Os encontros de nossas comunidades e nossas orações em geral são iniciados com o sinal da cruz, proclamando “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Recordamos o amor do Pai celeste pelas criaturas humanas, o dom da graça que Jesus nos fez tornando-nos seus irmãos, e a comunhão com Deus que é realizada pelo Espírito Santo operada em nós. Pedimos ao Senhor que nos ajude, que seu mistério se renove sempre em nós.
Festejamos aniversários, especialmente de nascimento. Um dia, nascemos para a vida cristã: com o rito do batismo nos tornamos filhos de Deus. Porém quase nunca o festejamos. Nesse dia aconteceu um fato extraordinário, alguém realizou o mandamento que Jesus tinha dado aos apóstolos: “Ide por todo o mundo, ensinai a todas as gentes e batizai-as ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’ ”.
Naquele dia o mistério da Trindade, escondido em Deus desde sempre, deitou raiz profunda em nosso coração, Deus tomou posse de nós de modo especial.
Pertencíamos já a Deus, porque todas as criaturas lhe pertencem, como recorda o apóstolo Paulo: “Nele vivemos, nos movemos e somos”. Mas naquele dia, nascemos para a vida da graça; o Pai, o Filho e o Espírito Santo tomaram posse de nosso coração e nos fizeram fortes na fé.
A Igreja nos propõe hoje meditar o mistério da Trindade. Não uma verdade abstrata, confinada nas nuvens ou nos grossos volumes das bibliotecas, mas profunda, íntima a nós mesmos. Uma realidade que carregamos dentro. Trata-se porém de um mistério, e o que se pode dizer de um mistério? Quem o compreende? Não devemos admirar-nos tanto; nossa vida se desenrola normalmente em meio a tantos mistérios.
É misteriosa até a corrente elétrica. Nem mesmo os cientistas compreenderam até agora o que é a eletricidade; não é surpresa compreender em profundidade o mistério de Deus.
Sobre a Trindade, aprendemos no catecismo: em Deus existem três pessoas em uma só natureza. Não é fácil nem mesmo para os grandes cérebros, acostumar-se com o mistério insondável de Deus.
Existem outras perguntas. Por exemplo: como sabemos que em Deus existem três pessoas? Com que raciocínios abstratos, pesquisas, os teólogos chegaram a essa conclusão. A resposta é simples: sabemos porque Jesus nos disse. Os apóstolos creram em Jesus. Os evangelistas escreveram. A Igreja continua a anunciar. O fato é este: Jesus anunciou aos homens o Pai e seu amor por nós; apresentou a si mesmo como Filho; prometeu e depois enviou aos apóstolos o Espírito Santo que opera sem cessar nas consciências e na Igreja. E Jesus, como no evangelho de Mateus 28, 16-20, mandou os apóstolos ir por todo o mundo a ensinar a boa notícia e a batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo.
Temos estes pontos firmemente. Outra luz se acende se consideramos que Deus é amor. Esta é a insuperável definição de Deus dada pelo apóstolo João. Porque Deus é amor, o mistério trinitário é um mistério de amor. Existe um Pai, existe um Filho. São termos da família humana. João Paulo II em um discurso expôs esta idéia singular: “Deus não é uma solidão, é uma família”.
Usamos linguagem humana que sabemos imperfeita, o que quer dizer: Deus Pai ama o Filho, e por sua vez é amado pelo Filho. Esta dupla corrente de amor, em Deus, se faz concreta, real, torna-se pessoa: o Espírito Santo. O Espírito Santo, dizem os teólogos que refletiram sobre o Evangelho, é o amor recíproco do Pai e do Filho, feito pessoa.
Quando sentimos um impulso para o bem, é ele que nos fala e nos assiste. Quando fazemos alguma coisa de bom é a força de Deus que opera em nós.
A festa de Pentecostes, que vivemos na semana passada, nos ensine a ser mais atentos ao Espírito de Jesus que quer operar os seus prodígios também em nós e por meio de nós. Assim poderemos testemunhar o evangelho hoje e sempre.
Nós rezamos na liturgia: “Ó Pai, com vosso Filho e o Espírito Santo sois um só Deus e um só Senhor. Não uma única pessoa, mas três pessoas num só Deus. Tudo o que revelastes, e nós cremos a respeito de vossa glória, atribuímos igualmente ao Filho e ao Espírito Santo. E proclamando que sois o Deus verdadeiro, adoramos cada uma das pessoas, da mesma natureza e igual majestade”.
Cardeal Geraldo Majella Agnelo
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