento na fé, que em muitos casos, inicia-se na idade infantil. A questão é iniciar  na fé, todos os que nos são confiados.  Se iniciamos os pequeninos,  deixemos de lado a catequese infantilizada, sacramentalista,  os formemos de maneira adulta, na certeza de que essa remessa serão os adultos cristãos de amanhã. Se tivermos essa preocupação, alguém lá na frente não vai precisar "retocar" nosso trabalho, se ocupando em evangelizar os adultos que outrora foram nossos catequizandos. Depois, quem trabalha com crianças, adolescentes, jovens, tem em suas mãos uma grande oportunidade de evangelizar e tocar os corações da família. Pois, não seria na catequese com crianças, o lugar onde se concentra o maior número de adultos? Quantos desses foram de fato iniciados na fé? O que não se concebe é não ter um trabalho de evangelização paralelo com essas famílias no período da catequese.

Por outro lado, devemos sim, correr atrás do prejuízo, evangelizando os  demais adultos de nossa comunidade, através de uma eficaz catequese de Iniciação com adultos. A propósito, em sua paróquia existe um trabalho organizado para acolher os adultos que querem se tornar cristãos? E melhor, existe um trabalho missionário, que vá em busca desses adultos? Se não! Está na hora de elaborar um plano de ação.
  
Termino essa minha fala com as palavras de Pe Boris: "Acredito muito na força dos catequistas, ministros da Palavra, não porque sejamos fortes, mas porque servimos aquele que é a força da vida, que é o nosso Deus que se manifesta, se revela não só nas Escrituras, mas de diversas formas, e nós somos servidores da Palavra, portanto, portamos um tesouro valioso dentro de nós e que habita no nosso meio." (Pe Boris Agustin Nef Ulloa- 1º Simpósio Animação Biblica da Pastoral - regional sul 1- CNBB)

E é esse tesouro valioso que precisamos fazer conhecido e amado por todos, não se detendo nessa ou naquela faixa etária. Sabe qual foi a fonte de inspiração para esse meu texto? Foi quando na noite de ontem, uma catequista,  partilhava comigo  sobre como teria sido seu encontro com os pais de sua turma, uma turma de pré catequese, crianças de 07, 08 anos. Uma mãe, emocionada dá seu testemunho, ela dizia que sua filhinha de 07 anos tinha duas coisas que sonhava, uma delas, era que a mãe participasse da missa com ela, pois até então, ia à missa com a avó. Essa mãe, resolve atender ao pedido da filha. Agora, se essa mãe não tivesse sido tocada por Deus, através da filha, ela teria dado esse testemunho? Por isso, insisto, essa etapa é a oportunidade de evangelizar um monte de adultos. Cabe ao catequista, perceber o momento de agir e não ficado acomodado esperando a hora da graça passar.

Sendo assim, trabalhemos com afinco, com crianças, adolescentes, jovens e adultos, tendo um carinho todo especial pelos adultos afastados(sem radicalismo), pois os adultos, cujos filhos estão na catequese, estão bem perto de nós e essa é a hora de evangelizá-los.

Com carinho!
Imaculada Cintra, catequista apaixonada pelos pequenos, mas, consciente de que sou catequista de “IVC”, com a missão de formar os futuros adultos cristãos e evangelizar hoje os adultos afastados, batizados não evangelizados...

http://catequeseebiblia.blogspot.com.br/

domingo, 11 de novembro de 2012

A maturidade


A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos


A maturidade faz parte de um processo. Em um processo não podemos queimar etapas. Ele é lento, chato e demorado. Uma criança passa por um momento de amadurecimento a partir do momento em que começa a brincar. A maturidade acontece quando tomamos posse do que nós somos, para que então possamos nos dividir com os outros. Isso faz parte do processo de maturidade. Não nascemos amando, pelo contrário, queremos ter a posse dos outros. Essa é a forma de amar da criança, pois ela não consegue pensar de maneira diferente. Ela não consegue entender que o outro não é ela. Quantas pessoas já adultas pensam assim, trata-se da incapacidade de amar, da falta de maturidade. Todos os encontros de Jesus levam à implantação do Reino de Deus. Mas só pode implantá-lo quem é adulto, quem já entende que só se começa a amar a partir do momento em que não queremos mudar a quem amamos.

Geralmente quando tememos alguém ruim ao nosso lado é porque nos reconhecemos nessa pessoa. Jesus não tinha o que temer porque era puramente bom, por isso contagiava os que estavam ao Seu lado e não temia ninguém. Na maturidade de Jesus você encontra a capacidade imensa de amar o outro como ele é. Amar significa: amar o outro como ele é. Por isso quando falamos em amar os outros, podemos perceber o quanto deixamos de ser crianças. Devemos nos questionar a todo o momento com relação à nossa maturidade. A santidade começa na autenticidade. Por essa razão Jesus nos pede que sejamos como as crianças, que são verdadeiras e simples. É nisso que devemos manter da nossa infância e não na forma de querer possuir tudo.

