quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Beleza e a Dignidade na Liturgia Eucarística - parte final

VI – O Altar: O altar, onde se torna presente o sacrifício da cruz, é símbolo do próprio Cristo, ‘sacerdote, altar e cordeiro’. Portanto, na Igreja, goza de alta dignidade, sendo o centro da ação litúrgica. O missal pede que, nas igrejas, haja sempre um altar fixo, que simboliza perenemente a pedra viva que é Jesus Cristo. Deve ser construído de forma que, espontaneamente, sejam voltadas para ele as atenções.
Como sinal da dignidade do altar, é louvável que seja ornamentado com flores, manifestando o caráter festivo da celebração. Entretanto, deve-se observar a moderação, sobretudo em tempos de penitência e espera, como o são a quaresma e o advento. O missal diz, ainda, que deve ser coberto com uma toalha branca. Ressaltando a necessidade de que o conjunto da celebração forme uma bela harmonia, diz que a toalha deve combinar em formato, tamanho e decoração com o altar.

VII – Os livros litúrgicos: Também merecem menção os livros litúrgicos utilizados na celebração. Entre eles, lecionário e evangeliário merecem destaque, por serem sinais da palavra de Deus. Portanto, requerem beleza na sua feitura e merecem sinais de veneração, como o beijo e a incensação. Os “livros de onde se tiram as leituras da palavra de Deus sejam verdadeiramente dignos, decorosos e belos” (Lecionário Dominical - Elenco das leituras da missa, 35).

VIII – A nobreza dos vasos sagrados: “Entre as coisas necessárias para a celebração da missa, honram-se especialmente os vasos sagrados e, entre eles, o cálice e a patena, onde se oferecem, consagram e consomem o vinho e o pão” (IGMR, 327). Devido a grande importância dos vasos que se utilizam na celebração, mormente os que ficam em contato com o Corpo e o Sangue do Senhor, devem ser feitos de material nobre e condizente com a dignidade da função que desempenham.
As normas litúrgicas são enfáticas ao destacar a necessidade de que os vasos litúrgicos sejam verdadeiramente artísticos, e que sejam feitos de material nobre: “Sem dúvida, requer-se estritamente que este material, de acordo com a comum valorização de cada região, seja verdadeiramente nobre, de maneira que, com seu uso, tribute-se honra ao Senhor e se evite absolutamente o perigo de enfraquecer, aos olhos dos fiéis, a doutrina da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas. Portanto, reprove-se qualquer uso, para a celebração da Missa, de vasos comuns ou de escasso valor, no que se refere à qualidade, ou carentes de todo valor artístico, ou simples recipientes, ou outros vasos de cristal, argila, porcelana e outros materiais que se quebram facilmente. Isto vale também para os metais e outros materiais, que se corroem (oxidam) facilmente” (Congregação para o Culto Divino e a Disciplina Dos Sacramentos – Instrução Redemptionis Sacramentum, 117).

IX – As vestes sagradas: “A veste litúrgica usada pelo sacerdote durante a celebração eucarística deve, em primeiro lugar, demonstrar que ele não se encontra lá em privado, mas que está lá em lugar de alguém – de Cristo. O seu privado e individual devem desaparecer, a fim de ceder espaço a Cristo” (RATZINGUER, Joseph. Introdução ao Espírito da Liturgia. Prior Velho, Portugal. Paulinas, 2006. Pág 159). Cada veste que se utiliza na celebração eucarística possui simbolismo próprio, manifestando um caráter do mistério pascal. Portanto, é necessário que sejam feitas com qualidade, e que não sejam abandonadas mesmo aquelas que não são obrigatórias, mormente, no Brasil, a casula, que é uma veste própria do sacerdote que celebra a missa, simbolizando a Cruz de Cristo, o fardo que o sacerdote, também pelos fiéis, carrega em seus ombros. É uma veste muito simbólica do sacrifício de Cristo e do valor incomparável do sacerdote.
Segundo o missal, convém que a dignidade das vestes sacras transpareça não da ‘multiplicidade de ornatos’, de enfeites demasiados, mas principalmente da forma e do material dos quais são feitas. Convém, portanto, que sejam feitas conforme o modelo tradicional, aprovado pela Igreja, e não a partir da imaginação livre, embora a Sé romana reconheça a liberdade de cada região, desde que convenham ao uso sagrado (Cf. IGMR, 343-344).

