segunda-feira, 20 de agosto de 2012

DEVOÇÕES EXPLOSIVAS


É lícito dizer que adoramos uma parte do Cristo? Se for explicada, sim, se não for pode ser devoção explosiva. Muitos fiéis já falam de adorar as mãos, os pés, os dedos, os ombros, as chagas, o sangue, os olhos do Cristo sem explicar o que entendem por isso. Podemos chegar a um impasse na catequese se não explicarmos melhor tais devoções. Será um Cristo aos pedaços ou dicotomizado. Não se adora um pedaço do corpo de Cristo. 

*** 
Aqui vale a reflexão-pergunta de Paulo quando soube das divisões na comunidade, em função de pessoas e nomes. Paulo inquiria: Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? (1Cor 1, 13) Os coríntios não deveriam dividir o Cristo, separando os apóstolos em melhor ou maior. Devoções que salientam ombros, mãos ensangüentadas, mãos ungidas, cabeça coroada de espinhos podem ser excelente meios de catequese, desde que o fiel mais simples entenda que não estamos adorando aquela parte e, sim, o Cristo por inteiro simbolizado naquela dor ou naquele membro. 

Da forma como tenho ouvido e visto parece-me que tem faltado a explicação do catequista, Ora-se, falando com o sangue e a água, com as mãos e com o coração de Jesus, sem falar a Jesus. O ideal seria dizer: 

Ó Cristo que, com tuas mãos ensangüentadas na cruz, apontavas para um amor maior, tende piedade de nós. 

Ó Cristo que, com os teus pés feridos de missionário buscavas o povo para levá-lo à fraternidade e ao Reino de Deus, tende piedade de nós. 

Ó Jesus, cujo coração sagrado bateu por nós e deu o sangue até á última gota por nós, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. 

Ó Cristo que na coroa de espinhos que sangrou tua cabeça mostraste até que ponto se ama a humanidade, tornou nosso pensamento cada dia mais solidário. 

*** 
Uma coisa é orar à pessoa do Cristo, simbolizada por algum órgão, ou pelo seu sangue e outra é falar com o sangue, o coração e as mãos do Cristo, sem explicar isso aos mais simples. Nem todo mundo entende tais expressões. 

Falo como professor de Comunicação Católica; mas ninguém, precisa me ouvir. Nem mesmo quem foi ou é meu aluno. Cumpro o meu dever de alertar. Cada fiel deve saber como quer evangelizar. Mas que precisamos tomar cuidado com o que dizemos, precisamos! Prefiro dizer que adoro o Jesus que morreu na cruz do que a cruz na qual Jesus morreu. Isso não diminui em nada o valor da sua dor nem o sentido da cruz. Mas ajuda os fiéis e entenderem que a cruz só tem sentido por causa do crucificado. Cremos que ele era Deus. A cruz na qual ele morreu não era nem é. 
*** 
Optei por não cantar: Ó Cruz, nós te adoramos, ou ó Cruz, tu nos salvarás. Se me pedem para cantar, eu mudo para: Jesus, nós te adoramos ou: Na cruz, Tu nos salvarás. Discordo de muitos colegas que jamais explicam. Dou a eles o direito de discordarem de mim. Mas, que o debate deve ser feito, deve! 

Dias atrás uma senhora me trouxe uma mão de cera pedindo que a benzesse, porque era a mão de Jesus. Perguntei se não queria um crucifixo, que seria bem mais bíblico, porque mostrava Jesus no seu ato supremo de amor por nós. Ela se negou. Queria aquela mão manchada de sangue, porque era a mão que abençoava sua família. De nada adiantou minha catequese. Ela veio vacinada e foi embora vacinada contra explicações que não confirmassem o seu jeito de crer. 

*** 
Querem saber se benzi aquela mão? Não. Percebi, pela maneira como ela se expressou, que aquele objeto tinha virado fetiche. Ela atribuía poder à aquele objeto. Não tinha sentido catequético. Um outro padre o fez e ele agora é o mais novo herói daquela católica que não aceita nenhuma catequese oficial. Tem que ser do jeito dela. 

Ela me lembra uma outra senhora que me pediu para depositar no cofre de moedas de São Judas, em São Paulo, uma nota de um cruzeiro, quando já era o tempo do real. Expliquei-lhe que aquilo não ajudaria obra nenhuma. E ela retrucou com aspereza: - Ponha lá e cale a boca! Quando eu quiser ouvir aulas de catecismo, eu vou procurar uma escola. Sua função é atender a fé dos fiéis... 
Quem ouviu balançou a cabeça. Olhei para o teto, respirei fundo, pequei a nota e a pus no cofre, porque ela não podia esperar na fila. Imagino que São Judas no céu tenha dado um sorriso. Orei por ela e por católicos que acham que não têm mais nada que aprender. Afinal 30 ou 40 anos de estudos pelo visto não valem nada diante de uma fé sem livros, mas absolutamente certa... 
Pe Zezinho scj 
www.padrezezinhoscj.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário