A Igreja professa a fé na Comunhão dos Santos, pois cremos que existe uma comunhão entre o Céu e a Terra. Os santos do Céu podem interceder por nós, já que estão mais próximos de Deus, como nos diz S. Teresinha: “Passarei o meu Céu fazendo o bem a Terra.” Nós também podemos orar pelos que já partiram, pedindo que tenham a graça de darem o último passo na sua conversão rumo à plenitude no Céu.
Hoje celebramos todos os santos. Não somente aqueles que são canonizados, ou seja, reconhecidos pela Igreja como tais. Mas todos aqueles que já estão na glória de Deus, que participam da santidade de Deus são santos. Entre eles estão mães e pais de família, trabalhadores simples, jovens sinceros, crianças; estão pessoas de todas as classes, línguas e crenças. Por isso, a primeira leitura fala de uma multidão de redimidos que estão “... de pé diante do trono do Cordeiro...” (Ap 7,10). Trata-se de uma grande multidão: os 144 mil representam uma totalidade, provavelmente simbolizam a multidão do AT e do NT, já que 12 são as tribos de Israel e 12 são os apóstolos, multiplicados por 1000. Ou seja, representam uma grande quantidade de pessoas (12X12X1000).
A princípio só Deus é Santo: Ele é perfeito, sem pecado. Mas, Deus nos quer santos: “Sede santos, como o vosso Pai do Céu é santo!” Ao olhar para o Céu, vemos aquilo que nós desejamos ser. Os santos do Céu já são aquilo que nós queremos ser – nós devemos almejar a santidade, almejar o Céu. “Para essa cidade caminhamos, pressurosos, peregrinando na penumbra da fé.” (Prefácio). A segunda leitura nos fala que seremos semelhantes ao próprio Deus. Seremos ressuscitados como Cristo, gloriosos, plenamente felizes. Vivemos animados pela esperança do que ainda seremos, alegres porque a nossa vida limitada será transformada, glorificada.
Para chegar à santidade plena do Céu há um caminho. As bem aventuranças são o programa de vida para se chegar a santidade. Não é apenas o caminho para se chegar ao Céu, mas o caminho para ser bem aventurado aqui e agora, ou seja, feliz. O dom da vida eterna, o dom escatológico, não cai do céu como mágica, mas pressupõe nossa colaboração.
As bem aventuranças mostram que santidade exige liberdade: o reino é dos pequenos, dos pobres de coração (desapegados que não acumulam para si), dos puros de coração (que são sinceros, não usam máscaras), dos misericordiosos (que não julgam), dos que procuram a paz, dos perseguidos pelo amor a Deus e pela fidelidade à justiça. A primeira leitura fala de uma multidão que veio da grande tribulação. Jesus também fala “bem aventurados os perseguidos”. Isso significa que por hora estamos enfrentando as vicissitudes da vida, mas seremos libertados de toda dor. Deus irá enxugar toda lágrima de nossos olhos. Na eternidade não haverá mais morte, luto, grito ou dor, pois todas estas coisas velhas passarão (cf. Ap 21,4).
É preciso uma boa catequese sobre os santos. Ainda a religiosidade popular os considera como deuses, seres divinos que concedem graças mediante novenas, promessas e rezas diversas. Deste modo, os santos são vistos como seres míticos, ficando muito distantes dos seres de carne e osso que, como eu e você, enfrentam as durezas da existência e procuram encarnar na vida o jeito de viver do próprio Cristo. É preciso resgatar os santos como exemplo de virtude, como possibilidade para que também sejamos santos. Os santos da terra não têm auréolas, não têm uma face ingênua, não são desprovidos de emoções, não vestem necessariamente hábitos longos. Os santos são pessoas apaixonadas, que vivem a vida intensamente, que amam a Deus e amam as pessoas, que empregam suas energias para que o Reino de Deus aconteça. Os santos pensam no Céu, mas se preocupam, antes de mais nada, com as coisas deste mundo e com as questões humanas. Santos também pecam, mas não residem no pecado. Ser santo, portanto, não é beatice, não é ter medo de viver, não é abraçar um monte de proibições e normas, não é fugir do mundo e das realidades do dia a dia. Ser santo é viver como uma pessoa de carne e osso que leva a sério as opções de Jesus Cristo.
“Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos” (1 Jo 3,1). Ser santo não depende apenas de nossas forças, mas da graça de Deus. O princípio da santidade é a vida de Deus vivendo em nós. É o seu amor derramado em nossos corações, dado como presente, como dom. Ser santo é responder com amor ao amor de Deus.
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