Você tem condições de perceber a sua maturidade. É só observar se você é obediente mesmo quando não há pessoas ao seu redor. Você não precisa que ninguém o observe, pois você já viu aquilo como um valor. Pessoas imaturas sofrem dobrado, porque querem modificar os fatos; ao passo que pessoas maduras deixam que os fatos as modifiquem. A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos. Um imaturo ganha um limão e o chupa fazendo careta. O maduro faz uma limonada com o limão que ganhou.

Muitas vezes, os nossos relacionamentos de amizade são um fracasso porque somos imaturos. Amigos não são o que imaginamos, mas o que eles são e com todos os defeitos. Amizade é processo de maturidade que nos leva ao verdadeiro encontro com as pessoas que estão ao nosso lado. Elas têm todos os defeitos, mas fazem parte da nossa vida e não as trocamos por nada deste mundo. Isso porque temos alma de cristão e aquele que tem alma de cristão não tem medo dos defeitos dos outros, porque sabe que aqueles defeitos não serão espelhos para nós, mas seremos um instrumento de Deus para que eles os superem.

Padre só pode ser padre a partir do momento em que é apaixonado pelos calvários da humanidade. Se você não consegue lidar com os limites dos outros é porque você não consegue lidar com os seus limites. A rejeição é um processo de se ver. Toda vez que eu quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer dele uma representação daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança. O anonimato é um perigo para nós. É sempre bom que estejamos com pessoas que saibam quem somos e que decisões nós tomamos na vida. É sempre bom estarmos em um lugar que nos proteja. Amar alguém é viver o exercício constante de não querer fazer do outro o que nós gostaríamos que ele fosse. A experiência de amar e ser amado é, acima de tudo, a experiência do respeito.

Como está a nossa capacidade de amar? Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor. Amar por necessidade é querer sempre que o outro seja o que você quer. Amar por valor é amar o outro como ele é, quando ele não tem mais nada a oferecer, quando ele é um inútil e por isso você o ama tanto. Na hora que forem embora as suas utilidades, você vai saber o quanto é amado. Tudo vai ser perdido, só espero que você não se perca. Enquanto você não se perder de si mesmo você será amado, pois o que você é significa muito mais do que você faz. O convite da vida cristã é este: que você possa ser mais do que você faz!
Foto
Padre Fábio de Melo

Padre Fá¡bio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção Espiritual" na TV Canção Nova.

