DISCURSO
Audiência com a Comunidade da Pontifícia Academia Eclesiástica
Sala Clementina do Palácio Apostólico
Quinta-feira, 6 de junho de 2013
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Tradução: Jéssica Marçal
Querido Irmão no Episcopado,
Queridos sacerdotes,
Queridas irmãs,
Amigos
Queridos sacerdotes,
Queridas irmãs,
Amigos
Dirijo a todos as mais cordiais boas vindas! Saúdo cordialmente o vosso presidente, Dom Beniamino Stella, e agradeço a ele pelas amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome, fazendo memória das visitas que pude fazer em sua Casa no passado. Recordo também a cordial insistência com a qual Dom Stella me convenceu, agora há dois anos, a enviar à Academia um sacerdote da arquidiocese de Buenos Aires! Dom Stella sabe bater à porta! Um grato pensamento dirijo também aos seus colaboradores, às Irmãs e ao pessoal que oferecem o seu generoso serviço junto à vossa comunidade.
Queridos amigos, vocês estão se preparando para um ministério de particular compromisso, que colocará vocês a serviço direto do Sucessor de Pedro, do seu carisma de unidade e comunhão e da solicitude por todas as Igrejas. O serviço que se presta na Representação Pontifícia é um trabalho que requer, como em todo tipo de ministério sacerdotal, uma grande liberdade interior, grande liberdade interior. Vivam estes anos da vossa preparação com compromisso, generosidade e grandeza de alma, a fim de que esta liberdade possa verdadeiramente tomar forma em vocês!
Mas o que significa ter liberdade interior?
Antes de tudo significa ser livre de projetos pessoais, ser livre de projetos pessoais, de algumas das modalidades concretas com as quais talvez um dia vocês pensaram viver o vosso sacerdócio, da possibilidade de programar o futuro; da perspectiva de permanecer por mais tempo em “vosso” lugar de ação pastoral. Significa tornar-se livres, em qualquer modo, também em relação à cultura e à mentalidade da qual vocês provêm, não para esquecê-la e muito menos para renegá-la, mas para se abrirem, na caridade, à compreensão de culturas diferentes e ao encontro com homens pertencentes a mundos também muitos distantes dos seus. Sobretudo, significa vigiar para ser livres da ambição ou aspirações pessoais, que tanto mal podem fazer à Igreja, tendo cuidado de colocar sempre em primeiro lugar não a sua realização ou o reconhecimento que vocês poderiam receber dentro ou fora da comunidade eclesial, mas o bem superior da causa do Evangelho e a realização da missão que lhes será confiada. E este ser livre de ambições ou objetivos pessoais para mim é importante, é importante. O carreirismo é uma lepra, uma lepra. Por favor: nada de carreirismo. Por este motivo, vocês devem estar dispostos a integrar a vossa visão de Igreja, mesmo legítima, cada ideia pessoa ou juízo, no horizonte do olhar de Pedro e da sua peculiar missão ao serviço da comunhão e da unidade do rebanho de Cristo, da sua caridade pastoral, que abraça o mundo inteiro e que, graças à ação das Representações Pontifícias, deseja estar presente, sobretudo, naqueles lugares, muitas vezes esquecidos, onde são grandes as necessidades da Igreja e da humanidade.
Em uma palavra, o ministério ao qual vocês se preparam – porque vocês se preparam para um ministério! Não a uma profissão, a um ministério – este ministério requer de vocês um sair de si mesmo, um destacar-se de si mesmo que pode ser alcançado somente através de um intenso caminho espiritual e uma séria unificação da vida ao redor ao ministério de amor de Deus e ao insondável desígnio do seu chamado. Na luz da fé, nós podemos viver a liberdade dos nossos projetos e da nossa vontade não como motivo de frustração ou de esvaziamento, mas como abertura ao dom transbordante de Deus, que torna fecundo o nosso sacerdócio. Viver o ministério a serviço do Sucessor de Pedro e das Igrejas às quais sereis enviados poderá parecer exigente, mas permitirá a vocês, por assim dizer, ser e respeitar no coração da Igreja, da sua catolicidade. E isto constitui um dom especial, porque, como recordava propriamente à vossa comunidade o Papa Bento XVI, “aonde há abertura à objetividade da catolicidade, ali há também o princípio de autêntica personalização” (Discurso à Pontifícia Academia Eclesial, 10 de junho de 2011).
