No décimo segundo dia (12.º) do nascimento de Jesus, temos um tempo zodiacal perfeitíssimo: lembra-nos os doze meses da órbita da terra em torno do sol. Cumpriu-se o tempo; a todos os povos Deus se manifesta num menino frágil. Todo o universo que reconhece o Deus Menino como o Senhor, “Sol nascente que nos veio visitar”. No Brasil, no entanto, celebramos o dia de Reis, o dia da Epifania do Senhor, no domingo entre o dia 02 e 08 de janeiro, visto que aqui não é feriado o dia 06 de janeiro.
Pastoralmente, neste dia não deveremos esquecer-nos de anunciar depois da proclamação do evangelho, como nos propõe o Missal, todas as festas do Ano Litúrgico, como expressão de que Natal, Páscoa e Pentecostes formam uma unidade. Assim, a encarnação é o ponto de partida da redenção, porque consiste na transformação do homem velho em homem novo. Este anúncio é antiquíssimo e era chamada de carta heorstática no época dos Padres da Igreja. A celebração deste domingo é outro aspecto da encarnação, porque os seus efeitos têm uma dimensão universal. A Oração do Dia desta Solenidade dá-nos as duas ideias fundamentais a realçar: 1ª guiados por uma estrela Deus revela-se aos pagãos; 2ª o pedido de sermos também guiados à contemplação da glória divina.
Deus revela-se aos pagãos. Perante esta realidade, no evangelho, encontramos três posturas distintas. A primeira é a atitude de Herodes, imagem de um tirano, de um poderoso injusto e egoísta que não tem escrúpulo em fazer uma carnificina quando suspeita de algo contra ele. Com medo de perder o poder, procura eliminar quem lhe pode tirar o poder. São Mateus escreveu o seu evangelho para cristãos que tinham conhecido as três gerações da família de Herodes e este nome soava-lhes a terror como o nome de Nero para os cristãos de Roma. A segunda é a atitude dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas do povo. Eles conheciam a profecia que anunciava este acontecimento, mas não procuram como os Magos, estão como que cegos, a luz da fé não ilumina a sua inteligência; eles esperavam um Messias poderoso (não o entendiam na pobreza); eles não viram a estrela como também toda a cidade de Jerusalém. A terceira é a atitude dos Magos que são a imagem de todos os homens e mulheres que procuram a fé. Na realidade que os rodeiam, procuram o sentido que explique as suas vidas. Apesar de virem de longe, não quer dizer que tenham valores diferentes das nossas tradições. A fé trespassa o local geográfico e abre-se ao universo. Deus também lhes fala através de sinais (neste caso por uma estrela), para que procurem o sentido das suas vidas. Os Magos são a expressão de todos aqueles que têm o coração aberto para acreditar e confiar, dispostos a fazer caminho que pode ser muito longo, sendo necessário, por vezes, vencer vários obstáculos. Quantos se questionam ao ver a luz de homens e mulheres que seguindo Jesus Cristo, longe de todo o sinal de poder, estão próximas dos outros, amando e servindo. O sinal e a luz de Jesus Cristo é para todo o mundo, é universal.
Os protagonistas do evangelho deste domingo são os Magos, mas o centro e o objetivo é Jesus: Deus Encarnado, o Messias que hoje é visitado pelos magos. Diz o evangelho que “prostrando-se diante d’ Ele, adoraram-No”, oferecendo-lhe ouro como rei, incenso como Deus e mirra como homem. Os Magos têm a única atitude cristã perante Jesus: adorar Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Adora-se Deus, devido à sua infinita grandeza. Cada ato litúrgico tem este sentido, apesar de nele reconhecermos a nossa fraqueza e limitação diante de Deus que nos criou. Por isso, somos convidados a imitar os Magos: reconhecer em Jesus a sua grandeza, expressa nas manifestações do seu mistério, desde o nascimento, da sua vida privada em Nazaré e depois na sua vida pública, no sofrimento, na morte, ressurreição e ascensão à glória.
Como os Magos, teremos de aprender a ver a estrela, ou seja, Deus, em todos os lugares: ver na natureza as marcas da sua presença, porque Ele a criou e a colocou ao serviço da humanidade. Para adorar a Deus, temos também de ter em conta todos aqueles acontecimentos que nos põem à prova e nos tentam a “fugir” de Deus, como aconteceu com os Magos que não se iludiram com o desejo “hipócrita” do rei Herodes. Há que deixar bem claro que Deus tem de ser sempre o primeiro, Aquele que tem a primazia, Aquele por quem procuramos, pondo-nos a caminho ao seu encontro. Encontrando-O, como aconteceu aos Magos, Deus torna-se próximo de nós, como um menino nos braços de sua mãe. Também a atitude dos Magos nos diz que a adoração deve expressar um sentimento interior, através de um gesto corporal: a adoração não é um ato intelectual, mas supõe toda a vida, a cabeça, o corpo, o coração. Finalmente, a adoração torna-se mais profunda à medida que o conhecimento de Deus vai progredindo. A adoração é um conhecimento amoroso que fará crescer o desejo de servir o Senhor até à adoração plena e definitiva.
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