sábado, 10 de novembro de 2012

11 de Novembro de 2012 – 32º Domingo do Tempo Comum


Evangelho de Marcos 12, 38-44
“Ela não deu esmola, deu tudo o que tinha para viver!”
Jesus ensinava, dizendo: “Tomai cuidado com os escribas. Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser saudados nas praças públicas, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Eles terão sentença mais severa”. Jesus estava sentado diante do cofre de esmolas e observava como o povo depositava as moedas. Muitos ricos depositavam muitas moedas. Veio, então, uma pobre viúva e pôs no cofre apenas duas moedinhas no valor de alguns centavos. Jesus chamou os discípulos e lhes disse: “Eu vos asseguro: esta pobre viúva deu mais do que todos os que depositaram no cofre. Pois todos eles deram do que lhes sobrava; ela, porém, na sua indigência, deu tudo que tinha, todo o seu sustento”.
COMENTÁRIO
Mais uma vez nos encontramos para meditarmos a Palavra de vida e salvação de Deus. Hoje nos encontramos com Jesus denunciando a hipocrisia dos fariseus e elogiando o gesto generoso de uma viúva pobre. 
As aparências enganam, diz Jesus. Não se deixem iludir por aquilo que seus olhos vêm. Esses doutores da lei que deveriam dar o exemplo, justamente eles que deveriam ter uma conduta exemplar, são na verdade enganadores e exploradores. Fazem uso dos altos cargos que ocupam em benefício próprio.
Aqueles que deveriam ser guias e protetores do povo eram sim exploradores. Exploravam as viúvas e roubavam suas casas. Eram lobos disfarçados de cordeiros. A aparente mansidão servia para encobrir a falsidade. 
A Palavra de Deus é sempre atual, nunca envelhece. Há dois mil anos Jesus denunciava os abusos cometidos pelos donos do poder e, no entanto, parece que foi ontem que tudo isso aconteceu. De lá para cá, quase nada mudou, continua igual a forma de agir e de pensar das pessoas.
Jesus chama nossa atenção para o comportamento hipócrita de certos líderes religiosos que fazem da religião o seu meio de vida. Em nome de Deus, constroem impérios à custa do suor dos seus fiéis seguidores, as "viúvas" da atualidade. 
Disfarçam-se de cordeiros, conhecem profundamente a lei, são capazes de interpretá-la ao pé da letra, sabem de cor os capítulos e os versículos, falam muito bonito, mas não vivem o que dizem. 
Esse evangelho é muito mais amplo e atual do que parece. Os doutores da lei e os escribas mencionados, não são somente dirigentes religiosos. Suas funções são as mais diversas. São também homens públicos, são dirigentes de grandes autarquias e políticos que se autodenominam cristãos, mas se comportam como verdadeiros pagãos.
Não exercem com sinceridade e humildade o cargo de responsabilidade que ocupam e fazem do templo um palanque político. Fazem questão de serem notados. Onde houver um banquete, lá estão eles perfumados, elegantes e muito bem vestidos. Com suas roupas luxuosas e com suas esposas muito bem trajadas, são os primeiros a chegar na igreja, e sempre ocupam os primeiros bancos.
De forma bem aberta e clara, Jesus reprova o comportamento dessas pessoas. Diz que são arrogantes, vaidosas e que se escondem atrás das aparências. São capazes até de ofertarem grandes somas para mostrar generosidade. Na verdade, estas grandes somas são migalhas, são pequenas sobras dos rios de dinheiro que desviam e que recebem injustamente. 
A verdadeira piedade consiste numa total entrega a Deus, colocando-se a seu serviço. O que a pobre viúva fez parece pouco, mas significa muito mais do que as gordas esmolas dos ricos. Sua consciência a fez enxergar como o seu pouco poderia tornar-se muito. Ela não ofertou restos, tirou de si própria e dividiu. 
A boa notícia de hoje chama-se amor, e nos vem através do desapego desta viúva. Ela ensina que, no gesto concreto o cristão vive a caridade e a partilha, porque ser cristão é servir... e servir é amar.
http://www.miliciadaimaculada.org.br

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Família: A Igreja doméstica


- "O Senhor disse: Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele" (Gn 2,18). O Senhor Deus quis dar a Adão uma auxiliar semelhante a ele e o simbolismo de Eva tirada da costela de Adão (cf. Gn 2,22) fala desta igualdade que exclui toda idéia de dominação ou subordinação servil. Ora, ninguém deveria bastar-se numa auto-suficiência narcisista e egocêntrica. O "eu" é essencialmente chamado a construir-se dinamicamente na interação dialógica com um "tu" para construir um "nós". O "eu" foi chamado a ser um dom para o tu e vice-versa. A realidade da pessoa humana como um ser comunitário, social e que partilha, não é outra coisa, no plano de Deus, que um ensaio cuja meta é viver a comunhão trinitária: na diversidade construindo a unidade. As Três divinas e distintas Pessoas, maravilhosamente consumidas na unidade, apresentam-se como esta fonte; um mistério que nos faz pensar que a criação do homem à imagem e semelhança de Deus significa também perceber-se como um alguém essencialmente chamado à comunhão. 

A diversidade é riqueza e a unidade é um referencial obrigatório para um êxodo de amor (sair de si, construir pontes num movimento de busca do outro que se consolida na partilha). A diferença, longe de ser uma ameaça, apresenta-se como uma possibilidade que desafia e enriquece, vitaliza, desinstala e renova. 

Os conflitos podem ser lidos na ótica de possibilidades novas e inusitadas para um crescimento recíproco: pedras que se chocam, se lapidam. Não existe, no plano de Deus, o achatamento empobrecedor da repetição automática: os clones destroem a sacralidade inquestionável de ser pessoa, ou seja, um alguém único e irrepetível. A diferença dos sexos não afeta esta igualdade de dignidade entre homem e mulher; tal diferença estava na mente de Deus em ordem à complementaridade. "A verdade é que toda história humana, se partilhada com outra pessoa como um ato de amor, alarga a mente e aquece o coração desta pessoa". Um é chamado a precisar do outro para se auto-definir, descobrir-se e para ajudar a construir, enriquecer o outro. É um movimento em via de mão dupla. E nesta linha de raciocínio nós entendemos o que Deus pensa da família. 

"Homem e mulher Ele os criou" 

"E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou" (Gn 1,27). Nos planos do Criador, esta realidade de família se construirá positivamente quando o homem e a mulher assumirem consciente e responsavelmente os próprios papéis. 

A mulher é chamada a ser capaz de acolher, acompanhar, perceber e escutar, dotada de delicadeza e fantasia, levada a ser materna, acolhedora do invisível e do essencial, intuitiva e sensível. 