Tenham grande cuidado com a vida espiritual, que é a fonte da liberdade interior. Sem oração não há liberdade interior. Vocês podem fazer tesouro precioso dos instrumentos de conformidade a Cristo propriamente da espiritualidade sacerdotal, cultivando a vida de oração e fazendo do vosso trabalho cotidiano a academia da vossa santificação. Eu gosto de recordar aqui a figura do Beato João XXIII, do qual celebramos há poucos dias o quinquagésimo aniversário de morte: o seu serviço como Representante Pontifício foi um dos âmbitos, e não o menos significativo, nos quais a sua santidade tomou forma. Relendo os seus escritos, impressiona o cuidado que ele sempre coloca no seu cuidar da própria alma, em meio às mais variadas ocupações no campo eclesial e político. Daqui nasciam a sua liberdade interior, a alegria que transmitia externamente e a própria eficácia de sua ação pastoral e diplomática. Assim escrevia no Diário da Alma, durante os Exercícios espirituais de 1948, enquanto era Núncio em Paris: “Mais me faço maduro de anos e de experiência, e mais reconheço que o caminho mais seguro para a minha santificação pessoal e para o melhor sucesso do meu serviço da Santa Sé, permanece o esforço vigilante de reduzir tudo, princípios, endereços, posições, deveres, ao máximo de simplicidade e de calma; com a atenção de podar sempre da minha vinha aquilo que é somente folhagem inútil… e andar direto àquilo que é verdade, justiça, caridade, sobretudo caridade. Qualquer outro sistema para fazer, não se levantando e olhando para a afirmação pessoal, que logo se torna pesado e ridículo” (Cinisello Balsamo 2000, p. 497). Ele queria podar a sua vinha, afugentar a folhagem, podar. E alguns anos depois, junto ao término do seu longo serviço como Representante Pontifício, agora Patriarca de Veneza, assim escrevia: “Agora eu me encontro em pleno ministério direto da alma. Em verdade eu sempre acreditei que para um eclesiástico a diplomacia assim dita deve sempre ser permeada de espírito pastoral; caso contrário não conta nada e torna ridícula uma missão sagrada” (ibid., pp. 513-514). E isto é importante. Ouçam bem: quando na Nunciatura há um Secretário ou Núncio que não vai pelo caminho da santidade e se deixa envolver nas tantas formas, nas tantas maneiras de mundanismo espiritual se torna ridículo e todos riem dele. Por favor, não se tornem ridículos: ou santos ou retornem para as dioceses para ser pároco; mas não sejam ridículos na vida diplomática, onde para um sacerdote há tantos perigos para a vida espiritual.
Uma palavra gostaria de dizer também às Irmãs – obrigado! – que desenvolvem com espírito religioso e franciscano o seu serviço cotidiano em meio a vós. São aquelas boas Mães que vos acompanham com a oração, com as suas palavras simples e essenciais e, sobretudo, com o exemplo de fidelidade, de dedicação e de amor. Junto a elas gostaria de agradecer os leigos que trabalham na Casa. São presença escondida, mas importante e que permite a vocês viver com serenidade e compromisso o vosso tempo na Academia.
Queridos sacerdotes, desejo-vos levar o serviço à Santa Sé com o mesmo espírito do Beato João XXIII. Peço-vos para rezar por mim e confio-vos à proteção da Virgem Maria e de Santo Antônio Abade, vosso patrono. Acompanhe-vos a segurança do meu pensamento e a minha benção, que de coração estendo a todas as pessoas a vós queridas. Obrigado.
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