X – Luzes, cheiros e sons: A liturgia, organicamente desenvolvida, envolve os sentidos corporais na celebração, contribuindo sobremaneira para comunicar as realidades celestes. Apesar de não fazerem parte, essencialmente, da celebração eucarística – e por isso mesmo vão sendo abolidos silenciosamente do culto – velas, incenso e campainhas agregam beleza e significado à liturgia.
São obrigatórios, pelas rubricas, apenas dois castiçais. Entretanto, permitem-se quatro ou seis, conforme a solenidade, e até sete quando é o bispo diocesano a celebrar. Apesar disso, em muitos lugares, utiliza-se apenas um, como ‘decoração’, não dando valor ao seu significado. “Os castiçais requeridos pelas ações litúrgicas para a celebração manifestem a reverência e o caráter festivo da celebração” (IGMR, 307).
A campainha é outro artefato litúrgico que, infelizmente, passou a ser considerado “antigo”, “sem sentido”, “retrógrado” e afins. O dispositivo com um conjunto de sinos, que recebe diversos nomes, possuiu lugar cativo na liturgia durante anos, sempre sinalizando o milagre eucarístico, os hinos de glória, a alegria das procissões. Hoje, infelizmente, o som marcante que multidões se acostumaram a ouvir enquanto Cristo, na hóstia santa, era elevado, está desaparecendo silenciosamente (literalmente) das igrejas. Sem dúvidas, esse belo som das campainhas concorre para a nobreza da celebração, salientando suas características.
Desde os tempos bíblicos, a incensação significa reverência e oração para as pessoas ou objetos. Significa também a adoração às espécies consagradas. “O modo suave, natural e materno como o turíbulo difunde o perfume do incenso pelos vários espaços do recinto sagrado é semelhante ao modo natural, suave e materno com que a Igreja fala a seus filhos. Ele se sentem conquistados pela maternalidade do turíbulo. (...) Tudo o que a Igreja faz, o faz com beleza” (Plínio Corrêa de Oliveira in Catolicismo, nº 544 – abril de 1996). Ademais, a IGMR prevê que “o incenso pode ser usado facultativamente em qualquer tipo de Missa” (nº 276). O modo tradicional de incensar, principalmente as oferendas – em forma de três cruzes e três círculos, traduz bem a reverência com as coisas sagradas.
“A liturgia não vive de surpresas ‘simpáticas’, de intervenções ‘cativantes’, mas de repetições solenes” (RATZINGUER, J/ MESSORI, V. – A Fé... Pág. 94). De modo algum, a beleza e a solenidade da liturgia são um problema para o povo fiel, e nem mesmo um empecilho à actuosa partcipatio de que fala o Concílio Vaticano II. Através da beleza e da solenidade da celebração eucarística se encontram as verdades celestes, e a força para continuar a caminhada na fé. A Liturgia é a identidade do católico, devendo ser reconhecível em todos os confins da terra. “Também por isso ela deve ser ‘predeterminada’, ‘imperturbável’, porque através do rito se manifesta a santidade de Deus. Ao contrário, a revolta contra aquilo que foi chamado ‘a velha rigidez rubricista’, (...) arrastou a liturgia ao vórtice do ‘faça-você-mesmo’, banalizando-a, porque reduzindo-a à nossa medíocre medida” (Idem, ibidem, pág. 95).
Sem dúvida, o maior e melhor exemplo para a beleza e solenidade das celebrações litúrgicas é a Virgem Maria, Tota Pulchra, Toda Formosa. Cheia da graça e da glória de Deus, Ela é a estrela a guiar a Igreja. “A beleza da liturgia celeste, que deve refletir-se também em nossas assembléias, encontra nela um espelho fiel” (Sua Santidade, Bento XVI - Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, 96). Que a Mãe de Deus “renove na nossa vida o enlevo eucarístico pelo esplendor e a beleza que refulgem no rito litúrgico, sinal da própria beleza infinita do mistério santo de Deus” (Idem, Ibidem, 97). A liturgia terrena, a exemplo da Virgem Santíssima, possa deixar transparecer a liturgia celeste, manifestando a glória divina por sua nobre simplicidade, e como o deseja a Igreja, una e santa.

Autor: Matheus Roberto Garbazza Andrade
Publicação original: Dezembro de 2008
Extraído de: http://www.sociedadecatolica.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=325


Um comentário:

  1. Olá! É sempre uma alegria visitar seu blog e ver tantas novidades boas.
    Neste mês de maio, que a exemplo de Maria, Mãe da Igreja, ... Possamos todos sentir mais fome e sede de justiça, fome e sede de servir sempre mais.
    Grande abraço na Paz e no Amor de Cristo. Aguardo sua visitinha em nosso blog.

    Reinaldo Fonseca
    Paróquia São Pedro e São Paulo
    http://www.pspedrogpuava.blogspot.com.br/

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