O homem, por sua vez, torna-se capaz de projetar, executar, decidir, defender, proteger paternalmente, de plasmar e criar prevalentemente para a sociedade. A maturidade masculina se manifesta na fantasia produtiva e na força volitiva. E estas duas realidades são chamadas a integrar-se num dinamismo próprio de quem ama, reconhecendo no outro não alguém vago e distante, mas um "tu" próximo, referencial enriquecedor. 

Nesse sentido, a capacidade de relacionamentos sólidos e duradouros não pode se limitar ao conhecimento superficial e à prática de relações tão somente funcionais, mas envolve sobretudo relacionamentos amigáveis, abertos a uma positiva capacidade de intimidade, afinidade, familiaridade e afetuosidade. A sexualidade, enquanto realidade ampla, dialogal, a serviço da comunhão e da vida, é algo que descarta fechamentos egoístas e manipulações desumanizadoras e paganizantes. 

A produtividade leva as pessoas a trabalharem de modo criativo e profícuo, a realizar e organizar algo de novo, a não repetir mecanicamente o que outros já fizeram. Dessa maneira, a diversidade humana e complementar da masculinidade e da feminilidade se dispõem a fazer um uso responsável e coerente dos talentos recebidos, valorizando-os e fazendo-os multiplicar (cf. Mt 25,14-30). 

Paternidade e maternidade 

A paternidade e maternidade não serão realidades asfixiantes ao ponto de serem usurpadores da individualidade de cada filho, pessoa chamada a auto-construir-se com os outros. A realidade familiar da acolhida e da educação dos filhos se abrirá progressivamente a uma descoberta do dom da vida dos filhos, chamados a atingir gradativamente uma autonomia própria. Os pais e educadores serão como jardineiros (oferecerão as condições) e os filhos são tais como as plantas (que crescerão a partir das próprias raízes, tronco, galhos e folhas) e que a seu tempo deverão produzir seus frutos. "Os humanos, como as plantas, crescem no solo da aceitação, não na atmosfera da rejeição".Os pais não substituem os filhos, os quais não são uma continuação em chave de dependência parasitária. O "eu" de cada filho não pode confundir-se com o "tu" do pai e com o "tu" da mãe. A identidade não pode ser distorcida ou confundida na auto-construção. Porém, o processo educativo não descartará, mas se fundamentará na busca de apresentar valores e princípios que ajudem os filhos a serem livres, responsáveis, de modo que eles abram-se ao dom da fé e a ele correspondam com convicções brotadas de uma experiência pessoal com Deus. 

Célula eclesial 

E quando é que compreenderemos a realidade da família como Igreja? O princípio da atração e do amor do homem pela mulher e vice-versa brota de um mistério muito grande. Diz S. João Crisóstomo: "Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa. (...). E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte". Por isso, S. Paulo afirma que este mistério é grande e o matrimônio não se reduz a uma parceria de partilha da companhia do outro enquanto parceiro (a), mas brota do mistério da relação entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5,32). 

A família enquanto célula da sociedade é, por desejo de Deus, chamada a ser uma célula eclesial, uma igreja doméstica, uma igreja de casa, uma casa que se torna uma pequena igreja. É assim que a Igreja será uma grande família: se as famílias forem realmente igrejas; igrejas vivas, atuantes, fermentadas pelo amor traduzido em comunhão, celebrando e cultivando a vida, acolhendo o mistério da Trindade-Comunidade para irradiá-lo no testemunho ao mesmo tempo humilde e corajosamente generoso. 

A sociedade atual, tão marcada pelo individualismo, pelo utilitarismo, pelo materialismo, pelo hedonismo, pela perda do sentido dos valores morais, pelo medo e pela relativização dos compromissos definitivos, pelo neo-paganismo tem deixado seus efeitos nefastos e corrosivos na realidade familiar. Os jovens se encontram diante de uma variedade de propostas de modelos contrastantes. O pluralismo não permite um quadro unitário de valores. Porém, não será impossível à graça divina fazer acontecer este milagre da comunhão e do amor à serviço da vida. 

Jesus crescia sob os olhares atentos e amorosos de José e de Maria "em sabedoria, estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens" (Lc 1,52). E isso na simplicidade impressionante e aparentemente sem valor da realidade monótona e obscura de Nazaré. Também hoje, estes reflexos luminosos e transfiguradores do mistério do Verbo eterno na sua vida oculta precisa acontecer nas crianças e nos jovens. E para assisti-los, o Senhor quer encontrar continuadores nos homens e mulheres de boa vontade, assim como Ele encontrou Maria e José. A igreja doméstica, apesar de tudo e de todos, continuará sendo uma resposta do Deus Trindade para um problema: "não é bom que o homem esteja só" (Gn 2,18). 

Pe. Antônio Marcos Chagas