O Santíssimo Sacramento também é dotado de um intenso caráter cósmico, que envolve as realidades dos mais diversos lugares e está sempre em sintonia com toda a criação. A Eucaristia perpassa todas as realidades, todos os tempos. “Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja da aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo. Une o céu e a terra. Abraça e impregna toda a criação. O Filho de Deus fez-Se homem para, num supremo ato de louvor, devolver toda a criação Àquele que a fez surgir do nada” (Idem, ibidem, 8).
A Eucaristia é em certo aspecto um sacramento ‘didático’. Através de sua celebração, o povo fiel recebe os ensinamentos da Igreja e do Evangelho. É força evangelizadora, porque “nela, o discípulo realiza o mais íntimo encontro com seu Senhor e dela recebe a motivação e a força máximas para a sua missão na Igreja e no mundo” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 67).
O mistério eucarístico é celebrado pela Igreja por meio da Divina Liturgia. Por seus ritos, a obra sacerdotal de Cristo crucificado-ressuscitado é continuamente perpetuada para as gerações cristãs. É por meio da Liturgia que o tesouro eucarístico vem até a Igreja.
Sendo o mistério eucarístico um dom tão grande, tão excelso, não admite descuidos, reduções e instrumentalizações. É justamente pela importância vital da liturgia eucarística que a Igreja sempre buscou salvaguardá-la com todas as forças, buscando sempre que o Santíssimo Sacramento fosse tratado com o devido decoro, o decoro que compete ao Cordeiro, o Rei do Universo. Pois “o Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A Ele glória e poder através dos séculos” (Missal Romano, antífona de entrada da Solenidade de Cristo Rei, ano A).
A Igreja julga que a ela é dirigida a ordem de Jesus, quando ia celebrar a ceia derradeira com seus apóstolos: que preparassem uma sala ampla e mobiliada, como convinha à realização daquele ato. Por isso, ela estabelece como deve ser a preparação e a disposição das pessoas, dos lugares, dos ritos e dos textos para a celebração da Santíssima Eucaristia. Desse modo, ela garante que a nobreza e a dignidade necessárias sejam devotadas à Liturgia, donde emana toda a vida cristã.
A nobreza na Liturgia, porém, não tem um valor meramente estético. Por meio dela, revela-se o esplendor da verdade cristã, a verdade de Cristo. Assim como apareceu transfigurado perante os discípulos, revelando a sua glória celeste, Ele deve ser revelado na celebração eucarística, cercado de toda honra que o gênero humano Lhe pode devotar. O papa Bento XVI explica o valor da beleza na celebração litúrgica: “é necessário que, em tudo quanto tenha a ver com a Eucaristia, haja gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado também pelos paramentos, alfaias, os vasos sagrados, para que, interligados de forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo mistério de Deus, manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção” (Sua Santidade, Bento XVI – Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, 41).
Acusa-se a Igreja, entretanto, de triunfalismo e de certa soberba ao esmerar-se na nobreza da Liturgia. Para alguns, não é possível ver – ou talvez não queiram – a necessidade de se tratar com solenidade a Eucaristia. Pois, com tantas mazelas no mundo, seria realmente necessário dedicar ouro e outras riquezas ao altar do Senhor? O próprio Mestre, entretanto, já havia respondido a essas questões.
Quando Maria unge o Senhor em Betânia, os discípulos se escandalizam. “Para que este desperdício?”, perguntaram eles (Cf. Mt 26, 8). Frente às necessidades dos pobres, aquele gesto parecia um desperdício imperdoável. Jesus, porém, teve uma atitude diferente. “Ele pensa no momento já próximo da sua morte e sepultura, considerando a unção que Lhe foi feita como uma antecipação daquelas honras de que continuará a ser digno o seu corpo mesmo depois da morte, porque indissoluvelmente ligado ao mistério da sua pessoa” (Sua Santidade, João Paulo II – Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 47). São JoseMaría Escrivá, meditando sobre essa mesma passagem, escreve: “Aquela mulher que, em casa de Simão, o leproso, em Betânia, unge com rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de sermos magnânimos no culto de Deus. Todo o luxo, majestade e beleza me parecem pouco. E contra os que atacam a riqueza dos vasos sagrados, paramentos e retábulos, ouve-se o louvor de Jesus: ‘Opus enim bonum operata est in me’ - uma boa obra foi a que ela fez comigo” (São JoseMaría Escrivá, Caminho – 527).
Ademais, a nobreza da Liturgia de forma alguma é um ultraje aos mais necessitados. Pelo contrário, mesmo os mais pobres não exitam em dispor de seus bens para manter o culto divino. Pois o mandamento mesmo diz que é preciso amar – e honrar – a Deus sobre todas as coisas. “A riqueza litúrgica não é a riqueza de uma casta sacerdotal; é riqueza de todos, também dos pobres, que, com efeito, a desejam e não se escandalizam absolutamente com ela. Toda a história da piedade popular mostra que mesmo os mais desprovidos sempre estiveram dispostos instintiva e espontaneamente a privar-se até mesmo do necessário, a fim de honrar, com a beleza, sem nenhuma avareza, ao seu Senhor e Deus”(RATZINGUER, J/ MESSORI, V. – A Fé em Crise? O Cardeal Ratzinguer se interroga. São Paulo, EPU, 1985, pág 97).
Autor: Matheus Roberto Garbazza Andrade
Publicação original: Dezembro de 2008
Extraído de: http://www.sociedadecatolica.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=325
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